O estágio atual de declínio da indústria
brasileira recomenda que seja feita uma reflexão sobre
o significado da indústria e suas relações
com os demais setores da economia. Todos os segmentos econômicos
têm particularidades a partir das quais é possível
identificar contribuições relevantes para a economia,
seja na criação de empregos, na geração
de divisas, dentre outros exemplos. Abaixo será tratado
o tema da indústria e seus aportes ao desenvolvimento econômico.
Não
é por acaso que se deu o nome de Revolução
Industrial ao processo de generalização do sistema
fabril. Esse processo que tem início no século XVIII,
foi além de aniquilar a produção até
então prevalecente porque instituiu um sistema interligado
e complexo de geração de valor e de progresso técnico.
Interligado porque a indústria cria novos bens e serviços,
novos métodos e instrumentos e maquinas que potencializam
a produção de si própria e dos demais setores.
A agricultura e serviços, evidentemente, produzem tecnologia
independentemente do setor industrial. O Brasil é um exemplo
disso, através da Embrapa e sua enorme capacidade de inovar
no campo. Mas, em geral, são os insumos e os meios de produção
concebidos na indústria os responsáveis pelo progresso
técnico e aumento da produtividade não só
nesse setor como em toda a economia.
A indústria
tem outra poderosa característica, além da geração
e difusão de tecnologia. Isto porque ela é capaz
de induzir, a partir de sua produção, demanda para
outros setores e para si mesma. Isso tem um significado todo especial
para o desenvolvimento econômico, pois implica que um dado
estímulo de demanda – proveniente do investimento,
consumo ou exportação – resultará em
crescimento maior da renda e do emprego na condição
de que a economia tenha um setor industrial relevante. Esta é
outra forma de dizer que o multiplicador do gasto autônomo
será tão maior quanto maior a força do setor.
A indústria tem esse poder porque através de suas
compras de bens e serviços intermediários, simultaneamente
torna a sua produção uma produção
adicional para outros segmentos industriais e para os demais setores
da economia. Além disso, como para produzir é necessário
em alguma medida empregar e investir mais, novos efeitos dinâmicos
são desencadeados a partir daí.
Assim, a indústria
define um sistema de produção. Não é
por outra razão que os processos mais representativos do
avanço econômico moderno passam pela industrialização.
Inglaterra, a origem de tudo, França, Estados Unidos, Alemanha,
Japão, Coreia e agora a China, conceberam seu desenvolvimento
em torno da indústria. Primeiro, pela capacidade de difusão
do dinamismo desse setor para a economia como um todo; segundo,
porque aí reside a condição do maior progresso
técnico. Inovar é uma decorrência da industrialização
avançada, especialmente, no segmento produtor de bens de
capital, bens intermediários e bens de consumo de última
geração tecnológicas.
Nem todo país
pode contar com setor industrial capaz de gerar esses efeitos
endógenos, se a população é pequena
ou a dimensão territorial é restrita. Não
sendo assim, o desenvolvimento passa pela indústria. Nesses
casos, as políticas macroeconômicas e as políticas
de crédito, câmbio, tributação, P&D,
comércio exterior, atração de investimentos
e capitais estrangeiros, dentre outras, devem estar em consonância
com o objetivo do avanço industrial. O Brasil, um país
continental, populoso e de grande mercado interno, paradoxalmente
vive um momento em que nunca foram tão favoráveis
as condições internas e externas para sua reindustrialização,
ao mesmo tempo em que se apresentam, como nunca antes, os perigos
de uma aguda e definitiva desindustrialização. Tudo
porque não há uma definição clara
sobre os rumos que deverá seguir seu desenvolvimento econômico
de longo prazo.
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