A Questão da Produtividade
Julio Gomes de Almeida
– Professor da Unicamp e consultor do IEDI
Brasil Econômico – 01/03/2012

A crise mundial que afetou intensamente a indústria brasileira ainda no quarto trimestre de 2008 e ao longo do ano de 2009 concorreu para o baixo desempenho da produção e da produtividade do trabalho do setor nesses dois anos. Em 2008, a produtividade só aumentou 1,1% e em 2009 houve queda de 2,1%. No ano seguinte a situação deveria ter retornado à normalidade devido a uma recuperação elástica da produção e da produtividade, que cresceria 6,1%. Mas em 2011 voltaria a apresentar declínio, desta feita de 0,2%. Na média dos quatro últimos anos o aumento anual foi de apenas 1,2%, um índice baixo e muito distante do seu correspondente no quadriênio anterior (2004/2007), de 3,6%.

Por si só esse menor ritmo de avanço já seria um problema, mas pelo menos dois outros fatores entraram em cena e agravaram a falta de competitividade do setor. De um lado, os custos do trabalho se elevaram; de outro, uma concorrência muito mais agressiva de penetração no mercado brasileiro motivou estratégias ousadas por parte de produtores estrangeiros. Para se ter ideia do primeiro fator, a média de aumento real do custo do trabalho foi de 2,2% no último quadriênio, ao passo que nos quatro anos anteriores o crescimento fora zero. A economista Carmem Feijó em trabalho recente e que em breve o Iedi divulgará aponta as causas da estagnação da produtividade.

Primeiramente, afirma que uma desaceleração do crescimento da produtividade em 2011 já era esperada, pois, como reação à redução do crédito, aumento de juros e concorrência dos importados, a produção industrial perdeu ímpeto ao longo do último semestre do ano. Mas a autora levanta dois argumentos adicionais. De um lado, um componente demográfico, associado à tendência de menor crescimento da população em idade ativa que tem como causa a queda da taxa de natalidade. "Este fenômeno recente pode estar induzindo as empresas a serem mais cautelosas na dispensa de mão de obra, pois faz pouco sentido demitir para contratar depois, possivelmente com mais dificuldade. Assim, são observadas taxas de desemprego relativamente baixas com modesto dinamismo econômico. A escassez relativa de mão de obra também contribui para pressionar por aumento de salários, que em um contexto de produtividade estagnada ou declinante pressiona o custo das empresas, diminuindo sua competitividade."

"O segundo fator é a sobrevalorização do câmbio. A contribuição negativa do câmbio tendencialmente sobrevalorizado para a produtividade industrial se dá pelo fato de tornar menos competitiva a produção doméstica, estimulando a penetração de importações industriais. Além disso, o câmbio sobrevalorizado coloca uma barreira às exportações, mesmo de setores eficientes do ponto de vista microeconômico." A combinação de salários relativamente mais elevados com taxa de câmbio valorizada direciona a demanda crescente de bens de consumo para importações e desestimula o investimento e a produção doméstica de produtos industriais. Neste contexto, observa, "a perda de dinamismo da produtividade industrial está associada a um processo de desindustrialização precoce da economia brasileira".


Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e consultor do IEDI