O resultado do PIB do terceiro trimestre desse ano, divulgado
no dia 06/12/2011, merece uma reflexão toda especial. A
variação do PIB foi zero, tendo sido a indústria
o setor que puxou para baixo o resultado porque declinou 0,9%
com relação ao trimestre anterior na série
com ajuste sazonal. Sendo considerada apenas a indústria
de transformação, a queda foi maior, de -1,4%. Isso
mostra um setor que, a olhos vistos, está perdendo força
em seu processo de evolução. Sabemos as razões
que vêm levando a indústria a esta condição
de ser condutora de retração e não, como
durante muitos anos foi, um agente potencializador da impulsão
do crescimento econômico brasileiro. Esta é uma trajetória
que vem se desenvolvendo já há algum tempo. Não
custa lembrar que desde o início da crise mundial de 2008
a manufatura brasileira oscilou entre um agudo declínio
em 2009 e uma notável recuperação em 2010,
mas sem evoluir sua produção até os dias
atuais.
Uma perda
aguda de competitividade e custos sistêmicos muito elevados
combinados com uma investida sem precedentes sob o mercado brasileiro
por parte de países com grandes excedentes de produção
respondem por esse processo. Chegamos a um ponto em que somente
um câmbio mais favorável para o barateamento da produção
nacional será capaz de acomodar as variáveis em
jogo para permitir que a indústria tenha um crescimento
mínimo que pelo menos não contamine e não
deprima a evolução econômica brasileira. A
política econômica já abriu mão de
itens do controle cambial que vinha promovendo através
dos aumentos do IOF sobre o movimento do capital estrangeiro.
Mas, não deve perder de vista o fato assinalado acima e
que sublinhamos novamente: o câmbio é, a curto prazo,
o único instrumento capaz de neutralizar em parte o acúmulo
de distorções que levaram à situação
atual. Para o médio e o longo prazo, devemos promover o
aumento da produtividade da economia, incluindo o setor industrial,
e reduzir os custos que vêm fazendo do Brasil uma das economias
mais caras do mundo.
Os últimos
números da economia brasileira, no entanto, mostram um
outro fato que torna mais grave a situação. Ao que
tudo indica, o descompasso industrial já se alastra para
o segmento que tem o maior peso econômico. De fato, em serviços
a variação do PIB foi também negativa em
0,3%. Isso decorreu de diminuições ou desacelerações
do crescimento do valor gerado por segmentos de serviços
que de alguma forma têm relação de dependência
com a dinâmica industrial: o comércio, especialmente
o comércio varejista, transportes e serviços de
informática. A indústria tem a qualidade, para o
bem ou para o mal, de se corresponder com outros setores da economia
de uma forma intensa e isso é o que está ocorrendo.
O setor já desemprega, o que deprime o varejo; investe
menos, o que reduz as compras de serviços, incluindo informática;
e retrai também, por seu menor nível de atividade,
o giro de mercadorias.
As últimas
medidas que o governo tomou na direção do fortalecimento
do consumo precisam ser complementadas, por exemplo, estendendo
o incentivo tributário concedido aos produtos da linha
branca para o segmento de móveis. E precisa cuidar para
que o aumento da demanda familiar se traduza de fato em dinamismo
da agregação de valor gerada internamente.