3 de novembro de 2011

Indústria e Política Econômica
Até onde vai a desaceleração
da economia brasileira?


   

 
A queda de 2% da produção da indústria brasileira em setembro com relação a agosto deve ser relativizada, dado o incomum declínio da produção de veículos (-11%) motivado por paralisações das montadoras em função da acumulação de estoques em seus pátios. Ainda assim, o quadro de gravidade da retração industrial permanece de pé. No ano até setembro, a produção do setor cresceu somente 1,1%. Isso leva a crer em uma evolução para o ano muito ruim – na casa de 1%, quando a projeção anterior chegava a 2% -, o que, por sua vez, levanta a dúvida se a desaceleração da economia não está sendo excessivamente severa.

A indústria vem reduzindo seu dinamismo a olhos vistos ao longo desse ano. Mas, segundo algumas interpretações, não havia o que temer, pois a despeito da desaceleração a economia mantinha-se bem e o ponto negativo representado pelo frágil desempenho industrial correspondia a um fato isolado atinente ao “lado da oferta”, enquanto os demais setores da economia, notadamente o de serviços, iam muito bem. Do lado da demanda, esta se mantinha forte, o que dava justificava à continuidade do aperto monetário.

Mas, o que ocorreu de fato foi algo diferente: a fragilidade da indústria foi contaminando atividades de serviços e o comércio varejista. Em uma economia com relativo grau de complexidade, como é a brasileira, os setores não são estanques, de modo que o recuo do emprego, o menor investimento e a mais baixa evolução das compras de bens intermediários por parte de uma indústria em franca de perda de ritmo, foram puxando para baixo a demanda de insumos e de bens finais de outros segmentos, transformando o “fato isolado” em um processo encadeado.

Esse processo está na base de uma retração que agora parece ter se tornado plausível no PIB do terceiro trimestre desse ano com projeção possível para o quarto trimestre. Isso, por seu turno, configura um quadro até então impensável em que uma estagnação ou mesmo uma quase recessão tenha tomado conta da economia brasileira no segundo semestre de 2011, o que contamina e retrai a perspectiva de crescimento econômico e do emprego no ano que vem.

Além disso, pode ser que os dados industriais de setembro já estejam refletindo um primeiro impacto da crise dos países mais industrializados sobre o Brasil, através não das formas clássicas de contágio, como a retração do comércio e do crédito externo, mas por meio das expectativas dos empresários e consumidores brasileiros. A indústria de bens de capital, possivelmente refletindo a queda das decisões de investimento doméstico diante do temor de agravamento da crise externa e da fragilidade da indústria no plano interno, declinou 5,5% frente a agosto. Na mesma direção, o enquadramento de novos projetos de investimento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento, o BNDES, entrou em queda.

É possível que em face do mesmo temor de agravamento das condições internas e externas os consumidores brasileiros já estejam também contraindo seu consumo e venham a ter uma maior cautela nas compras de fim de ano, o que pode agravar a desaceleração. Não existem mecanismos prontos de compensação, caso os fatores de desestímulo dos gastos dos empresários e consumidores se imponham, pelo contrário, o momento é de queda dos investimentos na esfera pública. Apenas a redução que o Banco Central passou a promover na taxa básica de juros a partir de agosto poderá ter efeito contra-restante, mas o prazo para sua efetividade pode ser longo demais.
 

 

 
 

 

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