20 de abril de 2012

Economia e Política Econômica
O câmbio e seus efeitos
sobre a economia brasileira


  

 
O IEDI publica em sua Carta de hoje transcrição de palestra realizada por seu Ex-presidente, Conselheiro e Presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, na Organização Mundial do Comércio – OMC, no dia 27/3/2012.

O tema “taxa de câmbio” é complexo e polêmico. Estudos sustentam que em um prazo muito longo as ondas de valorização cambial são compensadas por ondas no sentido inverso, de forma que no longo prazo as flutuações do câmbio sejam neutras em seus efeitos sobre o crescimento.

Na etapa atual da economia mundial, faz-se importante revisitar o tema, posto que as aberturas comerciais empreendidas nas últimas duas décadas causaram uma relação particular entre câmbio e crescimento de longo prazo. A crescente globalização da produção de bens industriais, aliada aos desalinhamentos das taxas de câmbio, podem provocar perdas irreversíveis na estrutura industrial dos países com moeda sobrevalorizada. O Brasil é um exemplo disso, e sua indústria está sob o risco de ser condenada a um atraso permanente.

Diante de significativas distorções nas taxas de câmbio dos países, por mais que as firmas se esforcem para reduzir custos e promover melhorias de eficiência, dificilmente conseguem gerar aumentos de produtividade que superam as vantagens de preço conferidas por altos diferenciais de câmbio. Esse é um dos principais problemas da indústria brasileira na atualidade, pois desde o recrudescimento da demanda e liquidez internacionais e do mercado interno de 2003 em diante a economia vive uma dinâmica em que a entrada de capitais, atraídos pelos altos juros e pelo novo dinamismo do mercado interno, vem provocando a contínua apreciação do Real vis-à-vis as outras moedas.

Paralelamente, países de empresas concorrentes das brasileiras tanto doméstica quanto internacionalmente praticam uma política cambial agressiva, com taxa real sobre-desvalorizada. Além da vantagem de preços conferida por menores custos de mão-de-obra e capital, os produtos importados da China, Índia, Paquistão, Bangladesh e outros possuem também a vantagem dos diferenciais de câmbio. Como o Brasil possui uma taxa sobrevalorizada, esta “dupla assimetria” ocasiona distorções graves nos preços dos bens transacionáveis, as quais não são cobertas e nem tampouco suavizadas de forma significativa por medidas de proteção tarifárias.

Considerando a intensidade e a persistência da escalada dos desalinhamentos entre taxas de câmbio em curso, já é hora da OMC examinar a questão dos impactos das taxas de câmbio no comércio internacional. Nesse sentido, em março deste ano foi organizado um evento na instituição, no qual o Brasil fez uma apresentação a cargo de Josué Gomes da Silva (ex-presidente e Conselheiro do IEDI, além de presidente da COTEMINAS), dos efeitos da “dupla assimetria cambial”, que é transcrita a seguir em versão livre do inglês. A principal conclusão da apresentação foi que:

“Se a dupla assimetria na taxa de câmbio é um problema brasileiro atualmente, é também uma questão sistemática que em breve poderá ser vivenciada por outros países. É verdade que as taxas de câmbio são uma decisão soberana de cada país, contudo não é menos verdade que elas impactam o comércio internacional, e portanto a OMC deveria participar da discussão sobre suas regras, funcionamento e sanções. O problema da dupla assimetria existe; e é crítico. Precisa ser enfrentado, caso contrário cada país criará sua própria solução unilateral contra a distorção. Portanto, guerras tarifárias e protecionismo devem ser evitados através de regras multilaterais aceitas por todos.”

Leia aqui o texto completo desta Análise.