31 de janeiro de 2012

Indústria
Uma encruzilhada em 2012


  

 
A produção da indústria brasileira cresceu 0,3% em 2011, um resultado muito fraco que, certamente, ficou abaixo de qualquer projeção feita no início daquele ano. Em última instância, o que levou a indústria a ter tão parco desempenho foram fatores que hoje são indiscutíveis, como a perda de competitividade frente aos bens importados, a qual se deveu ao elevado custo de se produzir no Brasil e ao câmbio valorizado. Não havendo progresso nessas duas áreas pouco se pode esperar em termos de uma recuperação sólida do setor. É verdade também que a indústria refletiu o menor vigor da economia brasileira decorrente da elevação da taxa de juros e das medidas macroprudenciais do Governo iniciadas já no final de 2010 – assim como ocorreu com os demais setores – e o momento difícil pelo qual atravessam as principais economias do mundo, notadamente as da Europa.

Observa-se, segundo os dados do IBGE, que no ano de 2011 a produção do setor de Bens de capital, com aumento de 3,0%, fez frente à queda de 2,0% na produção de Bens duráveis, enquanto o setor de Bens intermediários, o de maior peso na indústria, apresentou ligeiro aumento de 0,3% e o de Bens de consumo semi e não duráveis, retração de 0,2%. Esses resultados mostram que os investimentos na economia continuaram relativamente firmes – em grande parte porque o crescimento de Bens de capital decorreu do aumento da produção de bens de capital para equipamentos de transporte, para construção e para fins industriais –, o que é um bom sinal, mas, por outro lado, eles também mostram que o “termômetro” do setor industrial como um todo, dado pelas atividades do segmento de Bens intermediários, está muito baixo, ou seja, as compras dentro da indústria estão muito fracas – em grande parte isso decorre da importação de bens intermediários.

Em termos mais desagregados, nota-se que alguns segmentos da indústria apresentaram resultados positivos no ano passado, como: Equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros (11,4%), Outros equipamentos de transporte (8,0%), Minerais não metálicos (3,2%) e Produtos de metal (2,6%). No entanto, cabe ressalvar que são segmentos cujos produtos são muito específicos (como o primeiro), ou estão ligados ao desempenho do setor agropecuário (como a produção de caminhões no segundo) ou à atividade da construção civil (como o de Minerais não metálicos e o de Produtos de metal).

Numa outra ponta, segmentos mais tradicionais da indústria brasileira – e grandes contratantes de mão-de-obra – amargaram quedas acentuadas em 2011, como o Têxtil (–14,9%), o de Calçados e artigos de couro (–10,4%), o de Vestuário e acessórios (–4,4%) e, em menor proporção, o de Borracha e plástico (–1,3%) e o de Madeira (–0,9%). O fato é que o desempenho da indústria em 2011 dependeu mais da evolução dos segmentos produtores de commodities, como os das Indústrias extrativas, cuja produção cresceu 2,1% em 2011, e como os de derivados de petróleo e de celulose e papel. O agravante da evolução da produção em 2011 é que, em qualquer comparação, ela vem desacelerando, ou melhor, vem se retraindo nos últimos trimestres.

Em 2012 a indústria estará em uma encruzilhada. Por um lado, se valerá das medidas de aquecimento da economia que o Governo vem tomando. Isso a levará a obter melhores resultados. No entanto, somente isso poderá não ser suficiente, porque os entraves competitivos para as empresas brasileiras (câmbio valorizado, carecias de infraestrutura e logística, elevada carga tributária e alto custo do capital) poderão não mudar no curto prazo, exceto se o Governo se empenhar fortemente em reformas e em medidas adicionais. A indústria deve redobrar ainda seu esforço de obter maior produtividade, fazendo mais investimentos em capital – que, via de regra, tragam novas tecnologias – e qualificando sua mão-de-obra. É o que cabe às empresas brasileiras. Ao Governo, por fim, cabe executar um amplo programa de aumento da produtividade em toda a economia brasileira.
 

