A Perspectiva do Consumo
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp e consultor do IEDI
Brasil Econômico – 29/03/2012

A perspectiva do consumo nesse início de 2012 mudou para melhor. No ano passado, o avanço real de 6,7% do comércio varejista evidenciou o grande dinamismo do consumo no Brasil, mas para 2012 as projeções iniciais antecipavam uma evolução menor, como 4,5%. Os últimos dados da economia, no entanto, autorizam a pensar em um índice mais alto, podendo chegar a 5,5%. A decisão de consumir das famílias é complexa e diferenciada de acordo com bens e serviços sobre os quais recaem as decisões. Mas, em termos muito gerais depende da massa de rendimentos da população, da confiança dos consumidores e do acesso ao crédito.

A massa real de rendimentos, que é a base do consumo e sobre a qual se apoia o desenvolvimento do crédito, teve tendência de desaceleração nos meses finais de 2011. De fato, uma progressão tão expressiva quanto 6,5% no primeiro semestre foi retrocedendo até chegar a 2,1% no trimestre final do ano, resultado da desaceleração do crescimento econômico brasileiro que conteve o aumento do número de pessoas ocupadas e do rendimento médio real do trabalho. Pois bem, o menor ritmo do emprego nos dois meses iniciais do corrente ano foi mantido, mas o rendimento da população melhorou, o que relançou a expansão da massa de rendimentos. A reação do rendimento real é explicada pela menor inflação, obtida pela política adotada com êxito pelo Banco Central. É reflexo também da elevação do salário mínimo que começa a fazer efeito sobre o rendimento das ocupações de base.

Diante dessas tendências, no primeiro bimestre do ano a massa de rendimentos voltou a crescer mais intensamente, alcançando 4,8% no período, permitindo antever uma perspectiva mais favorável para o consumo. Concorre também para isso a confiança dos consumidores, que evoluiu após uma sistemática queda ao longo do ano passado. Os brasileiros ainda não nutrem um grande otimismo com relação ao futuro, mas já identificam na situação econômica atual uma condição superior. A baixa taxa de desemprego e, novamente, a inflação sob controle são os determinantes principais da mudança que deve prevalecer até pelo menos meados de 2012.

No crédito, o cenário não parece ser tão favorável. Em bases reais, o saldo dos financiamentos desacelerou nos dois primeiros meses, especialmente no crédito para pessoa física em uma indicação de que há uma maior reticência por parte do sistema de financiamento em conceder novos recursos à clientela. De fato, tem havido uma elevação da taxa de inadimplência no crédito das famílias que já atinge 7,6% do total dos financiamentos, enquanto em fins de 2010 era de 5,7%. Os atrasos de pagamento ocorrem com maior intensidade no financiamento para compra de veículos que tradicionalmente tinha baixa inadimplência. Nesse caso, o valor dos compromissos não pagos atinge 5,5% do total dos financiamentos, quando há cerca de um ano atrás não passava de 2,6%. Em razão disso, como assinalou um observador atento da cena financeira, o spread bancário nesta modalidade vem subindo e já se observa retração expressiva dos prazos do financiamento. A perspectiva, portanto, é de retração do crédito para veículos e, potencialmente, para as demais modalidades de financiamento das pessoas físicas.


Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e consultor do IEDI