A queda de 2% da produção da indústria brasileira
em setembro com relação a agosto deve ser relativizada,
dado o incomum declínio da produção de veículos
(-11%) motivado por paralisações das montadoras
em função da acumulação de estoques
em seus pátios. Ainda assim, o quadro de gravidade da retração
industrial permanece de pé. No ano até setembro,
a produção do setor cresceu somente 1,1%. Isso leva
a crer em uma evolução para o ano muito ruim –
na casa de 1%, quando a projeção anterior chegava
a 2% -, o que, por sua vez, levanta a dúvida se a desaceleração
da economia não está sendo excessivamente severa.
A indústria
vem reduzindo seu dinamismo a olhos vistos ao longo desse ano.
Mas, segundo algumas interpretações, não
havia o que temer, pois a despeito da desaceleração
a economia mantinha-se bem e o ponto negativo representado pelo
frágil desempenho industrial correspondia a um fato isolado
atinente ao “lado da oferta”, enquanto os demais setores
da economia, notadamente o de serviços, iam muito bem.
Do lado da demanda, esta se mantinha forte, o que dava justificava
à continuidade do aperto monetário.
Mas, o que
ocorreu de fato foi algo diferente: a fragilidade da indústria
foi contaminando atividades de serviços e o comércio
varejista. Em uma economia com relativo grau de complexidade,
como é a brasileira, os setores não são estanques,
de modo que o recuo do emprego, o menor investimento e a mais
baixa evolução das compras de bens intermediários
por parte de uma indústria em franca de perda de ritmo,
foram puxando para baixo a demanda de insumos e de bens finais
de outros segmentos, transformando o “fato isolado”
em um processo encadeado.
Esse processo
está na base de uma retração que agora parece
ter se tornado plausível no PIB do terceiro trimestre desse
ano com projeção possível para o quarto trimestre.
Isso, por seu turno, configura um quadro até então
impensável em que uma estagnação ou mesmo
uma quase recessão tenha tomado conta da economia brasileira
no segundo semestre de 2011, o que contamina e retrai a perspectiva
de crescimento econômico e do emprego no ano que vem.
Além
disso, pode ser que os dados industriais de setembro já
estejam refletindo um primeiro impacto da crise dos países
mais industrializados sobre o Brasil, através não
das formas clássicas de contágio, como a retração
do comércio e do crédito externo, mas por meio das
expectativas dos empresários e consumidores brasileiros.
A indústria de bens de capital, possivelmente refletindo
a queda das decisões de investimento doméstico diante
do temor de agravamento da crise externa e da fragilidade da indústria
no plano interno, declinou 5,5% frente a agosto. Na mesma direção,
o enquadramento de novos projetos de investimento pelo Banco Nacional
de Desenvolvimento, o BNDES, entrou em queda.
É possível
que em face do mesmo temor de agravamento das condições
internas e externas os consumidores brasileiros já estejam
também contraindo seu consumo e venham a ter uma maior
cautela nas compras de fim de ano, o que pode agravar a desaceleração.
Não existem mecanismos prontos de compensação,
caso os fatores de desestímulo dos gastos dos empresários
e consumidores se imponham, pelo contrário, o momento é
de queda dos investimentos na esfera pública. Apenas a
redução que o Banco Central passou a promover na
taxa básica de juros a partir de agosto poderá ter
efeito contra-restante, mas o prazo para sua efetividade pode
ser longo demais.