Nem crise externa nem desaceleração do mercado consumidor
interno foram os principais determinantes da debilidade do crescimento
econômico brasileiro em 2011, muito embora esses fatores
tenham de fato entrado em cena e prejudicaram o desempenho da
economia. O primeiro fator inibiu especialmente o investimento;
o segundo tornou menos intenso o aumento do consumo devido às
medidas de aumento de juros e de restrição do crédito
adotadas pelo governo. Mas, ainda assim, o potencial de evolução
do PIB no ano passado foi bem superior ao crescimento de 2,7%
contabilizado pelo IBGE. O ponto central está nas importações
hiper beneficiadas pelo câmbio valorizado e pelo acúmulo
de custos sobre a produção no Brasil.
Consequentemente,
foi grande o impacto sobre a indústria que cresceu somente
1,6%, com crescimento zero da indústria de transformação
(+0,1%). Indo mal, a indústria carrega consigo outros segmentos
da própria indústria e dos demais setores da economia.
Daí o crescimento decepcionante. Países que lograram
maior aproximação com relação a padrões
de renda per capita típicas de economias desenvolvidas
não se deram ao luxo de desperdiçarem oportunidades
de crescimento como o dinamismo de seu mercado interno tem propiciado
ao Brasil.
Os dados divulgados
hoje pelo IBGE mostram que o PIB brasileiro foi perdendo ritmo
ao longo de 2011. Assim, foram decrescentes as taxas de variação
ao longo dos quatro trimestres de 2011 na comparação
dos últimos quatro trimestres com relação
aos quatro trimestres imediatamente anteriores: 6,3%, 4,9%, 3,7%
e 2,7%. O mesmo é evidenciado na série que compara
cada trimestre com o mesmo trimestre do ano anterior: 4,2%, 3,3%,
2,1% e 1,4%.
A expansão
do PIB em 2011 resultou do crescimento de 2,5% do Valor Adicionado
a preços básicos e do aumento de 4,3% dos Impostos.
O aumento do Valor Adicionado, por sua vez, decorreu da expansão
da Agropecuária (3,9%), dos Serviços (2,7%) e da
Indústria (1,6%). No caso da Indústria, quem mais
colaborou para o resultado em 2011 foram a Produção
e Distribuição de Eletricidade e Gás, Água,
Esgoto e Limpeza Urbana (com aumento de 3,8% de seu valor adicionado),
a Construção Civil (3,6%) e a Extrativa Mineral
(3,2%), já que a Indústria de Transformação,
como se viu, ficou estagnada (0,1%).
Esse fraco
desempenho da Indústria de Transformação
e seu movimento de forte desaceleração ao longo
do ano culminando com a retração registrada no quarto
trimestre não deixam dúvidas sobre o momento desfavorável
e preocupante pelo qual a indústria nacional passa. No
quarto trimestre de 2011, comparado com o imediatamente anterior
com ajuste sazonal, o valor adicionado da Indústria em
geral caiu 0,5%, refletindo a fortíssima queda de 2,5%
da Indústria de Transformação (a Extrativa
Mineral cresceu 1,8%; a Construção Civil, 0,7% e
a Produção e Distribuição de Eletricidade
e Gás, Água, Esgoto e Limpeza Urbana, 0,1%). Ao
se comparar com o mesmo trimestre de 2010, a retração
do valor adicionado da Indústria de Transformação
no quarto trimestre é ainda maior (-3,1%).
O resultado
ruim da Transformação em 2011 decorreu do menor
vigor da economia brasileira imposto pelas medidas macroprudenciais
do Governo iniciadas já no final de 2010, bem como do fraco
desempenho das principais economias do mundo, como as da Europa
e a dos Estados Unidos, e do menor avanço da economia chinesa.
Mas, o principal fator que levou a indústria a ter desempenho
tão pífio foi a já assinalada perda de competitividade
frente aos bens importados.
Outros dois
destaques nos dados do IBGE também não são
positivos para o País. Em primeiro lugar, a Taxa de Investimento
(FBCF/PIB), apesar do aumento de 4,7%, ficou em 19,3% em 2011,
abaixo da taxa registrada em 2010 (19,5%) e muito aquém
da taxa estimada que seria necessária para um crescimento
mais robusto do País nos próximos anos (em torno
de 24%). Relacionada aos investimentos, a taxa de poupança
também recuou ligeiramente em 2011 (17,2%) frente a 2010
(17,5%). Em segundo lugar, no lado externo, o avanço das
Importações (9,7%) superou, uma vez mais, o das
Exportações (4,5%). Esse maior ímpeto das
importações, nos últimos anos, só
não reverteu o saldo da balança comercial brasileira
devido às exportações de commodities e de
seus bons preços nos mercados externos.
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