2 de março de 2012

Indústria
A questão da produtividade


  

 
A crise mundial que afetou intensamente a indústria brasileira ainda no quarto trimestre de 2008 e ao longo do ano de 2009 concorreu para o baixo desempenho da produção e da produtividade do trabalho do setor nesses dois anos. Em 2008, a produtividade só aumentou 1,1% e em 2009 houve queda de 2,1%. No ano seguinte a situação deveria ter retornado à normalidade devido a uma recuperação elástica da produção e da produtividade que cresceria 6,1%. Mas em 2011 voltaria a apresentar declínio, desta feita de 0,2%. Na média dos quatro últimos anos o aumento anual foi de apenas 1,2%, um índice baixo e muito distante do seu correspondente no quadriênio anterior (2004/2007), de 3,6%.

Por si só esse menor ritmo de avanço já seria um problema, mas pelo menos dois outros fatores entraram em cena e agravaram a falta de competitividade do setor. De um lado, os custos do trabalho se elevaram; de outro, uma concorrência muito mais agressiva de penetração no mercado brasileiro motivou estratégias ousadas por parte de produtores estrangeiros. Para se ter idéia do primeiro fator, a média de aumento real do custo do trabalho foi de 2,2% no último quadriênio, ao passo que nos quatro anos anteriores o crescimento fora zero. É possível apontar as causas da estagnação da produtividade.

Primeiramente, uma desaceleração do crescimento da produtividade em 2011 já era esperada, pois como reação à redução do crédito, aumento de juros e concorrência dos importados a produção industrial perdeu ímpeto ao longo do último semestre do ano. Mas, outros argumentos adicionais podem ser lembrados. De um lado, um componente demográfico, associado à tendência de menor crescimento da população em idade ativa que tem como causa a queda da taxa de natalidade. De outra parte, uma parcela da população em idade de trabalhar pode estar adiando sua entrada na população economicamente ativa em função da maior renda familiar e de melhores oportunidades e de incentivos (como bolsas de estudo) para a realização de cursos superiores e cursos de aperfeiçoamento ou especialização.

Estes fenômenos recentes podem estar induzindo as empresas a serem mais cautelosas na dispensa de mão de obra, pois faz pouco sentido demitir para contratar depois, possivelmente com mais dificuldade. Assim, são observadas taxas de desemprego relativamente baixas com modesto dinamismo econômico. A escassez relativa de mão-de-obra também contribui para pressionar por aumento de salários, que em um contexto de produtividade estagnada ou declinante pressiona o custo das empresas, diminuindo sua competitividade.

Outro fator é a sobrevalorização do câmbio. A contribuição negativa do câmbio tendencialmente sobrevalorizado para a produtividade industrial se dá pelo fato de tornar menos competitiva a produção doméstica, estimulando a penetração de importações industriais. Além disso, o câmbio sobrevalorizado coloca uma barreira às exportações, mesmo de setores eficientes do ponto de vista microeconômico. A combinação de salários relativamente mais elevados com taxa de câmbio valorizada direciona a demanda crescente de bens de consumo para importações e desestimula o investimento e a produção doméstica de produtos industriais. Neste contexto a perda de dinamismo da produtividade industrial está associada a um processo de desindustrialização precoce da economia brasileira.
 

 

 

 

 

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