A produção da indústria brasileira cresceu
0,3% em 2011, um resultado muito fraco que, certamente, ficou
abaixo de qualquer projeção feita no início
daquele ano. Em última instância, o que levou a indústria
a ter tão parco desempenho foram fatores que hoje são
indiscutíveis, como a perda de competitividade frente aos
bens importados, a qual se deveu ao elevado custo de se produzir
no Brasil e ao câmbio valorizado. Não havendo progresso
nessas duas áreas pouco se pode esperar em termos de uma
recuperação sólida do setor. É verdade
também que a indústria refletiu o menor vigor da
economia brasileira decorrente da elevação da taxa
de juros e das medidas macroprudenciais do Governo iniciadas já
no final de 2010 – assim como ocorreu com os demais setores
– e o momento difícil pelo qual atravessam as principais
economias do mundo, notadamente as da Europa.
Observa-se,
segundo os dados do IBGE, que no ano de 2011 a produção
do setor de Bens de capital, com aumento de 3,0%, fez frente à
queda de 2,0% na produção de Bens duráveis,
enquanto o setor de Bens intermediários, o de maior peso
na indústria, apresentou ligeiro aumento de 0,3% e o de
Bens de consumo semi e não duráveis, retração
de 0,2%. Esses resultados mostram que os investimentos na economia
continuaram relativamente firmes – em grande parte porque
o crescimento de Bens de capital decorreu do aumento da produção
de bens de capital para equipamentos de transporte, para construção
e para fins industriais –, o que é um bom sinal,
mas, por outro lado, eles também mostram que o “termômetro”
do setor industrial como um todo, dado pelas atividades do segmento
de Bens intermediários, está muito baixo, ou seja,
as compras dentro da indústria estão muito fracas
– em grande parte isso decorre da importação
de bens intermediários.
Em termos
mais desagregados, nota-se que alguns segmentos da indústria
apresentaram resultados positivos no ano passado, como: Equipamentos
de instrumentação médico-hospitalares, ópticos
e outros (11,4%), Outros equipamentos de transporte (8,0%), Minerais
não metálicos (3,2%) e Produtos de metal (2,6%).
No entanto, cabe ressalvar que são segmentos cujos produtos
são muito específicos (como o primeiro), ou estão
ligados ao desempenho do setor agropecuário (como a produção
de caminhões no segundo) ou à atividade da construção
civil (como o de Minerais não metálicos e o de Produtos
de metal).
Numa outra
ponta, segmentos mais tradicionais da indústria brasileira
– e grandes contratantes de mão-de-obra – amargaram
quedas acentuadas em 2011, como o Têxtil (–14,9%),
o de Calçados e artigos de couro (–10,4%), o de Vestuário
e acessórios (–4,4%) e, em menor proporção,
o de Borracha e plástico (–1,3%) e o de Madeira (–0,9%).
O fato é que o desempenho da indústria em 2011 dependeu
mais da evolução dos segmentos produtores de commodities,
como os das Indústrias extrativas, cuja produção
cresceu 2,1% em 2011, e como os de derivados de petróleo
e de celulose e papel. O agravante da evolução da
produção em 2011 é que, em qualquer comparação,
ela vem desacelerando, ou melhor, vem se retraindo nos últimos
trimestres.
Em 2012 a
indústria estará em uma encruzilhada. Por um lado,
se valerá das medidas de aquecimento da economia que o
Governo vem tomando. Isso a levará a obter melhores resultados.
No entanto, somente isso poderá não ser suficiente,
porque os entraves competitivos para as empresas brasileiras (câmbio
valorizado, carecias de infraestrutura e logística, elevada
carga tributária e alto custo do capital) poderão
não mudar no curto prazo, exceto se o Governo se empenhar
fortemente em reformas e em medidas adicionais. A indústria
deve redobrar ainda seu esforço de obter maior produtividade,
fazendo mais investimentos em capital – que, via de regra,
tragam novas tecnologias – e qualificando sua mão-de-obra.
É o que cabe às empresas brasileiras. Ao Governo,
por fim, cabe executar um amplo programa de aumento da produtividade
em toda a economia brasileira.
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