As Contradições no Emprego
Julio Gomes de Almeida
– Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp
Brasil Econômico – 09/02/2012

O índice médio de desocupação de 6%, apurado pelo IBGE em 2011, foi excepcionalmente baixo para padrões brasileiros e espelha o maior vigor da economia nos últimos anos. Isso atesta o bem que faz ter uma economia não apenas estável, como também em crescimento. O excepcional resultado responde ainda à composição do avanço econômico que pendeu para o setor de serviços, este um setor muito empregador. Mas, nem tudo são flores no cenário do emprego e renda. Os números positivos para o desemprego escondem ocorrências relevantes, como, por exemplo, o significativo revés da expansão do emprego nos últimos meses de 2011, o que conjuntamente com a desaceleração do rendimento médio das pessoas ocupadas, está formando um quadro de baixa evolução da massa de rendimentos.

A massa de rendimentos forma o mercado interno consumidor, que, por seu turno, tem sido a base do sucesso da economia brasileira. No auge da recuperação ao longo de 2010, a massa de rendimentos chegou a crescer 10%, combinando variações de 4% na ocupação e 6% no rendimento médio real. Isso por si só elevou a capacidade de consumo da população, mas também amparou uma relevante ampliação do poder de compra através do crédito, tornando possível um dinamismo muito acentuado do consumo das famílias brasileiras. Esse quadro mudaria na segunda metade de 2011, de forma que no último trimestre a ocupação teve acréscimo de 1,6%, o rendimento 1%, e a massa real de rendimentos, 2,1%.

Assim, a menos que haja uma recuperação relâmpago na contratação de trabalhadores e no rendimento do trabalho (a grande elevação do salário mínimo pode concorrer para isso), o Brasil estará deixando de ter aquele mercado interno tão destacadamente mais dinâmico na comparação com outras economias. A curto prazo, um mercado doméstico menos pujante pode não diminuir a atratividade internacional do país, mas rebaixará o desempenho de setores líderes da economia, tais como o comércio varejista e segmentos de serviços, especialmente os serviços pessoais, o que reduz a perspectiva para o PIB de 2012.

Um ritmo mais moderado de acréscimo do número de pessoas que ingressam no mercado de trabalho vem contrabalançando os efeitos do arrefecimento da demanda de trabalho, de forma que a taxa de desocupação continua declinando. Em outras palavras, o desemprego no Brasil persiste em queda não porque o mercado de trabalho permanece tão favorável como antes, mas sim devido ao aumento cada vez menor das pessoas que se apresentam para trabalhar.

De fato, se a população economicamente ativa crescia 2,5% em meados de 2010, no último trimestre do ano passado a taxa foi de somente 1,1%. Mais do que fatores demográficos, isso é reflexo das melhores condições de renda da população, o que viabiliza a adoção de estratégias familiares mais flexíveis de inserção no mercado de trabalho. Políticas de complementação de renda, concessão de bolsas de estudo e multiplicação de cursos profissionalizantes devem também estar contribuindo para os baixos índices de desemprego.


Julio Gomes de Almeida é ex-secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp