25 de maio de 2012

Economia e Política Econômica
A produtividade precisa aumentar


  

 
O Brasil precisa ampliar e tornar mais regular os ganhos de produtividade em sua economia como meio de acelerar o seu desenvolvimento. Toda a produção de um país é, em boa medida, o resultado da combinação de capital físico, capital humano, trabalho e terra, ou seja, é a combinação dos seus fatores de produção. O crescimento do PIB de um país advém, em parte, da expansão desses fatores, ou ainda, da acumulação de capital, da qualificação da mão-de-obra, ou mesmo do crescimento demográfico e da expansão da fronteira agrícola.

A produtividade dos fatores de produção desempenha papel fundamental no crescimento de um país, sobretudo porque ela é uma das chaves da competitividade. A produtividade média de um fator de produção corresponde ao número de unidades de produto por unidade empregada desse mesmo fator. Quanto mais produto um país obtém, por exemplo, de um fator de produção, seus custos relativos àquele fator de produção ficam menores e, por isso, ele pode se tornar mais competitivo.

Vale notar que comparar a produtividade dos países não é algo trivial. Em primeiro lugar, deve-se definir de qual produtividade se trata. Por exemplo, um país pode utilizar de modo mais eficiente seu capital, enquanto outro país é mais eficiente na utilização de sua mão-de-obra ou de sua terra. O país considerado mais produtivo dependerá de qual fator de produção está sendo considerado. Assim, para comparar a eficiência relativa entre economias utiliza-se o conceito de Produtividade Total dos Fatores – PTF, a qual pode ser definida como o quociente entre o valor do produto e a soma ponderada dos fatores de produção.

Portanto, a PTF é uma fonte importante do crescimento econômico, a qual possibilita que uma economia produza mais com o mesmo montante de recursos, na medida em que os combina de forma mais eficiente. Neste estudo, a PTF é estimada a partir da evolução do estoque de capital e da força de trabalho e será decomposta em três componentes: (i) o progresso tecnológico, expresso pelo desenvolvimento de novos produtos e processos de produção, ou ainda, é a incorporação de novas tecnologias ou a conquista de uma inovação; (ii) os ganhos de escala, os quais estão relacionados às economias geradas com o crescimento do volume de negócios; e (iii) as melhorias de eficiência técnica, associadas ao pleno emprego dos fatores de produção disponíveis.

A partir de uma amostra de 100 países obtida em “Penn World Tables (PWT), versões 6.1 e 7.0.”, as estimativas obtidas neste estudo mostram que a evolução da PTF ao longo do período analisado (1950-2009) é bastante diferenciada. Em linhas gerais, pode se observar que nos anos iniciais, no período assim chamado “anos de ouro do capitalismo” (pós Segunda Guerra Mundial até o início dos anos 1970), a PTF evoluiu a taxas crescentes tanto nos países da Europa e América do Norte como na América Latina e alguns países da Ásia. Nos anos 1980, há uma nítida perda de ritmo da PTF; de fato, uma mudança de patamar das taxas de crescimento para muitos países. São os anos de crise da dívida externa dos países da América Latina e de guerras civis em países da África. A partir desse período, a produtividade volta a crescer com mais ímpeto, mas não para todos os países da amostra.

As estimativas possibilitaram acompanhar a evolução da PTF de todos os 100 países nessas últimas décadas. O ranking de países no período 1950-2009 é o seguinte: no topo, com a maior taxa média de variação aparece o Japão – crescimento médio anual de 2,46%. Em seguida, aparece a China com taxa média anual de 2,27%. Na comparação com o Japão e outros países da amostra o comportamento da PTF da China é nitidamente distinto: cresce a taxas menores nas três primeiras décadas e dá um salto espetacular nas três décadas seguintes.

No terceiro posto do ranking da PTF aparece os Estados Unidos, com taxa média de variação de 1,90% a.a.. Em quarto lugar, com taxa de variação da PTF de 1,72% a.a. encontra-se a Espanha, graças à sua evolução nos anos 1950 e 1960. Em seguida, a Coreia do Sul, cuja taxa de crescimento foi de 1,70% a.a., em média, ao longo do período em tela. Em sexto e sétimo lugares, outros dois países europeus: Itália e França. Com trajetórias parecidas, as taxas de variação média anual da PTF da Itália e da França ficam em 1,67% e 1,63%, respectivamente. Na oitava e nona posições estão dois países nórdicos, Finlândia e Noruega, 1,41% a.a. e 1,40% a.a.. No caso da Finlândia, o forte ganho de produtividade aparece nos anos 1950, quando o País começa um forte processo de urbanização e revigoramento de sua economia, que havia sido bastante debilitada pela Segunda Guerra Mundial. Na Noruega, o aumento da produtividade se mantém mais estável com crescimentos médios anuais que podem ser considerados elevados. Fechando o ranking dos dez primeiros colocados, encontra-se o Canadá, cuja PTF aumentou a uma taxa média anual igual a 1,38% ao longo dos anos que vão de 1950 a 2009. Marcante na evolução da PTF canadense é também sua relativa constância e, nesse sentido, se assemelha ao padrão de Finlândia e Noruega e também dos Estados Unidos, embora nesse último caso, a evolução da produtividade seja maior.

Uma ausência sentida nos dez primeiros classificados supracitados é a Alemanha, em decorrência da ausência de dados para a Alemanha reunificada. A variação média anual da PTF alemã para o período 1971-2009, para o qual se dispõe de dados foi de 1,27%, o que a coloca na 17ª colocação. Mesmo assim, nas décadas de 1970 e 1980, a PTF alemã foi relativamente elevada: 1,74% a.a. e 1,57% a.a., respectivamente.

E o Brasil? Qual é a classificação da PTF do Brasil entre os 100 países da amostra? A taxa de variação média anual da PTF brasileira aparece na 11ª colocação. Muito próxima da do Canadá, a evolução da produtividade no Brasil no período 1950-2009 (de 1,33% a.a., em média) tem especificidades notáveis que ajudam a explicar esse posicionamento. Vale assinalar que o Brasil apresentou bons resultados nas décadas de 1950 e 1960 (1,60% e 1,74%, respectivamente) e teve um grande diferencial nos anos 1970 (2,13%), período em que a economia mais se industrializou, valendo-se dos excepcionais resultados do “milagre econômico” e da implementação do II PND. Esse é o principal resultado que elevou a média da PTF no Brasil ao longo dos anos 1950-2009.

No período mais recente (2001-2009), no qual a maioria dos países apresentou fraco desempenho da PTF, o Brasil passou a colher os frutos da ampliação do mercado interno consumidor e dos investimentos públicos e privados. Cabe notar que mesmo tendo melhorado, 18 países obtiveram avanços de produtividade superiores ao índice brasileiro. O resultado da década passada (1,32%) melhorou significativamente após fracos índices nas duas décadas anteriores, especialmente na “década perdida” de 1980 (0,35% e 1,16%, respectivamente nos anos 1980 e 1990). Na década passada, o mesmo movimento de ampliação dos ganhos de produtividade verificado no Brasil pode ser observado nos demais países do BRIC, vale dizer, Índia, cuja variação da PTF passou de 1,53% na década de 1990 para 2,05% no período 2001-2009, na Rússia, de 0,69% para 1,57%, enquanto na China se mantinha em nível elevadíssimo (4,70% e 3,74% nas décadas de 1990 e 2000, respectivamente).

Portanto, na média dos últimos 60 anos, a variação da PTF no Brasil pode ser considerada “razoável” ou mesmo “boa” já que no contexto de 100 países foi a 11º maior. O mesmo pode ser dito para o índice referente à última década. Este melhorou significativamente com relação às duas décadas passadas e permitiu que o país se posicionasse como a 19ª melhor marca.

Assim, segundo os resultados do estudo, o Brasil após a segunda guerra mundial foi participante com algum destaque no contexto mundial, sobretudo nas três primeiras décadas desse período. Contudo, o que deve ser também levado em conta é que, nessa matéria, ter “algum destaque” no cenário internacional não basta para que um país transite da condição de subdesenvolvimento (ou de “país em desenvolvimento”) para a condição de economia desenvolvida. Certas experiências devem ser ressaltadas para evidenciar que o Brasil precisa acelerar o passo e ganhar mais regularidade em termos de ganhos de produtividade.

Mesmo países que haviam experimentado industrialização e crescimento da renda per capita expressivos com antecedência à segunda guerra mundial, como no caso, sobretudo, dos EUA, mas também dos países europeus, no período do pós-guerra os importantes ganhos de produtividade serviram para consolidar e ampliar o desenvolvimento. No caso dos EUA, o crescimento da produtividade foi forte em todo o período, superando largamente o índice brasileiro (exceção para a década de 1970). No caso dos países europeus, estes aproveitaram o dinamismo econômico das duas primeiras décadas do período para obterem ganhos acentuados de produtividade, como nos casos de Espanha, Itália e França. Outro “modelo” europeu reúne evolução da produtividade em menor intensidade (porém, ainda assim significativa) e alta regularidade nessa evolução. Inclui Finlândia, Noruega, além do Canadá.

Em um terceiro “modelo”, explosões de produtividade permitiram que alguns países entrassem no grupo do desenvolvimento no espaço de algumas décadas. Foi principalmente o modelo do Japão durante os quarenta anos que vão de 1951 a 1990 e, em escala menor, da Coreia do Sul (nos anos 1960, 1980 e 1990) e notabiliza ainda o mais recente fenômeno de industrialização que é a China. Nesse caso, taxas de variação média anual da produtividade próximas a 4% vêm prevalecendo nas três últimas décadas. O Brasil nem teve explosões duradouras de produtividade (somente na década de 1970), nem manteve no período como um todo uma regularidade de elevações da produtividade como outros países fizeram. Ampliar e tornar mais regular os ganhos de produtividade é uma necessidade para que o Brasil alcance mais rapidamente o desenvolvimento.

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