O Brasil precisa ampliar e tornar mais regular os ganhos de produtividade
em sua economia como meio de acelerar o seu desenvolvimento. Toda
a produção de um país é, em boa medida,
o resultado da combinação de capital físico,
capital humano, trabalho e terra, ou seja, é a combinação
dos seus fatores de produção. O crescimento do PIB
de um país advém, em parte, da expansão desses
fatores, ou ainda, da acumulação de capital, da
qualificação da mão-de-obra, ou mesmo do
crescimento demográfico e da expansão da fronteira
agrícola.
A produtividade
dos fatores de produção desempenha papel fundamental
no crescimento de um país, sobretudo porque ela é
uma das chaves da competitividade. A produtividade média
de um fator de produção corresponde ao número
de unidades de produto por unidade empregada desse mesmo fator.
Quanto mais produto um país obtém, por exemplo,
de um fator de produção, seus custos relativos àquele
fator de produção ficam menores e, por isso, ele
pode se tornar mais competitivo.
Vale notar
que comparar a produtividade dos países não é
algo trivial. Em primeiro lugar, deve-se definir de qual produtividade
se trata. Por exemplo, um país pode utilizar de modo mais
eficiente seu capital, enquanto outro país é mais
eficiente na utilização de sua mão-de-obra
ou de sua terra. O país considerado mais produtivo dependerá
de qual fator de produção está sendo considerado.
Assim, para comparar a eficiência relativa entre economias
utiliza-se o conceito de Produtividade Total dos Fatores –
PTF, a qual pode ser definida como o quociente entre o valor do
produto e a soma ponderada dos fatores de produção.
Portanto,
a PTF é uma fonte importante do crescimento econômico,
a qual possibilita que uma economia produza mais com o mesmo montante
de recursos, na medida em que os combina de forma mais eficiente.
Neste estudo, a PTF é estimada a partir da evolução
do estoque de capital e da força de trabalho e será
decomposta em três componentes: (i) o progresso tecnológico,
expresso pelo desenvolvimento de novos produtos e processos de
produção, ou ainda, é a incorporação
de novas tecnologias ou a conquista de uma inovação;
(ii) os ganhos de escala, os quais estão relacionados às
economias geradas com o crescimento do volume de negócios;
e (iii) as melhorias de eficiência técnica, associadas
ao pleno emprego dos fatores de produção disponíveis.
A partir de
uma amostra de 100 países obtida em “Penn World
Tables (PWT), versões 6.1 e 7.0.”, as estimativas
obtidas neste estudo mostram que a evolução da PTF
ao longo do período analisado (1950-2009) é bastante
diferenciada. Em linhas gerais, pode se observar que nos anos
iniciais, no período assim chamado “anos de ouro
do capitalismo” (pós Segunda Guerra Mundial até
o início dos anos 1970), a PTF evoluiu a taxas crescentes
tanto nos países da Europa e América do Norte como
na América Latina e alguns países da Ásia.
Nos anos 1980, há uma nítida perda de ritmo da PTF;
de fato, uma mudança de patamar das taxas de crescimento
para muitos países. São os anos de crise da dívida
externa dos países da América Latina e de guerras
civis em países da África. A partir desse período,
a produtividade volta a crescer com mais ímpeto, mas não
para todos os países da amostra.
As estimativas
possibilitaram acompanhar a evolução da PTF de todos
os 100 países nessas últimas décadas. O ranking
de países no período 1950-2009 é o seguinte:
no topo, com a maior taxa média de variação
aparece o Japão – crescimento médio anual
de 2,46%. Em seguida, aparece a China com taxa média anual
de 2,27%. Na comparação com o Japão e outros
países da amostra o comportamento da PTF da China é
nitidamente distinto: cresce a taxas menores nas três primeiras
décadas e dá um salto espetacular nas três
décadas seguintes.
No terceiro
posto do ranking da PTF aparece os Estados Unidos, com taxa média
de variação de 1,90% a.a.. Em quarto lugar, com
taxa de variação da PTF de 1,72% a.a. encontra-se
a Espanha, graças à sua evolução nos
anos 1950 e 1960. Em seguida, a Coreia do Sul, cuja taxa de crescimento
foi de 1,70% a.a., em média, ao longo do período
em tela. Em sexto e sétimo lugares, outros dois países
europeus: Itália e França. Com trajetórias
parecidas, as taxas de variação média anual
da PTF da Itália e da França ficam em 1,67% e 1,63%,
respectivamente. Na oitava e nona posições estão
dois países nórdicos, Finlândia e Noruega,
1,41% a.a. e 1,40% a.a.. No caso da Finlândia, o forte ganho
de produtividade aparece nos anos 1950, quando o País começa
um forte processo de urbanização e revigoramento
de sua economia, que havia sido bastante debilitada pela Segunda
Guerra Mundial. Na Noruega, o aumento da produtividade se mantém
mais estável com crescimentos médios anuais que
podem ser considerados elevados. Fechando o ranking dos dez primeiros
colocados, encontra-se o Canadá, cuja PTF aumentou a uma
taxa média anual igual a 1,38% ao longo dos anos que vão
de 1950 a 2009. Marcante na evolução da PTF canadense
é também sua relativa constância e, nesse
sentido, se assemelha ao padrão de Finlândia e Noruega
e também dos Estados Unidos, embora nesse último
caso, a evolução da produtividade seja maior.
