Indústria e Crise
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp e ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Brasil Econômico – 07/05/2012

Os últimos dados da produção industrial do IBGE dão suporte a várias conclusões importantes sobre a economia brasileira na atualidade. Em março, a produção do setor como um todo caiu 0,5%, a mesma taxa de declínio do primeiro trimestre deste ano, relativo ao período imediatamente anterior. O índice negativo dos três primeiros meses de 2012 completa um conjunto de quatro trimestres seguidos de queda, uma demonstração de que já há algum tempo a indústria encontra-se em recessão e não em uma mera desaceleração.

Uma segunda conclusão diz respeito aos segmentos que estão liderando a recessão industrial. Se a indústria como um todo recuou 3% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o primeiro trimestre de 2011, a produção de bens duráveis regrediu 11,6% e a de bens de capital caiu 11,4%. São dados que mostram o fim de um ciclo de bens duráveis e, simultaneamente, o término de um ciclo de investimentos na economia brasileira. Daí, uma terceira conclusão é que a indústria não sofre apenas um revés devido a uma insuficiente competitividade frente ao produto importado, mas é afetada também pela deficiência da demanda efetiva que se apresenta na economia.

Mudou o fator preponderante que puxa a indústria - e a economia como um todo - para baixo, sem que a competitividade industrial tenha melhorado significativamente, muito embora a desvalorização do real esteja evitando um quadro ainda pior. Em parte, essa maior abrangência da retração deveu-se ao próprio contágio da crise industrial sobre outros setores e sobre a disposição dos bancos em manter o vigor dos seus financiamentos. O processo ainda não atinge o setor de bens-salário que se mantém protegido porque o nível de emprego na economia até agora não acompanhou o declínio da produção industrial, mas nem mesmo isso se revela agora uma certeza absoluta, já que em março último a produção industrial desse segmento diminuiu 0,8%.

Não se trata mais, portanto, de "salvar" a indústria, mas, sim, de executar políticas que revigorem as decisões de investir dos empresários, assim como as decisões de consumir bens duráveis por parte das famílias e as decisões de emprestar dos bancos que financiam os outros dois agentes.

O "choque" de juros que o governo está procurando promover no crédito das pessoas físicas e jurídicas será fator determinante para reerguer as expectativas e as decisões de gasto. Dado que as taxas do crédito no país são rígidas à baixa, as reduções da taxa Selic muito lentamente se traduzem em custo financeiro menor para o tomador final de recursos, o que amortece a intensidade do impacto da redução da taxa básica sobre as decisões dos agentes. Como, ainda, as taxas vigentes no crédito são extremamente elevadas, sua redução expressiva abrirá caminho para um novo ciclo de crédito. Não há porque o sistema financeiro perder posições e rentabilidade nesse processo se a passagem de um sistema creditício estruturado em torno a elevados spreads for conduzida de forma balanceada para um sistema em que menores spreads amparam maiores volumes de financiamento.


Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e
ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda