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O crescimento de apenas 1,0% da indústria de transformação
no acumulado até setembro e o desempenho mês a mês
(série dessazonalizada) asseveram a desaceleração
da economia e as dificuldades do setor no enfrentamento dos bens
importados e na inserção internacional em meio ou
à apreciação ou à oscilação
em demasia da taxa de câmbio. Mesmo com o mercador interno
perdendo fôlego, a desaceleração industrial
antecedia o menor dinamismo das compras domésticas brasileiras.
Se o Plano Brasil Maior está tentando responder a tanto,
já está sendo posto à prova.
Pelo prisma
da tipologia por intensidade tecnológica da indústria
de transformação, adotada pela OCDE, cumpre expor
alguns pontos:
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Das
quatro faixas de intensidade, alta; média-alta; média-baixa;
e baixa, a mais intensiva em tecnologia foi a que mais cresceu
no acumulado dos três primeiros meses, 3,8%. O segmento
de média-alta intensidade cresceu menos, 1,5%, mas acima
da variação lograda pela indústria de transformação
como um todo.
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Apesar de tanto, as balanças comerciais dos produtos
típicos das indústrias de alta e de média-alta
intensidade se deterioraram fortemente na comparação
entre acumulados até setembro de 2011 e de 2010. De fato,
o déficit dos produtos da indústria de alta intensidade
cresceu para US$ 23,2 bilhões, enquanto o dos bens do
segmento de média-alta saltou para US$ 38,3 bilhões.
Ou seja, apesar do incremento na produção, este
não acompanhou o dinamismo da demanda interna.
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A produção física das atividades de média-baixa
intensidade se expandiu em 1,5%. Esta faixa reflete sobremaneira
os comportamentos da produção de bens metálicos
(metalurgia básica e fabricação de produtos
metálicos) e da fabricação de derivados
do petróleo refinado, álcool e outros combustíveis.
A produção de bens metálicos teve incremento
de somente 1,2% no acumulado até o nono mês. Isto
não impediu que a balança comercial de produtos
metálicos chegasse ao superávit de US$ 6,8 bilhões.
Ainda assim, tal resultado positivo não contrabalançou
o déficit de produtos derivados de petróleo refinado,
outros combustíveis e afins. Assim, o saldo dos bens
típicos das indústrias de média-baixa intensidade
ter ficado com déficit de US$ 5,6 bilhões.
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O segmento menos intensivo em termos tecnológicos foi
o único cuja produção declinou, queda de
0,7% em janeiro-setembro. As indústrias de alimentos,
bebidas e fumo tiveram uma produção física
praticamente estável frente a igual período de
2010: variação de -0,1%. As indústrias
madeireiras, de papel e celulose, gráfica e afins lograram
expansão de 2,5%. Ainda assim foram ambas, principalmente
a produção de alimentos, que proporcionaram o
superávit recorde, de US$ 31,8 bilhões dos produtos
da indústria de baixa intensidade tecnológica.
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Por outro lado, ainda dentro da faixa de baixa intensidade,
as indústrias têxtil, do vestuário, couro
e calçados sofreram forte retração no acumulado
do ano, de 10,1%. Como agravante, tecidos, artigos de vestuário,
calçados e afins registraram pela primeira vez déficit
em janeiro-setembro pela série iniciada em 1989.
Vale notar
que as atividades mais dinâmicas têm sido aquelas
a registrarem déficits crescentes. Sua expansão,
pelos segmentos de alta e média-alta intensidade, tem se
dado em contexto específico, focada no mercado interno,
mesmo com a taxa de câmbio adversa.
Porém
a porosidade de suas respectivas cadeias produtivas condicionam
seu poder de competir e reduzem oportunidades para a ampliação
de valor adicionado em território nacional. O ingresso
de importados e o baixo dinamismo das economias avançadas,
reduzindo o leque de mercados importadores tendem a colocar uma
pressão maior sobre os fabricantes domésticos.
Mais grave
ainda está a situação da indústria
têxtil, de vestuário e calçadista, intensiva
em mão-de-obra. Embora hajam exemplos de superação
via design e diferenciação de produtos, há
casos concretos de migração para o exterior de bases
produtivas, não como estratégia de internacionalização,
mas como busca de sobrevivência.
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