O IBGE noticiou esta semana a fraca evolução da
produção industrial brasileira em 2011, enquanto
uma forte expansão ocorria no mercado interno consumidor.
As vendas do comércio varejista nacional tiveram variação
real de 6,5% no ano passado, mas a produção da indústria
cresceu apenas 0,3% e a produção industrial de bens
de consumo diminuiu 0,7%. Portanto, trata-se de um desempenho
pífio comparativamente a um mercado de consumo dinâmico
e que vai sendo abastecido crescentemente pelo produto importado.
Está
é uma faceta da desindustrialização que se
acelera no país. Mas, o que parece ser um problema da indústria
corresponde na verdade a um impasse da economia brasileira. A
indústria pode e deve procurar melhorar sua competitividade,
promovendo avanços em seus níveis de inovação
e de produtividade em linha com a trajetória seguida pelos
países de maior agressividade industrial. É preciso
sublinhar que a indústria brasileira não se notabiliza
propriamente por ser um setor onde predomina a ineficiência
e a baixa produtividade, mas sem dúvida pode melhorar –
e muito – nessas áreas.
A propósito,
embora tenha sido muito bem elaborada e represente um grande progresso
com relação a iniciativas anteriores, a última
versão da política industrial (o Plano Brasil Maior)
não se preocupou com a produtividade da indústria
e não há na política brasileira de desenvolvimento
uma decidida orientação de avanço no setor
de serviços, onde a produtividade tem grande deficiência.
O Brasil precisa urgentemente dedicar incentivos e energias para
elevar a produtividade dentro e fora da indústria.
Todavia, além
do tema da produtividade, não se deve perder de vista outra
questão que tem sido ainda mais decisiva como definidora
do colapso da competitividade industrial. Trata-se da elevação
ao longo da última década e meia dos custos de produzir
no país, o que transformou o Brasil em uma das economias
mais caras do mundo. Mesmo que a taxa de câmbio compensasse
em alguma medida esse processo, seus efeitos negativos sobre o
padrão de custos de toda a economia seriam sentidos. Ocorre
que o câmbio aprofundou ao invés de amenizar o processo,
agravando assim o nosso diferencial de custos relativamente a
outros países.
Estamos nos
referindo a tema conhecidos, como os de tributação,
custo de energia, custo de capital de terceiros e de uma logística
que é ruim e cara no país. Nada disso afeta só
a indústria e é uma ilusão achar que o nosso
varejo ou o setor de serviços ou ainda a agropecuária
ou a indústria extrativa não tenham seus custos
majorados devido aos fatores relacionados acima. Esses setores
também sofrem com as consequências dos aumentos de
custos sobre suas margens de lucro. O que os diferencia é
sua capacidade de eventualmente neutralizarem os impactos adversos
através de variações de preços. A
agropecuária de exportação e a produção
de minérios, por exemplo, vêm contando com favoráveis
preços nos mercados internacionais como um automático
mecanismo de ajuste ao maior custo doméstico.
Na indústria,
especialmente se são levadas em conta as condições
da concorrência internacional nos mercados industriais no
pós-crise de 2008, não há via de escape porque
sua produção concorre com a de outras economias
que não incorrem nas mesmas elevações de
custo e que protegem suas moedas das ondas de valorização
causadas por baixas taxas de juros internacionais e pela liquidez
mundial frouxa derivada de políticas monetárias
como a executada nos Estados Unidos da América e agora
na Europa.
Portanto,
embora não se possa negar que a indústria brasileira
tem muito a avançar em seus padrões de produção
e de produtividade, não vem majoritariamente dela própria
o mal que está levando ao seu encolhimento, mas é
nesse setor que as más políticas econômicas
se revelam com maior integridade e em primeira mão. Em
suma, redução de custos sistêmicos com a ajuda
de um impulso decisivo na produtividade da economia e da indústria
é o fator determinante para redefinir para o futuro o quadro
ruim que atravessa a indústria.