27 de fevereiro de 2012

Indústria e Comércio Exterior
Relevância das políticas de incentivo aos
segmentos de maior intensidade tecnológica


  

 
É conhecido o resultado industrial brasileiro em 2011: a indústria geral (que inclui a indústria de extrativa) avançou sua produção em apenas 0,3%. Já a indústria de transformação acusou variação pouco menor: 0,2% relativamente a 2010. Convém sublinhar que o resultado só não foi menor por conta das atividades de alta intensidade tecnológica, o que contrabalançou em parte o desempenho das atividades intensivas em recursos humanos e de baixa intensidade tecnológica que registraram retração a exigir cuidados. Esse fato evidencia a relevância de políticas que procuram promover os segmentos de maior intensidade tecnológica para desenvolver uma estrutura industrial mais diversificada.

Segundo a intensidade tecnológica da indústria de transformação adotada pela OCDE, cabe ainda ressaltar:

  • Das quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa, e baixa), a mais intensiva em tecnologia foi a que mais cresceu em 2011, como já foi observado, 2,2%, uma marca que pode ser considerada modesta. O segmento de média-alta intensidade cresceu bem menos, 0,4%, embora acima da taxa da indústria de transformação como um todo.
     
  • Apesar disso, as balanças comerciais dos produtos típicos das indústrias de alta e de média-alta intensidade se deterioraram fortemente. O déficit dos produtos da indústria de alta intensidade cresceu para US$ 30,0 bilhões (US$ 26 bilhões em 2010), enquanto o dos bens do segmento de média-alta saltou para impressionantes US$ 52,4 bilhões (US$ 39 bilhões no ano anterior). Ou seja, nesse último segmento que vem tendo elevado dinamismo na economia brasileira, a produção doméstica não tem acompanhado o dinamismo da demanda interna, crescentemente abastecida por importações.
     
  • A produção física das atividades de média-baixa intensidade se expandiu em 0,7%. Esta faixa reflete sobremaneira os comportamentos da produção de bens metálicos (metalurgia básica e fabricação de produtos metálicos) e de derivados do petróleo refinado, álcool e outros combustíveis. A produção de bens metálicos apresentou a mesma taxa do segmento de média-baixa intensidade. Já o saldo comercial de produtos metálicos atingiu superávit de US$ 8,7 bilhões. Este resultado positivo não conseguiu fazer frente ao déficit de produtos derivados de petróleo refinado, outros combustíveis e afins. Assim, o saldo dos bens típicos das indústrias de média-baixa intensidade registrou déficit de US$ 9,3 bilhões.
     
  • O segmento considerado menos intensivo em termos tecnológicos, segundo a classificação da OCDE, foi o único cuja produção declinou com queda de 1,2%. As indústrias de alimentos, bebidas e fumo viram sua produção física crescer 0,4%. As indústrias madeireiras, de papel e celulose lograram expansão de 1,2%. Por outro lado, as indústrias têxtil, do vestuário, couro e calçados sofreram intensa retração de 11,1% devido ao forte impacto das importações. Notar que esse segmento registrou pela segunda vez consecutiva déficit comercial na série iniciada em 1989. Mesmo não sendo auspiciosas as taxas de crescimento da produção, o comportamento dos preços dos bens típicos dos segmentos de alimentos, bebidas e fumo e indústrias madeireiras, de papel e celulose propiciaram superávit comercial recorde (US$ 42,9 bilhões) dos produtos da indústria de baixa intensidade tecnológica.

Em suma, as atividades mais dinâmicas da economia brasileira têm apresentado déficits comerciais cada vez maiores, enquanto a produção interna evolui a taxas muito baixas.

Se os preços internacionais favoráveis têm concorrido para a produção e inserção externa da agropecuária, agroindústria e extração mineral, o mesmo não vem acontecendo com outras atividades notadamente o setor manufatureiro, os quais acabam ficando mais sujeitas aos já conhecidos problemas brasileiros - câmbio valorizado, tributação complexa, infraestrutura insuficiente e cara, alto custo do capital e da mão de obra especializada. Para que a produção brasileira – não somente a indústria – não fique tão sujeita à conjuntura internacional, é premente uma abordagem mais ampla e contundente por parte das políticas de industriais e de desenvolvimento do país.

Leia aqui o texto completo desta Análise.