3 de maio de 2012

Indústria
A recuperação adiada


  

 
O desempenho desfavorável da indústria neste início de ano não é somente dado pela sua falta de competitividade. As debilidades e as incertezas que rondam as principais economias do mundo também contam. Além disso, e neste momento talvez exercendo o maior impacto negativo, a desaceleração da economia brasileira é outro fator que está inibindo uma possível retomada das atividades produtivas da indústria. A recuperação tão esperada do setor provavelmente ficará para o segundo semestre, o que compromete o crescimento da produção industrial neste ano, cuja taxa é, considerando os indicadores disponíveis, estimada em torno de 1,7%.

De acordo com o IBGE, a produção industrial caiu 0,5% em março com relação a fevereiro, na série com ajuste sazonal. Esse resultado confirma um início de ano bastante fraco da indústria brasileira: no primeiro trimestre frente a igual período de 2011, a produção industrial recuou 3,0%. Com exceção de 2009 – ano mais grave da crise internacional – essa é a maior queda para um primeiro trimestre desde 1999. Vale dizer também que tal comportamento é o oposto do observado em 2010 e 2011, quando a produção iniciou o ano com mais vigor (e depois, com se sabe, foi desacelerando).

Na comparação trimestre contra trimestre imediatamente anterior com ajuste sazonal, o que dá uma ideia da evolução na margem da produção industrial, os resultados gerais também não são animadores. A atividade produtiva da indústria vem recuando desde o segundo trimestre do ano passado e manteve-se negativa nos três primeiros meses deste ano: –0,4%, –0,8%, –1,6% e –0,5%, respectivamente, do segundo trimestre de 2011 até o presente.

O desempenho da indústria no primeiro trimestre de 2012 reflete o que vem ocorrendo nos seus grandes setores. Frente a igual período de 2011, os níveis de produção recuaram fortemente nos setores de bens de consumo duráveis (–11,6%), de bens de capital (–11,4%) denotando que há uma desaceleração intensa (senão já uma queda livre) dos ciclos de investimento e de bens duráveis, os quais em grande medida modulavam o crescimento industrial do país. Já em bens intermediários a retração foi de 1,3%. O único setor em que ocorreu aumento da produção no primeiro trimestre foi o de bens de consumo semi e não duráveis, cujo crescimento, modesto, chegou a 0,9%.

Em bens duráveis, o recuo de 11,6% no primeiro trimestre deveu-se, sobretudo, ao desempenho negativo de automóveis (–18,6%) e celulares (–19,8%), enquanto a queda de 11,4% de bens de capital refletiu a retração da produção de bens de capital para transporte (–16,3%), para energia (–22,4%), para construção (–12,6%), e para uso misto (–8,6%). Notar que a produção de bens de capital para a indústria e para a agricultura tiveram índices positivos no primeiro trimestre, com aumentos de 1,2% e 10,8%, nessa ordem. No setor de bens intermediários, sobressaiu a queda de 10,4% de têxteis utilizados como insumos. Por fim, quem segurou o setor de bens de consumo semi e não duráveis neste primeiro trimestre (0,9%, como dito acima) foi, em grande medida, o segmento de álcool e gasolina (carburantes), cuja produção cresceu 11,1% com relação ao primeiro trimestre de 2011.

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