3 de abril de 2012

Indústria
Nem desastre, nem retomada


  

 
A forte queda de 1,5% da produção industrial ocorrida em janeiro foi parcialmente recuperada em fevereiro, quando, segundo o IBGE, as atividades produtivas da indústria nacional cresceram 1,3%. Se o resultado ruim de janeiro foi marcado por fatores pontuais (férias coletivas no segmento de veículos automotores e paralisação parcial das atividades no segmento da extrativa mineral), o que, portanto, permitiu relativizar a retração da produção ocorrida naquele mês e dizer que a indústria não estava “agonizando”, em fevereiro, com a ausência de tais fatores pontuais, a indústria voltou ao seu ritmo de produção anterior, o qual, no entanto, não pode ser considerado de “recuperação”.

De fato, a indústria brasileira vem produzindo em níveis muito baixos, e os dois primeiros meses deste ano tomados em conjunto reforçam essa observação. No acumulado do bimestre com relação a igual período de 2011, a produção industrial é 3,4% menor. Se comparado ao mês de setembro de 2008, mês que antecede o agravamento da crise internacional, a produção industrial de fevereiro deste ano é 3,0% menor, ou seja, passaram mais de três anos e a indústria brasileira não consegue manter sua produção em níveis superiores aos de pré-crise. A verdade é que a produção industrial vem “andando de lado” e, se há uma tendência, ela é de queda: a taxa anualizada de crescimento da produção da ind¬ustrial passou de –0,1% em janeiro para –1,0% em fevereiro.

Esse momento desfavorável da indústria tem características mais gerais, na medida em que pode ser visto nos seus grandes setores. Na comparação com fevereiro de 2011, a produção de bens de consumo duráveis recuou 22,1% e a de bens de capital, 16,0%. Já, nos setores produtores de bens semiduráveis e não duráveis e de bens intermediários, a produção apresentou aumentos pouco expressivos de 0,5% e 0,4%, respectivamente.
E, a despeito da questão de calendário (o mês de fevereiro deste ano teve um dia útil a menos do que fevereiro de 2011, o que pode superestimar as quedas e subestimar as altas registradas acima), observa-se que o sinal de queda da produção se manteve nos grandes setores industriais na passagem do quarto trimestre de 2011 para o primeiro bimestre deste ano.

Assim, no setor de bens de capital, passou de –1,4% para –14,6%; no setor de bens duráveis, de –9,5% para –15,4%; e, no setor de bens intermediários, de –0,8% para –1,1% (todas as taxas calculadas com relação ao mesmo período do ano anterior). A exceção ficou por conta do setor de bens semiduráveis e não duráveis, cuja produção passou de uma queda de 1,6% no quarto trimestre de 2011 para um crescimento de 1,2% no primeiro bimestre deste ano, o qual foi puxado, em grande medida, pela produção do segmento de álcool e gasolina (carburantes).
 

 
Segundo ainda os dados do IBGE, a indústria brasileira avançou 1,3% em fevereiro comparativamente ao mês anterior, na série com dados dessazonalizados, após queda de 1,5% em janeiro. Na comparação com fevereiro de 2011, houve uma queda da produção industrial em 3,9%, o sexto resultado negativo consecutivo. O setor industrial acumulou perda de 3,4% nos dois primeiros meses de 2012. No acumulado dos últimos 12 meses frente a igual período imediatamente anterior, a produção industrial apresentou variação negativa de 1,0%, prosseguindo com trajetória descendente iniciada em outubro de 2010.

Dentre as categorias de uso, na comparação com o mês imediatamente anterior, o segmento de bens de capital (5,7%) apontou o resultado mais elevado em fevereiro de 2012. A produção dos segmentos de bens intermediários (2,3%) e de bens de consumo semi e não duráveis (1,1%) também mostraram crescimento em fevereiro de 2012. O setor de bens de consumo duráveis (-4,3%) apontou o único resultado negativo entre as categorias de uso, segundo recuo consecutivo nesse tipo de comparação, acumulando nesse período perda de 7,5%, o que eliminou o avanço de 6,3% registrado em dezembro último.

Na comparação mensal (mês/mesmo mês do ano anterior), bens de consumo duráveis (-22,1%) e bens de capital (-16,0%) apresentaram as maiores quedas em fevereiro. No primeiro segmento, o desempenho foi explicado, em grande parte, pela menor fabricação de automóveis (-33,1%), refletindo ainda algumas paralisações ocorridas em empresas do setor, vindo a seguir os recuos na produção de telefones celulares (-24,3%) e de motocicletas (-11,1%). Por outro lado, Semiduráveis e não duráveis (0,5%) e Bens intermediários (0,4%) apresentaram alta em sua produção em janeiro relativamente a mesmo mês de 2011.

No acumulado nos últimos 12 meses, as taxas negativas continuam a persistir. O segmento bens de consumo duráveis apresentou o pior resultado dentre as categorias, com queda de 6,1%. Nessa mesma comparação, as demais categorias de uso tiveram os seguintes resultados: bens intermediários -0,3%; bens de consumo semi e não duráveis -0,4%; e bens de capital -1,0%.

 

 
Setorialmente, em comparação a fevereiro de 2012 com dados dessazonalizados, foi verificado alta no nível de produção em 18 dos 27 ramos produtivos contemplados na pesquisa. Os maiores destaques foram: veículos automotores (13,1%), eliminando parte da queda de 31,2% verificada em janeiro último. Também merecem destaque as contribuições positivas vindas de indústrias extrativas (9,3%), equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros (23,8%), farmacêutica (7,0%), outros produtos químicos (3,1%), bebidas (6,0%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (9,5%) e refino de petróleo e produção de álcool (2,5%). Por outro lado, as principais pressões negativas vieram de máquinas e equipamentos (-4,8%), que interrompeu três meses de taxas positivas que acumularam ganho de 10,6%, material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-6,3%), alimentos (-1,1%) e fumo (-13,3%).

No confronto entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2011, a indústria geral, como foi observado acima, acusou diminuição no nível de produção de 3,9%. Nessa comparação, em 16 dos 27 setores pesquisados foi verificado recuo da produção industrial. Das atividades que registraram queda de produção destacaram-se: veículos automotores (-28,3%) exerceu o maior impacto negativo na formação da média da indústria, em seguida aparecem máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-15,8%), material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-17,6%), máquinas e equipamentos (-4,7%), produtos de metal (-8,7%), borracha e plástico (-8,6%) e máquinas para escritório e equipamentos de informática (-17,2%). Por outro lado, entre os ramos que registraram crescimento na produção, as principais influências foram: refino de petróleo e produção de álcool (8,4%), edição, impressão e reprodução de gravações (9,5%), equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros (25,5%), celulose, papel e produtos de papel (5,6%) e indústrias extrativas (3,8%).

 

 

 


 

 

 

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