Uma ausência
sentida nos dez primeiros classificados supracitados é
a Alemanha, em decorrência da ausência de dados para
a Alemanha reunificada. A variação média
anual da PTF alemã para o período 1971-2009, para
o qual se dispõe de dados foi de 1,27%, o que a coloca
na 17ª colocação. Mesmo assim, nas décadas
de 1970 e 1980, a PTF alemã foi relativamente elevada:
1,74% a.a. e 1,57% a.a., respectivamente.
E o Brasil?
Qual é a classificação da PTF do Brasil entre
os 100 países da amostra? A taxa de variação
média anual da PTF brasileira aparece na 11ª colocação.
Muito próxima da do Canadá, a evolução
da produtividade no Brasil no período 1950-2009 (de 1,33%
a.a., em média) tem especificidades notáveis que
ajudam a explicar esse posicionamento. Vale assinalar que o Brasil
apresentou bons resultados nas décadas de 1950 e 1960 (1,60%
e 1,74%, respectivamente) e teve um grande diferencial nos anos
1970 (2,13%), período em que a economia mais se industrializou,
valendo-se dos excepcionais resultados do “milagre econômico”
e da implementação do II PND. Esse é o principal
resultado que elevou a média da PTF no Brasil ao longo
dos anos 1950-2009.
No período
mais recente (2001-2009), no qual a maioria dos países
apresentou fraco desempenho da PTF, o Brasil passou a colher os
frutos da ampliação do mercado interno consumidor
e dos investimentos públicos e privados. Cabe notar que
mesmo tendo melhorado, 18 países obtiveram avanços
de produtividade superiores ao índice brasileiro. O resultado
da década passada (1,32%) melhorou significativamente após
fracos índices nas duas décadas anteriores, especialmente
na “década perdida” de 1980 (0,35% e 1,16%,
respectivamente nos anos 1980 e 1990). Na década passada,
o mesmo movimento de ampliação dos ganhos de produtividade
verificado no Brasil pode ser observado nos demais países
do BRIC, vale dizer, Índia, cuja variação
da PTF passou de 1,53% na década de 1990 para 2,05% no
período 2001-2009, na Rússia, de 0,69% para 1,57%,
enquanto na China se mantinha em nível elevadíssimo
(4,70% e 3,74% nas décadas de 1990 e 2000, respectivamente).
Portanto,
na média dos últimos 60 anos, a variação
da PTF no Brasil pode ser considerada “razoável”
ou mesmo “boa” já que no contexto de 100 países
foi a 11º maior. O mesmo pode ser dito para o índice
referente à última década. Este melhorou
significativamente com relação às duas décadas
passadas e permitiu que o país se posicionasse como a 19ª
melhor marca.
Assim, segundo
os resultados do estudo, o Brasil após a segunda guerra
mundial foi participante com algum destaque no contexto mundial,
sobretudo nas três primeiras décadas desse período.
Contudo, o que deve ser também levado em conta é
que, nessa matéria, ter “algum destaque” no
cenário internacional não basta para que um país
transite da condição de subdesenvolvimento (ou de
“país em desenvolvimento”) para a condição
de economia desenvolvida. Certas experiências devem ser
ressaltadas para evidenciar que o Brasil precisa acelerar o passo
e ganhar mais regularidade em termos de ganhos de produtividade.
Mesmo países
que haviam experimentado industrialização e crescimento
da renda per capita expressivos com antecedência à
segunda guerra mundial, como no caso, sobretudo, dos EUA, mas
também dos países europeus, no período do
pós-guerra os importantes ganhos de produtividade serviram
para consolidar e ampliar o desenvolvimento. No caso dos EUA,
o crescimento da produtividade foi forte em todo o período,
superando largamente o índice brasileiro (exceção
para a década de 1970). No caso dos países europeus,
estes aproveitaram o dinamismo econômico das duas primeiras
décadas do período para obterem ganhos acentuados
de produtividade, como nos casos de Espanha, Itália e França.
Outro “modelo” europeu reúne evolução
da produtividade em menor intensidade (porém, ainda assim
significativa) e alta regularidade nessa evolução.
Inclui Finlândia, Noruega, além do Canadá.
Em um terceiro
“modelo”, explosões de produtividade permitiram
que alguns países entrassem no grupo do desenvolvimento
no espaço de algumas décadas. Foi principalmente
o modelo do Japão durante os quarenta anos que vão
de 1951 a 1990 e, em escala menor, da Coreia do Sul (nos anos
1960, 1980 e 1990) e notabiliza ainda o mais recente fenômeno
de industrialização que é a China. Nesse
caso, taxas de variação média anual da produtividade
próximas a 4% vêm prevalecendo nas três últimas
décadas. O Brasil nem teve explosões duradouras
de produtividade (somente na década de 1970), nem manteve
no período como um todo uma regularidade de elevações
da produtividade como outros países fizeram. Ampliar e
tornar mais regular os ganhos de produtividade é uma necessidade
para que o Brasil alcance mais rapidamente o desenvolvimento.
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