Nos últimos anos avolumou-se extraordinariamente o déficit
do comércio exterior brasileiro de produtos típicos
da indústria de transformação. O ano de 2011
não é exceção. Até setembro,
o resultado negativo acumulado chega a US$ 35,3 bilhões,
uma variação com relação a 2010 de
37,1%, o que acena com um déficit total no corrente ano
próximo a US$ 50 bilhões.
O que mais
chama atenção no levantamento que o IEDI realizou
a esse respeito é a grande intensidade, acompanhada de
enorme velocidade, do processo de desequilíbrio comercial
da indústria. Para se ter idéia, basta observar
que o resultado negativo para o mesmo período de janeiro/setembro
de 2008, portanto há apenas três anos atrás,
mal ultrapassava US$ 4 bilhões. Se retrocedermos um pouco
mais no tempo, em 2005 a indústria tinha um superávit
de US$ 22,4 bilhões.
Esta extrema
mudança não pode estar dissociada dos fenômenos
que emergem da crise mundial de 2008, vale dizer, a concorrência
muito mais acirrada pelos poucos mercados dinâmicos existentes
no mundo, dentre os quais se destaca o Brasil, e a "guerra
cambial" protagonizada pelo maior produtor mundial de bens
industriais (que já é a China) e pela maior economia
do mundo (que ainda é os EUA). Mas corresponde também
a uma derrocada da competitividade brasileira, que muitas análises
atribuem a um fator isolado entre câmbio, produtividade
ou custos sistêmicos do país.
Do nosso ponto
de vista, um colapso de tal envergadura não se explica
apenas por um desses fatores, mas pelo conjunto deles, o que significa
dizer que a tarefa que nos aguarda para não mergulharmos
na desindustrialização será extremamente
complexa, já que deveremos andar rápido em promover
tudo aquilo que fomos deixando em compasso de espera na questão
tributária, no financiamento de longo prazo, na infraestrutura,
na inovação e na produtividade.
O ano de 2011
reserva uma mudança frisante no eixo do dinamismo do déficit
de manufaturas. Até o ano passado a dependência tecnológica
fazia valer sua importância em determinar o crescimento
do desequilíbrio do comércio exterior de produtos
industriais. Assim, era o déficit em bens considerados
de maior intensidade tecnológica, como informática,
componentes eletrônicos, telecomunicações,
eletrônica de consumo e equipamentos de precisão,
o que mais crescia. No corrente ano a liderança da expansão
passa para o segmento de média-alta tecnologia, onde o
determinante tecnológico não é tão
impeditivo da produção no espaço nacional,
existindo um parque industrial montado por empresas internacionais
ou por importantes empresas brasileiras. Aqui, portanto, se processa
de fato uma disputa do mercado interno entre empresas instaladas
no país, nacionais ou internacionais, e a produção
estrangeira.
Ao longo desse
ano, o déficit no segmento de alta tecnologia aumentou
em 16,3%, enquanto em média-alta tecnologia crescia muito
mais, 36,1%. Esse último segmento é composto por
ramos que por diferentes razões vêm tendo grande
dinamismo no presente ciclo da economia brasileira: bens de capital,
no qual rebate a grande evolução do investimento
no país; produtos químicos, um ramo cuja demanda
tem alta elasticidade com relação ao crescimento
do PIB; e veículos, cujo mercado cresce no Brasil como
em poucos outros países do mundo.
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