27 de outubro de 2011

Indústria e Comercio Exterior
A disputa pelo mercado interno


  

 
Nos últimos anos avolumou-se extraordinariamente o déficit do comércio exterior brasileiro de produtos típicos da indústria de transformação. O ano de 2011 não é exceção. Até setembro, o resultado negativo acumulado chega a US$ 35,3 bilhões, uma variação com relação a 2010 de 37,1%, o que acena com um déficit total no corrente ano próximo a US$ 50 bilhões.

O que mais chama atenção no levantamento que o IEDI realizou a esse respeito é a grande intensidade, acompanhada de enorme velocidade, do processo de desequilíbrio comercial da indústria. Para se ter idéia, basta observar que o resultado negativo para o mesmo período de janeiro/setembro de 2008, portanto há apenas três anos atrás, mal ultrapassava US$ 4 bilhões. Se retrocedermos um pouco mais no tempo, em 2005 a indústria tinha um superávit de US$ 22,4 bilhões.

Esta extrema mudança não pode estar dissociada dos fenômenos que emergem da crise mundial de 2008, vale dizer, a concorrência muito mais acirrada pelos poucos mercados dinâmicos existentes no mundo, dentre os quais se destaca o Brasil, e a "guerra cambial" protagonizada pelo maior produtor mundial de bens industriais (que já é a China) e pela maior economia do mundo (que ainda é os EUA). Mas corresponde também a uma derrocada da competitividade brasileira, que muitas análises atribuem a um fator isolado entre câmbio, produtividade ou custos sistêmicos do país.

Do nosso ponto de vista, um colapso de tal envergadura não se explica apenas por um desses fatores, mas pelo conjunto deles, o que significa dizer que a tarefa que nos aguarda para não mergulharmos na desindustrialização será extremamente complexa, já que deveremos andar rápido em promover tudo aquilo que fomos deixando em compasso de espera na questão tributária, no financiamento de longo prazo, na infraestrutura, na inovação e na produtividade.

O ano de 2011 reserva uma mudança frisante no eixo do dinamismo do déficit de manufaturas. Até o ano passado a dependência tecnológica fazia valer sua importância em determinar o crescimento do desequilíbrio do comércio exterior de produtos industriais. Assim, era o déficit em bens considerados de maior intensidade tecnológica, como informática, componentes eletrônicos, telecomunicações, eletrônica de consumo e equipamentos de precisão, o que mais crescia. No corrente ano a liderança da expansão passa para o segmento de média-alta tecnologia, onde o determinante tecnológico não é tão impeditivo da produção no espaço nacional, existindo um parque industrial montado por empresas internacionais ou por importantes empresas brasileiras. Aqui, portanto, se processa de fato uma disputa do mercado interno entre empresas instaladas no país, nacionais ou internacionais, e a produção estrangeira.

Ao longo desse ano, o déficit no segmento de alta tecnologia aumentou em 16,3%, enquanto em média-alta tecnologia crescia muito mais, 36,1%. Esse último segmento é composto por ramos que por diferentes razões vêm tendo grande dinamismo no presente ciclo da economia brasileira: bens de capital, no qual rebate a grande evolução do investimento no país; produtos químicos, um ramo cuja demanda tem alta elasticidade com relação ao crescimento do PIB; e veículos, cujo mercado cresce no Brasil como em poucos outros países do mundo.

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