A divulgação do PIB brasileiro do terceiro trimestre
desse ano permite abordar o tema das tendências da economia
brasileira após a grande crise mundial deflagrada em setembro
de 2008. A crise ainda está em processo e novos rumos poderão
ser adicionados. Por outro lado, a política econômica
brasileira está mostrando disposição em direcionar
suas ações para áreas (juros, câmbio
e políticas industriais e de inovação) que
poderão levar a mudanças no cenário da economia
doméstica.
Mas, mantidas
as tendências atuais, parecem claros os seguintes delineamentos.
Primeiramente, o PIB brasileiro do terceiro trimestre de 2011
é 7,8% maior do que o seu correspondente em 2008, o que
significa dizer que nossa economia logrou superar o efeito do
contágio da crise mundial. Este resultado, que em si deve
ser sublinhado como muito positivo, é revelador, porém,
de que em bases relativas com economias emergentes, aprofundou-se
o fosso entre o crescimento brasileiro e outros países,
como China e Índia, a favor destes últimos.
Ainda mais
importante do que o quantitativo do desempenho econômico
é a estrutura do crescimento da economia brasileira. Os
dados mostram que o acréscimo do consumo das famílias,
de 14,2%, é quem puxa o aumento do PIB, enquanto o investimento
(+11,8%) tem papel subsidiário. Exportações
de bens e serviços, a despeito de toda pujança do
setor agropecuário e da mineração, tiveram
baixo dinamismo (+5,1%), sucumbindo à fraqueza das exportações
de manufaturados, ao passo que as importações, também
manifestando a frágil competitividade industrial, tiveram
expansão desproporcional (+31,7%).
Serão
essas as tendências do próximo ciclo longo da economia
brasileira? Uma economia que consome muito e daí tira o
seu potencial de crescimento, que investe “para o gasto”,
que tem dinâmica exportadora modesta e restrita ao setor
primário e é altamente importadora decididamente
não é o melhor modelo de desenvolvimento. A enorme
riqueza originada do pré-sal poderá aprofundar esse
quadro, impulsionando ainda mais o viés exportador nos
setores básicos e sustentando o consumo.
Esses processos
têm reflexo sobre a estrutura setorial do crescimento da
economia. O consumo impulsiona o setor de serviços, que
lidera a expansão do PIB com aumento de 8,8%. Nos segmentos
que vendem ao consumidor e que financiam o consumo o destaque
é ainda maior: a variação do PIB no comércio
foi de +9% e na intermediação financeira chegou
a +21,8%. Mesmo contando com fatores tão decisivos de crescimento
como produtividade e progresso tecnológico, a agropecuária
teve performance relativamente modesta (+5,4%).
No entanto,
é na indústria que o descompasso aparece nitidamente.
Seu PIB desde a crise só cresceu 2,8%, graças à
extrativa mineral (+10,7%), construção civil (+11,2%)
e serviços industriais como eletricidade (+12,6%). A manufatura
puxou para baixo o crescimento e acumulou retrocesso de -3%. Novamente,
cabe a indagação: é esse o perfil da economia
que nos levará ao desenvolvimento, o qual combina desindustrialização
com precoce especialização em serviços?
O predomínio
do investimento sobre o consumo e um maior equilíbrio entre
importações e exportações são
imprescindíveis para assegurar um melhor crescimento de
longo prazo, assim como é decisivo preservar o dinamismo
do setor primário e reposicionar de forma radical o balanço
entre indústria e serviços, redinamizando o primeiro
desses setores. Nada disso se faz sem políticas muito determinadas
no câmbio, nos juros, na infraestrutura, inovação,
produtividade, defesa comercial e em programas de compras governamentais.
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