A Questão do Spread
Julio Gomes de Almeida
– Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e economista do IEDI
Brasil Econômico – 16/04/2012

O tema da taxa de juros e do spread bancário no Brasil vai e volta à ordem do dia, sem que em geral nada de concreto ocorra. Recentemente o governo adotou medidas fortes através da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, que cortaram significativamente suas taxas de juros e, portanto, seus spreads (a diferença entre as taxas do crédito e as taxas de captação de recursos), recolocando a questão, ao que parece, de uma forma mais decidida.

É necessário sublinhar o que se pretende com a medida de usar os bancos públicos para quebrar a inércia de um sistema todo ele estruturado em torno aos elevados spreads. A nosso ver, o governo quis provocar mudanças nos seus próprios bancos e reações correspondentes nos bancos privados, além de reposicionamentos do Banco Central e do próprio governo quanto a compulsório e tributação sobre o crédito para favorecer o setor produtivo e o consumidor.

Não deve ser objetivo da medida o aumento das operações das instituições públicas em detrimento dos bancos privados, tanto porque os primeiros podem não ter estrutura e agilidade para tanto. O ideal é que o bloco privado acompanhe o público e reduza suas margens. Ao longo do tempo, os esforços para tornar mais eficiente a intermediação financeira e a própria expansão das operações de crédito reequilibrariam a lucratividade da intermediação sem que sejam necessárias as taxas de juros e os spreads tão excessivos como os que temos atualmente. O governo pode pensar em um sistema de incentivos para facilitar essa transição na forma de menor compulsório e tributos para as instituições que obtiverem avanços.

Por que razão é tão importante a redução das taxas de juros e dos spreads? Primeiro, porque corrigiria uma descomunal injustiça já que o excessivo custo do crédito pune o acesso aos recursos para o investimento por parte das empresas brasileiras e o acesso aos bens duráveis por parte da população. Assim, por exemplo, pelos padrões médios vigentes no crédito às famílias, estas pagam o equivalente ao dobro do preço de uma geladeira financiada no prazo de um ano e meio. No Brasil, a produção e a comercialização de bens e serviços é um grande negócio financeiro.

Segundo, porque os menores juros do crédito ampliariam a capacidade de crescimento da economia nos próximos anos. Houve uma revolução no crédito no país nos últimos sete anos em razão da formalização do emprego, dos programas sociais, do crescimento da renda da população e de inovações introduzidas, como a que criou o crédito consignado.

Os milhões de novos consumidores transformaram-se em clientela adicional dos bancos, mas seu maior acesso ao crédito não decorreu tanto de menores taxas de juros, mas, sim, de aumentos muito expressivos dos prazos dos empréstimos. Contudo, é possível que a grande ampliação de prazos das dívidas não se repita nos próximos anos, ao menos com o mesmo ímpeto que teve até agora, o que irá desacelerar a expansão do crédito. A relevância da redução de juros e dos spreads perseguida pelo governo reside em dar um fôlego novo ao ciclo de crédito e renovar o dinamismo ao crescimento econômico do país. A medida é, portanto, de suma importância.


Julio Gomes de Almeida é ex-Secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e economista do IEDI