 
Segundo dados do IBGE, a indústria geral assinalou em dezembro avanço de 0,9% frente a novembro na série com dados dessazonalizados, após pequeno crescimento de 0,2% em novembro e três resultados negativos entre agosto e outubro. Frente ao mesmo mês do ano anterior, a produção industrial registrou o quarto resultado negativo consecutivo (–1,2%). No ano, a indústria geral acumulou um crescimento de apenas 0,3%, comparativamente ao avanço de 10,5% no ano de 2010.

Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, os bens de consumo duráveis (7,0%) e bens de capital (3,7%) apontaram os avanços mais expressivos em dezembro de 2011. Os segmentos de bens de consumo semi e não duráveis (0,5%) e de bens intermediários (0,2%) também mostraram taxas positivas no mês em questão, porém abaixo da média da indústria (0,9%).

Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor produtor de bens de consumo duráveis (–5,5%) apontou a taxa negativa mais elevada, pressionado principalmente pelo setor automobilístico (–10,3%). Os segmentos de bens intermediários (–0,6%) e de bens de consumo semi e não duráveis (–0,9%) também apontaram taxas negativas, mas que ficaram abaixo da média da indústria (–1,2%). Somente o setor de bens de capital (0,1%) assinalou resultado positivo entre as categorias de uso, com destaque para bens de capital para transportes (17,5%) e bens de capital agrícola (35,1%).

No índice acumulado do ano, os bens de capital (3,3%) ficaram bem acima da média geral (0,3%), devidos aos bens de capital para equipamentos de transporte, para construção e para fins industriais. Os segmentos de bens intermediários (0,3%) e de bens de consumo semi e não duráveis (–0,2%) praticamente repetiram o patamar de 2010. A produção de bens de consumo duráveis, por sua vez, assinalou queda de 2,0%.

 

 
Em termos setoriais, na passagem de novembro para dezembro 16 dos 27 ramos pesquisados apresentaram alta. A principal influência positiva sobre o total da indústria veio de veículos automotores (5,2%), seguido de alimentos (3,9%), equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros (16,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (6,4%), máquinas e equipamentos (2,1%), outros equipamentos de transporte (2,4%), e celulose e papel (1,3%). Por outro lado, entre as atividades que reduziram a produção, os setores que mais pressionaram a taxa negativamente foram: edição e impressão (–4,0%), vestuário e acessórios (–9,4%), têxtil (–4,6%), produtos de metal (–2,0%) e borracha e plástico (–1,8%).

Na comparação com dezembro de 2010 a produção industrial recuou em 16 das 27 atividades pesquisadas. Cabe destacar que dezembro de 2011 (22 dias) teve um dia útil a menos que igual mês do ano anterior (23). As taxas negativas mais expressivas vieram de edição e impressão (–8,9%), têxtil (–17,5%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (–16,0%), refino de petróleo e produção de álcool (–4,4%), borracha e plástico (–7,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–8,3%), vestuário e acessórios (–21,6%) e calçados e artigos de couro (–19,6%). Entre os ramos que registraram crescimento na produção, destacou-se alimentos (4,6%), equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros (20,3%), veículos automotores (2,1%), celulose e papel (4,6%), bebidas (2,9%) e indústrias extrativas (2,1%).

No acumulado de 2011, a indústria cresceu apenas 0,3%, com 15 dos 27 setores investigados assinalando expansão na produção. Os impactos positivos mais expressivos vieram de veículos automotores (2,4%), outros equipamentos de transporte (8,0%), indústrias extrativas (2,1%), minerais não metálicos (3,2%), equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, ópticos e outros (11,4%), produtos de metal (2,6%) e fumo (13,4%). Por outro lado, entre os 12 ramos que apontaram queda na produção, podemos destacar os setores de têxtil (–14,9%), outros produtos químicos (–2,1%), calçados e artigos de couro (–10,4%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–3,7%).

 

 

 

 

 

 

 

 

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