30 de dezembro de 2011

Economia e Política Econômica
O ano de 2011 e os desafios para 2012


   

 
O ano de 2011 deixa revelações da maior importância para o mundo e para o Brasil, assim como sugere tendências inquietantes para o novo ano. A economia americana se mostrou fraca, pois o seu atual padrão de crescimento não é suficiente para alterar a condição de alto desemprego que prevalece no país e não imprime maior velocidade ao lento processo de desendividamento familiar, o que freia o consumo e como este é o carro chefe da economia líder mundial, retrai sua perspectiva de expansão. Segundo a OCDE, o PIB americano teve variação de 1,7% em 2011 e deverá alcançar 2,0% em 2012, índices bem melhores do que em outros pólos de economias industrializadas, mas ainda assim insuficientes.

No entanto, é preciso sublinhar que a economia dos EUA também dá sinais de força, já que ensaia uma reindustrialização e parece mais robusta do ponto de vista bancário e financeiro. De resto, o embate político paralisa a execução de políticas de estímulo fiscal que poderiam intensificar o crescimento. Nesse vácuo, o Banco Central age por meio da expansão monetária, o que desvaloriza a moeda norte-americana e dá maior competitividade à produção local, mas causa distorções cambiais enormes mundo afora e tende a acentuar muito a valorização de uma moeda como a brasileira.

Na Europa, a crise da dívida se descortinou. Trata-se de um complexo desequilíbrio de estoque correspondente a um excessivo endividamento privado que após as políticas adotadas desde 2008 se transformou em crise de dívida soberana. Ao longo do ano, o que as políticas adotadas pelos países europeus obtiveram foi um ganho de tempo, enquanto prosperava a convicção de que as dívidas acumuladas serão impagáveis, especialmente em condições de baixo crescimento ou de recessão econômica. A decisão recente de endurecimento dos controles fiscais dos países da zona do euro teve o efeito possivelmente transitório de bloquear a onda de desconfiança que já ameaçava chegar ao núcleo de países europeus, mas não avançou na renegociação dos compromissos dos países mais endividados e na formação de um horizonte de dinamização da economia do bloco. Esses temas continuarão na base dos receios de ruptura financeira e de recessão em 2012. A projeção para o ano que vem, também da OCDE, é de um crescimento de 0,2%, estimando em 1,6% a variação em 2011.

Entre as economias asiáticas, a expansão do Japão deverá ser maior em 2012 (2,0%) do que em 2011 (-0,3%), em face dos fenômenos naturais ocorridos nesse último ano. De qualquer forma, não há qualquer perspectiva de que a terceira maior economia mundial deixe para trás o quadro de baixíssimo crescimento das duas últimas décadas. Para complicar, hoje mais do que em qualquer outro momento do período recente, uma desaceleração do crescimento da China, que já é a segunda maior economia do mundo, se coloca como provável. Eixo de uma ligação que foi se formando entre as economias desenvolvidas e as economias emergentes, a economia chinesa, se de fato reduzir significativamente uma expansão média que vem sendo de 10% ao ano, espalhará a crise internacional para o resto dos países emergentes e aprofundará as disputas internacionais pelos poucos mercados dinâmicos do mundo. A OCDE projeta 8,5% de crescimento para 2012, o que pode se revelar otimista.

Nem seria necessário advertir que é nesta condição de um dos raros mercados de consumo em crescimento e, portanto, alvo de uma intensa concorrência de produtos importados, que aparece o Brasil nesse contexto mundial. Nossa economia surpreendeu no final de 2011 com uma desaceleração forte demais. Teve crescimento zero no terceiro trimestre e deverá apresentar uma expansão no último trimestre também débil. Isso significa dizer que o ânimo de consumidores e empresários em consumir e investir na entrada de 2012 pode se revelar fraco.

Nessas condições nosso país terá em 2012 que encontrar uma variante de política econômica com distinções relevantes com relação àquela que, com sucesso, combateu o contágio da crise em 2008 e 2009. Desta vez, o declínio do ciclo de consumo e investimento é endógeno e pode não admitir uma política compensatória tão apoiada, como fora anteriormente, na expansão do crédito público, moderadamente intensiva em estímulos fiscais e que praticamente não contou com mecanismo monetário. Desta feita, a redução de taxa de juros e o aumento dos investimentos públicos e privados em infraestrutura e em habitação deverão ser tão mais acionados e terão uma relevância tanto maior quanto mais se confirme a fase adversa que agora é enfrentada pela economia brasileira.

Por outro lado, através de instrumentos de defesa comercial e de sustentação da taxa de câmbio a política econômica terá também a difícil tarefa de reduzir a velocidade com que as importações vêm penetrando no mercado brasileiro, o que na prática está reduzindo o multiplicador em nossa economia para níveis, talvez, inferiores a 1. Do ponto de vista da indústria, seja qual for o cenário da economia brasileira como um todo, não nos parece que em 2012 haverá um desempenho senão modesto. No conceito PIB, a expansão do valor agregado no setor deve ter sido em 2011 de 1,5%, uma taxa que pode se repetir em 2012. Quanto à produção industrial, cuja variação não deve ter sido superior a 1% em 2011, a perspectiva é de uma evolução algo maior, em torno a 2,5%.
 

 

 

 

 

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