Desdobramentos da Retração
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp
Brasil Econômico – 30/04/2012

A passagem de uma fase de crescimento para a de retração percorre uma série de etapas. A economia brasileira, que desde meados do ano passado encerrou uma expansão iniciada há sete anos, não foge à regra, muito embora apresente traços particulares. Uma mudança do ciclo econômico decorre normalmente do menor dinamismo dos setores que vinham comandando o crescimento. No caso brasileiro, o ciclo de duráveis - um dos destaques do processo anterior de expansão - passou a acusar sinais de esgotamento após a ocorrência de dois fatores que lhe haviam dado um excepcional impulso: a inclusão de dezenas de milhões de novos consumidores a partir das políticas de redistribuição de renda e a concessão de generosos incentivos fiscais e de crédito nos anos de 2009 e 2010 como meio de minimizar o contágio da economia brasileira à crise internacional.

Atingida a fase mais avançada de diversificação do consumo desses novos integrantes do mercado consumidor e tendo sido elevado o seu endividamento, a consequência tem sido o menor dinamismo das vendas desses bens, seja por decisão própria das famílias, seja porque há uma maior reticência dos bancos em financiá-las. Uma forte desaceleração das vendas de automóveis e o impacto apenas modesto da recente redução de impostos sobre as vendas de bens da linha branca dão mostra da mudança em duráveis. Outro expoente da etapa anterior também perdeu ímpeto a partir de meados do ano passado. Os investimentos em infraestrutura e em construção habitacional têm sido mantidos, mas a inversão industrial desabou. O colapso da eficiência marginal do capital à brasileira veio em decorrência das incertezas sobre a capacidade da produção doméstica para atender o mercado interno em face de uma investida sem precedentes dos produtores externos sobre o mercado brasileiro, amparada pelo contexto internacional de restrição de mercados consumidores alternativos e pela excepcional valorização da moeda brasileira.

Os efeitos encadeados da desaceleração desses dois vetores de crescimento determinaram encolhimentos no resto da indústria e nos demais setores da economia, generalizando a reversão cíclica. Esta somente não teve gravidade maior porque, primeiramente, o Banco Central se antecipou e iniciou a queda da taxa de juros já em agosto do ano passado, em segundo lugar, porque a política econômica vem reforçando os investimentos autônomos em infraestrutura e em habitação popular e, ainda, porque até agora o impacto da reversão sobre o emprego está restrito à indústria, o que protege o mercado consumidor e, juntamente com o aumento do salário mínimo, ajuda a sustentar as vendas do comércio e de serviços.

Mas, segundo um levantamento da CNI, a desaceleração da economia já afeta a situação financeira das empresas, as de menor porte à frente, que vêem seus lucros caírem e seus recebimentos encolherem porque a inadimplência inter empresarial está aumentando. Esta é a antessala de uma maior inadimplência das empresas junto aos bancos com consequências negativas sobre as novas concessões de crédito, um combustível que pode aprofundar a retração. Vêm em boa hora as reduções da taxa básica de juros e da taxa final do crédito que o governo vem promovendo.


Julio Gomes de Almeida é é professor da Unicamp