Uma análise dos coeficientes de comércio exterior
da indústria brasileira estimados pela CNI e pela Funcex,
permite chegar a alguns pontos de muita importância:
a) a perda
de expressão do mercado de exportação para
as empresas industriais instaladas no Brasil tem sido intensa
e poderá deixar sequelas para a dinâmica da economia
doméstica;
b) está
em curso um aumento que se não é explosivo, é
regular e vigoroso da participação do produto importado
nos mercados de produtos industriais no país;
c) o forte
aumento da dependência de insumos importados para a produção
de bens industriais brasileiros pode desestruturar cadeias produtivas
inteiras instaladas no país, dentre elas as mais representativas
das etapas superiores da evolução industrial.
O coeficiente
de exportação - vale dizer, a relação
entre o quanto o país exporta em valor e o que produz sua
indústria de transformação - chegou a alcançar
21,6% após as desvalorizações de 1999 e 2002,
o que denotava uma expressiva orientação exportadora
da indústria brasileira. O ano de 2011culmina um processo
intenso de reversão da anterior abertura exportadora, com
o coeficiente de exportação retornando a um nível
de 15% que é próximo à média dos anos
finais dos 90. Este retrocesso pode representar uma menor propensão
ao investimento e mais baixo ímpeto inovador por parte
da empresa brasileira, caso o mercado interno do qual ela passa
a depender excessivamente, diminua seu dinamismo.
Certos segmentos
ainda sustentam o índice exportador médio de 15%,
a exemplo de alimentos (22%) e de setores cujos investimentos
no passado foram muito orientados para exportação,
a exemplo de celulose e papel (23,1%), metalurgia (30,2%) e aviões
e outros equipamentos de transporte (35,8%). Mas, segmentos antes
exportadores de grande ou média expressão já
estão deixando de apresentar esta condição,
como produtos de couro e calçados (25,5% em 2011 e 41%
em 2005), produtos de madeira (17,8% e 49,7%, respectivamente,
em 2011 e 2005), equipamentos de informática, produtos
eletrônicos e ópticos (9% e 21,5%), máquinas,
aparelhos e materiais elétricos (10,2% e 17,2%), máquinas
e equipamentos (19,9% e 30,8%) e veículos (12,7% e 25%).
O coeficiente
de penetração de importações que avalia
a participação em valor das importações
no mercado interno de produtos industriais, já é
de 18,5% (14,5% em 2005) e tem tendência de forte aumento
à frente a julgar pela progressão dos últimos
dois anos. Cresce muito em mercados tradicionais, como em produtos
têxteis (18,5% em 2011 contra 9,1% em 2005). Mas, o coeficiente
mostra-se particularmente alto em mercados de produtos químicos
(26,3% em 2011), produtos farmacêuticos (30,2%), produtos
de informática, eletrônicos e ópticos (51,0%),
máquinas, aparelhos e materiais elétricos (24,0%)
e máquinas e equipamentos (36,8%). Como já foi observado,
esses mercados vinham tendo muito dinamismo na economia brasileira.
Finalmente,
o coeficiente de insumos importados avalia, em valor, o peso do
insumo importado na produção industrial. Em um contexto
de perda de competitividade e valorização da moeda
a maior utilização de insumos importados foi a alternativa
mais imediata que as empresas encontraram para baratear a fabricação
de seus produtos. Não é por acaso que este coeficiente
vem aumentando celeremente nos últimos anos, em um percurso
interrompido apenas em 2009 devido à crise. O índice
global passa de 17,2% em 2005 para 22,4% em 2011, mas é
ainda mais importante avaliar o que ocorreu em alguns setores
da indústria de transformação.
Para certos
setores, os aumentos no período mais recente resultam índices
de insumos importados muito elevados, como no caso de produtos
de informática, produtos eletrônicos e ópticos
(76,7% em 2011 e 49,0% em 2005), metalurgia (46,4% e 26,2%), produtos
farmacêuticos (44,4% e 38,8%), produtos químicos
(44,1% e 28,1%) e aviões e outros equipamentos de transporte
(38,1% e 26,4%). Em outro bloco, o coeficiente subiu para níveis
altos: produtos têxteis (28,5% e 14,0%), máquinas,
aparelhos e materiais elétricos (23,1% e 18,5%), máquinas
e equipamentos (21,4% e 15,4%) e veículos (25,1% e 18,9%).
Possivelmente, um determinante cíclico tenha condicionado
em alguns casos o aumento do coeficiente de insumos importados,
mas não nos parece ser este o caso geral. A penetração
das importações através da produção
finca raízes mais profundas do que a penetração
das importações nos mercados de bens finais. Por
outro lado, as elevações dos coeficientes de insumos
importados ocorreram mais intensamente em setores de maior tecnologia
e mais representativos de revoluções industriais
recentes. Somente mudanças mais profundas na economia,
em seus padrões de custo, produtividade e competitividade,
associadas a execução de políticas industriais
poderão reacomodar este quadro.
Como solução
isolada para o déficit de competitividade da indústria
brasileira, o aumento do coeficiente de insumos importados pode
ter alcance limitado se os reais fatores que estão deprimindo
a competitividade industrial não forem atacados. Ademais,
como o maior coeficiente de importação pode empobrecer
as cadeias produtivas e retirar o poder de encadeamento que a
indústria tem sobre outros ramos da própria indústria
e sobre outros setores econômicos, pode também reduzir
o potencial de crescimento da economia.
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