O ano de 2011 deixa revelações da maior importância
para o mundo e para o Brasil, assim como sugere tendências
inquietantes para o novo ano. A economia americana se mostrou
fraca, pois o seu atual padrão de crescimento não
é suficiente para alterar a condição de alto
desemprego que prevalece no país e não imprime maior
velocidade ao lento processo de desendividamento familiar, o que
freia o consumo e como este é o carro chefe da economia
líder mundial, retrai sua perspectiva de expansão.
Segundo a OCDE, o PIB americano teve variação de
1,7% em 2011 e deverá alcançar 2,0% em 2012, índices
bem melhores do que em outros pólos de economias industrializadas,
mas ainda assim insuficientes.
No entanto,
é preciso sublinhar que a economia dos EUA também
dá sinais de força, já que ensaia uma reindustrialização
e parece mais robusta do ponto de vista bancário e financeiro.
De resto, o embate político paralisa a execução
de políticas de estímulo fiscal que poderiam intensificar
o crescimento. Nesse vácuo, o Banco Central age por meio
da expansão monetária, o que desvaloriza a moeda
norte-americana e dá maior competitividade à produção
local, mas causa distorções cambiais enormes mundo
afora e tende a acentuar muito a valorização de
uma moeda como a brasileira.
Na Europa,
a crise da dívida se descortinou. Trata-se de um complexo
desequilíbrio de estoque correspondente a um excessivo
endividamento privado que após as políticas adotadas
desde 2008 se transformou em crise de dívida soberana.
Ao longo do ano, o que as políticas adotadas pelos países
europeus obtiveram foi um ganho de tempo, enquanto prosperava
a convicção de que as dívidas acumuladas
serão impagáveis, especialmente em condições
de baixo crescimento ou de recessão econômica. A
decisão recente de endurecimento dos controles fiscais
dos países da zona do euro teve o efeito possivelmente
transitório de bloquear a onda de desconfiança que
já ameaçava chegar ao núcleo de países
europeus, mas não avançou na renegociação
dos compromissos dos países mais endividados e na formação
de um horizonte de dinamização da economia do bloco.
Esses temas continuarão na base dos receios de ruptura
financeira e de recessão em 2012. A projeção
para o ano que vem, também da OCDE, é de um crescimento
de 0,2%, estimando em 1,6% a variação em 2011.
Entre as economias
asiáticas, a expansão do Japão deverá
ser maior em 2012 (2,0%) do que em 2011 (-0,3%), em face dos fenômenos
naturais ocorridos nesse último ano. De qualquer forma,
não há qualquer perspectiva de que a terceira maior
economia mundial deixe para trás o quadro de baixíssimo
crescimento das duas últimas décadas. Para complicar,
hoje mais do que em qualquer outro momento do período recente,
uma desaceleração do crescimento da China, que já
é a segunda maior economia do mundo, se coloca como provável.
Eixo de uma ligação que foi se formando entre as
economias desenvolvidas e as economias emergentes, a economia
chinesa, se de fato reduzir significativamente uma expansão
média que vem sendo de 10% ao ano, espalhará a crise
internacional para o resto dos países emergentes e aprofundará
as disputas internacionais pelos poucos mercados dinâmicos
do mundo. A OCDE projeta 8,5% de crescimento para 2012, o que
pode se revelar otimista.
Nem seria
necessário advertir que é nesta condição
de um dos raros mercados de consumo em crescimento e, portanto,
alvo de uma intensa concorrência de produtos importados,
que aparece o Brasil nesse contexto mundial. Nossa economia surpreendeu
no final de 2011 com uma desaceleração forte demais.
Teve crescimento zero no terceiro trimestre e deverá apresentar
uma expansão no último trimestre também débil.
Isso significa dizer que o ânimo de consumidores e empresários
em consumir e investir na entrada de 2012 pode se revelar fraco.
Nessas condições
nosso país terá em 2012 que encontrar uma variante
de política econômica com distinções
relevantes com relação àquela que, com sucesso,
combateu o contágio da crise em 2008 e 2009. Desta vez,
o declínio do ciclo de consumo e investimento é
endógeno e pode não admitir uma política
compensatória tão apoiada, como fora anteriormente,
na expansão do crédito público, moderadamente
intensiva em estímulos fiscais e que praticamente não
contou com mecanismo monetário. Desta feita, a redução
de taxa de juros e o aumento dos investimentos públicos
e privados em infraestrutura e em habitação deverão
ser tão mais acionados e terão uma relevância
tanto maior quanto mais se confirme a fase adversa que agora é
enfrentada pela economia brasileira.
Por outro
lado, através de instrumentos de defesa comercial e de
sustentação da taxa de câmbio a política
econômica terá também a difícil tarefa
de reduzir a velocidade com que as importações vêm
penetrando no mercado brasileiro, o que na prática está
reduzindo o multiplicador em nossa economia para níveis,
talvez, inferiores a 1. Do ponto de vista da indústria,
seja qual for o cenário da economia brasileira como um
todo, não nos parece que em 2012 haverá um desempenho
senão modesto. No conceito PIB, a expansão do valor
agregado no setor deve ter sido em 2011 de 1,5%, uma taxa que
pode se repetir em 2012. Quanto à produção
industrial, cuja variação não deve ter sido
superior a 1% em 2011, a perspectiva é de uma evolução
algo maior, em torno a 2,5%.