A crise mundial que afetou intensamente a indústria brasileira
ainda no quarto trimestre de 2008 e ao longo do ano de 2009 concorreu
para o baixo desempenho da produção e da produtividade
do trabalho do setor nesses dois anos. Em 2008, a produtividade
só aumentou 1,1% e em 2009 houve queda de 2,1%. No ano
seguinte a situação deveria ter retornado à
normalidade devido a uma recuperação elástica
da produção e da produtividade que cresceria 6,1%.
Mas em 2011 voltaria a apresentar declínio, desta feita
de 0,2%. Na média dos quatro últimos anos o aumento
anual foi de apenas 1,2%, um índice baixo e muito distante
do seu correspondente no quadriênio anterior (2004/2007),
de 3,6%.
Por si só
esse menor ritmo de avanço já seria um problema,
mas pelo menos dois outros fatores entraram em cena e agravaram
a falta de competitividade do setor. De um lado, os custos do
trabalho se elevaram; de outro, uma concorrência muito mais
agressiva de penetração no mercado brasileiro motivou
estratégias ousadas por parte de produtores estrangeiros.
Para se ter idéia do primeiro fator, a média de
aumento real do custo do trabalho foi de 2,2% no último
quadriênio, ao passo que nos quatro anos anteriores o crescimento
fora zero. É possível apontar as causas da estagnação
da produtividade.
Primeiramente,
uma desaceleração do crescimento da produtividade
em 2011 já era esperada, pois como reação
à redução do crédito, aumento de juros
e concorrência dos importados a produção industrial
perdeu ímpeto ao longo do último semestre do ano.
Mas, outros argumentos adicionais podem ser lembrados. De um lado,
um componente demográfico, associado à tendência
de menor crescimento da população em idade ativa
que tem como causa a queda da taxa de natalidade. De outra parte,
uma parcela da população em idade de trabalhar pode
estar adiando sua entrada na população economicamente
ativa em função da maior renda familiar e de melhores
oportunidades e de incentivos (como bolsas de estudo) para a realização
de cursos superiores e cursos de aperfeiçoamento ou especialização.
Estes fenômenos
recentes podem estar induzindo as empresas a serem mais cautelosas
na dispensa de mão de obra, pois faz pouco sentido demitir
para contratar depois, possivelmente com mais dificuldade. Assim,
são observadas taxas de desemprego relativamente baixas
com modesto dinamismo econômico. A escassez relativa de
mão-de-obra também contribui para pressionar por
aumento de salários, que em um contexto de produtividade
estagnada ou declinante pressiona o custo das empresas, diminuindo
sua competitividade.
Outro fator
é a sobrevalorização do câmbio. A contribuição
negativa do câmbio tendencialmente sobrevalorizado para
a produtividade industrial se dá pelo fato de tornar menos
competitiva a produção doméstica, estimulando
a penetração de importações industriais.
Além disso, o câmbio sobrevalorizado coloca uma barreira
às exportações, mesmo de setores eficientes
do ponto de vista microeconômico. A combinação
de salários relativamente mais elevados com taxa de câmbio
valorizada direciona a demanda crescente de bens de consumo para
importações e desestimula o investimento e a produção
doméstica de produtos industriais. Neste contexto a perda
de dinamismo da produtividade industrial está associada
a um processo de desindustrialização precoce da
economia brasileira.