2 de janeiro de 2012

Economia e Política Econômica
O preço relativo do investimento no Brasil


  

 
Segundo um estudo que o IEDI acaba de concluir, dentre os desafios a serem enfrentados para que a economia brasileira logre ampliar o investimento, dois aspectos relativos ao seu preço relativo devem ser considerados. O primeiro reside no preço relativo do investimento fixo estar declinando no país. Trata-se de ponto muito favorável, pois quem se arrisca a imobilizar seus recursos para gerar ou ampliar sua base produtiva só o faz antevendo um retorno que lhe propicie retorno suficiente capaz de adquirir uma cesta de consumo maior do que a que desfrutava antes de investir. Se o preço da FBCF cai frente ao preço dos bens e serviços finais, mais atrativo será criar capacidade produtiva. Mais precisamente:

  • No Brasil, segundo dados da ONU e tomando o ano de 1985 como ano-base igual a 1, o preço relativo do investimento fixo em termos do PIB tem caído: de 1,14 em 2004 para 1,05 em 2010.
     
  • O preço relativo do investimento fixo em termos do consumo final (consumo das famílias e consumo do governo) também tem recuado quase que em igual grandeza.
     
  • Todavia, comparativamente a uma seleção abrangente de países, o preço relativo da FBCF do Brasil em termos do PIB ficou acima do da maioria destas economias – o preço relativo da FBCF no Brasil só foi superado pelo da China, Indonésia e Tailândia.
     
  • Atendo-se ao preço relativo da inversão fixa em termos do consumo final, em 2009, o Brasil só registrou uma razão inferior à da Tailândia e à da Indonésia. O da China ficou menor que o do Brasil, asseverando o efeito do preço das exportações no deflator do PIB chinês. Logo, comparativamente, a posição brasileira é menos cômoda do que aparenta.

Daí cabe entrar no segundo aspecto do investimento no Brasil: seu nível de preço (o deflator da formação bruta) tem subido e subido mais do que noutros países. O ponto em questão pode ser abordado pelas Penn World Tables, base de dados que traz o nível do preço do investimento – FBCF mais variação de estoques – em termos do nível de preços do PIB dos EUA (PIB dos EUA igual a 100 para todos os anos). Vale destacar pontos relevantes:

  • O nível do preço da FBCF do Brasil cresceu nos últimos anos atingindo o ápice em 2009, de 85,5 – em 1985, este deflator ficara em 35,4; e, no ano de 2000, foi de 48,1.
     
  • Assim, superou o próprio preço da inversão dos EUA (sob impacto da crise), bem como dos Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan), dos demais BRICS – notadamente China e Índia – e mesmo de países latino-americanos, a exemplo de Argentina, Chile e México, ficando somente menor do que o de países avançados, como Austrália, Canadá, Japão e países europeus, além da Venezuela.
     
  • Para uma multinacional ou firma brasileira internacionalizada e apta a se instalar fora do País, o preço da inversão é variável crucial. Não por menos, determinados estudos já constatarem uma relação negativa entre preço do investimento e valor adicionado na indústria de transformação.

Em suma, o fato é que outros países têm logrado certo dinamismo mesmo com cenário adverso e vêm apresentando, senão cadentes preços relativos do investimento fixo (dados da ONU), ao menos preço do investimento abaixo do brasileiro (conforme as PWT). Por conseguinte, não bastará ao Brasil o mercado interno aquecido para atrair inversões e propiciar adição nova de capital na economia. O abastecimento do mercado consumidor brasileiro pode se processar através pelo investimento e produção realizado em outro país.

Cabe ainda observar que a taxa de câmbio apreciada dos últimos anos concorreu sobremaneira para o investimento em máquinas e equipamentos. O erro que se pode cometer é simplesmente achar desejável a apreciação cambial como meio de baratear e, assim, fomentar o investimento. As políticas produtivas, na verdade, devem se debruçar na redução dos custos para o investimento e melhores condições para fabricação in loco de bens de capital e instalações. Não significa que o Brasil deva produzir toda a maquinaria que precisa – a redução na alíquota de importação de certos bens de capital inclusive é uma medida acertada.

Significa, sim, que os esforços passam pela maior oferta doméstica de mão-de-obra qualificada – a redução do conhecido déficit de engenheiros, por exemplo; pela ampliação e aprimoramento em serviços de apoio, como na área de medidas e de precisão, necessários para a produção de bens de capital e de consumo de maior valor agregado; sem citar a premência de se melhorar a infraestrutura e de simplificar o sistema tributário.
 

 

 

 

 

 

 

 

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