9 de dezembro de 2011

Economia e Política Econômica
A indústria e o PIB


  

 
O resultado do PIB do terceiro trimestre desse ano, divulgado no dia 06/12/2011, merece uma reflexão toda especial. A variação do PIB foi zero, tendo sido a indústria o setor que puxou para baixo o resultado porque declinou 0,9% com relação ao trimestre anterior na série com ajuste sazonal. Sendo considerada apenas a indústria de transformação, a queda foi maior, de -1,4%. Isso mostra um setor que, a olhos vistos, está perdendo força em seu processo de evolução. Sabemos as razões que vêm levando a indústria a esta condição de ser condutora de retração e não, como durante muitos anos foi, um agente potencializador da impulsão do crescimento econômico brasileiro. Esta é uma trajetória que vem se desenvolvendo já há algum tempo. Não custa lembrar que desde o início da crise mundial de 2008 a manufatura brasileira oscilou entre um agudo declínio em 2009 e uma notável recuperação em 2010, mas sem evoluir sua produção até os dias atuais.

Uma perda aguda de competitividade e custos sistêmicos muito elevados combinados com uma investida sem precedentes sob o mercado brasileiro por parte de países com grandes excedentes de produção respondem por esse processo. Chegamos a um ponto em que somente um câmbio mais favorável para o barateamento da produção nacional será capaz de acomodar as variáveis em jogo para permitir que a indústria tenha um crescimento mínimo que pelo menos não contamine e não deprima a evolução econômica brasileira. A política econômica já abriu mão de itens do controle cambial que vinha promovendo através dos aumentos do IOF sobre o movimento do capital estrangeiro. Mas, não deve perder de vista o fato assinalado acima e que sublinhamos novamente: o câmbio é, a curto prazo, o único instrumento capaz de neutralizar em parte o acúmulo de distorções que levaram à situação atual. Para o médio e o longo prazo, devemos promover o aumento da produtividade da economia, incluindo o setor industrial, e reduzir os custos que vêm fazendo do Brasil uma das economias mais caras do mundo.

Os últimos números da economia brasileira, no entanto, mostram um outro fato que torna mais grave a situação. Ao que tudo indica, o descompasso industrial já se alastra para o segmento que tem o maior peso econômico. De fato, em serviços a variação do PIB foi também negativa em 0,3%. Isso decorreu de diminuições ou desacelerações do crescimento do valor gerado por segmentos de serviços que de alguma forma têm relação de dependência com a dinâmica industrial: o comércio, especialmente o comércio varejista, transportes e serviços de informática. A indústria tem a qualidade, para o bem ou para o mal, de se corresponder com outros setores da economia de uma forma intensa e isso é o que está ocorrendo. O setor já desemprega, o que deprime o varejo; investe menos, o que reduz as compras de serviços, incluindo informática; e retrai também, por seu menor nível de atividade, o giro de mercadorias.

As últimas medidas que o governo tomou na direção do fortalecimento do consumo precisam ser complementadas, por exemplo, estendendo o incentivo tributário concedido aos produtos da linha branca para o segmento de móveis. E precisa cuidar para que o aumento da demanda familiar se traduza de fato em dinamismo da agregação de valor gerada internamente.
 

 

 

 

 

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