O IEDI publica em sua Carta
de hoje transcrição de palestra realizada por seu
Ex-presidente, Conselheiro e Presidente da Coteminas, Josué
Gomes da Silva, na Organização Mundial do Comércio
– OMC, no dia 27/3/2012.
O tema “taxa
de câmbio” é complexo e polêmico. Estudos
sustentam que em um prazo muito longo as ondas de valorização
cambial são compensadas por ondas no sentido inverso, de
forma que no longo prazo as flutuações do câmbio
sejam neutras em seus efeitos sobre o crescimento.
Na etapa atual
da economia mundial, faz-se importante revisitar o tema, posto
que as aberturas comerciais empreendidas nas últimas duas
décadas causaram uma relação particular entre
câmbio e crescimento de longo prazo. A crescente globalização
da produção de bens industriais, aliada aos desalinhamentos
das taxas de câmbio, podem provocar perdas irreversíveis
na estrutura industrial dos países com moeda sobrevalorizada.
O Brasil é um exemplo disso, e sua indústria está
sob o risco de ser condenada a um atraso permanente.
Diante de
significativas distorções nas taxas de câmbio
dos países, por mais que as firmas se esforcem para reduzir
custos e promover melhorias de eficiência, dificilmente
conseguem gerar aumentos de produtividade que superam as vantagens
de preço conferidas por altos diferenciais de câmbio.
Esse é um dos principais problemas da indústria
brasileira na atualidade, pois desde o recrudescimento da demanda
e liquidez internacionais e do mercado interno de 2003 em diante
a economia vive uma dinâmica em que a entrada de capitais,
atraídos pelos altos juros e pelo novo dinamismo do mercado
interno, vem provocando a contínua apreciação
do Real vis-à-vis as outras moedas.
Paralelamente,
países de empresas concorrentes das brasileiras tanto doméstica
quanto internacionalmente praticam uma política cambial
agressiva, com taxa real sobre-desvalorizada. Além da vantagem
de preços conferida por menores custos de mão-de-obra
e capital, os produtos importados da China, Índia, Paquistão,
Bangladesh e outros possuem também a vantagem dos diferenciais
de câmbio. Como o Brasil possui uma taxa sobrevalorizada,
esta “dupla assimetria” ocasiona distorções
graves nos preços dos bens transacionáveis, as quais
não são cobertas e nem tampouco suavizadas de forma
significativa por medidas de proteção tarifárias.
Considerando
a intensidade e a persistência da escalada dos desalinhamentos
entre taxas de câmbio em curso, já é hora
da OMC examinar a questão dos impactos das taxas de câmbio
no comércio internacional. Nesse sentido, em março
deste ano foi organizado um evento na instituição,
no qual o Brasil fez uma apresentação a cargo de
Josué Gomes da Silva (ex-presidente e Conselheiro do IEDI,
além de presidente da COTEMINAS), dos efeitos da “dupla
assimetria cambial”, que é transcrita a seguir em
versão livre do inglês. A principal conclusão
da apresentação foi que:
“Se
a dupla assimetria na taxa de câmbio é um problema
brasileiro atualmente, é também uma questão
sistemática que em breve poderá ser vivenciada por
outros países. É verdade que as taxas de câmbio
são uma decisão soberana de cada país, contudo
não é menos verdade que elas impactam o comércio
internacional, e portanto a OMC deveria participar da discussão
sobre suas regras, funcionamento e sanções. O problema
da dupla assimetria existe; e é crítico. Precisa
ser enfrentado, caso contrário cada país criará
sua própria solução unilateral contra a distorção.
Portanto, guerras tarifárias e protecionismo devem ser
evitados através de regras multilaterais aceitas por todos.”
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aqui o texto completo desta Análise.