16 de dezembro de 2011

Economia e Política Econômica
O modelo de desenvolvimento


  

 
A divulgação do PIB brasileiro do terceiro trimestre desse ano permite abordar o tema das tendências da economia brasileira após a grande crise mundial deflagrada em setembro de 2008. A crise ainda está em processo e novos rumos poderão ser adicionados. Por outro lado, a política econômica brasileira está mostrando disposição em direcionar suas ações para áreas (juros, câmbio e políticas industriais e de inovação) que poderão levar a mudanças no cenário da economia doméstica.

Mas, mantidas as tendências atuais, parecem claros os seguintes delineamentos. Primeiramente, o PIB brasileiro do terceiro trimestre de 2011 é 7,8% maior do que o seu correspondente em 2008, o que significa dizer que nossa economia logrou superar o efeito do contágio da crise mundial. Este resultado, que em si deve ser sublinhado como muito positivo, é revelador, porém, de que em bases relativas com economias emergentes, aprofundou-se o fosso entre o crescimento brasileiro e outros países, como China e Índia, a favor destes últimos.

Ainda mais importante do que o quantitativo do desempenho econômico é a estrutura do crescimento da economia brasileira. Os dados mostram que o acréscimo do consumo das famílias, de 14,2%, é quem puxa o aumento do PIB, enquanto o investimento (+11,8%) tem papel subsidiário. Exportações de bens e serviços, a despeito de toda pujança do setor agropecuário e da mineração, tiveram baixo dinamismo (+5,1%), sucumbindo à fraqueza das exportações de manufaturados, ao passo que as importações, também manifestando a frágil competitividade industrial, tiveram expansão desproporcional (+31,7%).

Serão essas as tendências do próximo ciclo longo da economia brasileira? Uma economia que consome muito e daí tira o seu potencial de crescimento, que investe “para o gasto”, que tem dinâmica exportadora modesta e restrita ao setor primário e é altamente importadora decididamente não é o melhor modelo de desenvolvimento. A enorme riqueza originada do pré-sal poderá aprofundar esse quadro, impulsionando ainda mais o viés exportador nos setores básicos e sustentando o consumo.

Esses processos têm reflexo sobre a estrutura setorial do crescimento da economia. O consumo impulsiona o setor de serviços, que lidera a expansão do PIB com aumento de 8,8%. Nos segmentos que vendem ao consumidor e que financiam o consumo o destaque é ainda maior: a variação do PIB no comércio foi de +9% e na intermediação financeira chegou a +21,8%. Mesmo contando com fatores tão decisivos de crescimento como produtividade e progresso tecnológico, a agropecuária teve performance relativamente modesta (+5,4%).

No entanto, é na indústria que o descompasso aparece nitidamente. Seu PIB desde a crise só cresceu 2,8%, graças à extrativa mineral (+10,7%), construção civil (+11,2%) e serviços industriais como eletricidade (+12,6%). A manufatura puxou para baixo o crescimento e acumulou retrocesso de -3%. Novamente, cabe a indagação: é esse o perfil da economia que nos levará ao desenvolvimento, o qual combina desindustrialização com precoce especialização em serviços?

O predomínio do investimento sobre o consumo e um maior equilíbrio entre importações e exportações são imprescindíveis para assegurar um melhor crescimento de longo prazo, assim como é decisivo preservar o dinamismo do setor primário e reposicionar de forma radical o balanço entre indústria e serviços, redinamizando o primeiro desses setores. Nada disso se faz sem políticas muito determinadas no câmbio, nos juros, na infraestrutura, inovação, produtividade, defesa comercial e em programas de compras governamentais.

Leia aqui o texto completo desta Análise.