7 de outubro de 2011

Investimento
A necessidade de políticas para baratear
o preço relativo do investimento no Brasil


  

 
Um dos desafios da economia brasileira tem sido ampliar sua taxa de investimento. Para tanto, um menor custo de investir é crucial. É visando tal intuito que se deve atentar para o preço relativo do investimento em máquinas e equipamentos e em construção no País, pois quem imobiliza sua riqueza em construções, maquinaria e instalações espera aumentar seu poder de compra no futuro. Qual empreendedor investirá em capacidade produtiva se o custo de investir crescer mais do que o preço dos bens e serviços que ele almeja ter?

O preço relativo do investimento fixo vinha sendo favorecido desde 2006, já que o deflator implícito do investimento fixo crescia menos do que os deflatores implícitos dos bens de consumo final e do PIB, indicando barateamento relativo das inversões. Após uma interrupção no ano de 2008, nos dois últimos anos esta tendência foi renovada: em 2009, o deflator implícito do investimento fixo aumentou 3,8%, enquanto o de bens de consumo crescia 6,5% e o deflator implícito do PIB aumentava 5,7%; em 2010, tais variações foram de, respectivamente, 3,1%, 6,4% e 7,3%. Nesse processo, houve barateamento relativo especialmente dos investimentos em máquinas e equipamentos.

Esta recente melhora no preço relativo do investimento fixo - o que significa barateamento relativo dos investimentos - concorreu para a maior taxa de inversão fixa. Muito pouco dessa redução relativa dos preços dos bens de inversão derivou, segundo nosso ponto de vista, de melhoras no plano interno, ou seja, em redução de preços domésticos dos bens de investimento. Estes continuam sofrendo o impacto negativo de graves distorções que vêm se avolumando na economia brasileira: o elevado custo do insumo industrial, da tributação, da energia, da logística e do capital. Nosso setor produtor de bens de investimento poderia se beneficiar também de uma maior produtividade.

O menor preço relativo da formação bruta de capital fixo (FBCF) está claramente associado à apreciação cambial, o que facilitou e barateou a compra de máquinas e equipamentos importados. Neste sentido, a forte desvalorização do real ocorrida no último mês e uma possível oscilação mais pronunciada da taxa de câmbio podem mudar o quadro. É um equívoco achar que o investimento deva depender do real valorizado. Reduzir o custo de investir frente ao preço dos bens e serviços finais pressupõe esforços para baixar custos de matérias-primas e custos sistêmicos e, também, por esforços de caráter estratégico, a saber:

  • Melhor dotar o Brasil de recursos aptos a consubstanciar uma produção competitiva de bens de capital e materiais e serviços de construção, mediante mão-de-obra qualificada, como engenheiros e técnicos; oferta de estrutura e criação de expertise em medição e calibragem de equipamentos e de reparos; além de recursos típicos de P&D.
     
  • Incrementar a produtividade na fabricação de máquinas e equipamentos, na construção e na oferta de outros itens de relevo na formação bruta de capital fixo – plantio de florestas, erguimento de instalações etc.

Uma maior abundância dos fatores baratearia seus respectivos custos, estimulando a construção e a produção fabril de máquinas e equipamentos em bases competitivas. A maior produtividade também. Assim, o preço relativo da FBCF poderia declinar com consistência, não a mercê de aumento de preços nas commodities ou da apreciação do real por conta do diferencial internacional de taxa de juros.

Novas incertezas emergem no cenário externo, o que pode afetar a taxa de investimento na economia. Como cabe lembrar, os anos de 2007 e 2008 foram promissores para o investimento, mas em 2009, a taxa de inversão fixa como um todo e a de investimento em máquinas e equipamentos recuaram. Em 2010, a proporção da FBCF no PIB voltou a aumentar e atingiu 18,8% igualando o nível recorde até então de 1989, sinalizando retorno à trajetória interrompida em 2009. Os desdobramentos da crise internacional no presente ano assevera a premência de estímulo ao investimento em máquinas, equipamentos, instalações e em construção. Para esse objetivo é relevante reduzir o custo dos investimentos.

Para finalizar, cabe destacar que o preço relativo da FBCF em termos do consumo final registrou queda quase ininterrupta desde 2006. Em 2010 logrou seu patamar mais baixo desde 2000, para o qual contribuiu o recuo do deflator de máquinas e equipamentos. O preço relativo da FBCF em termos do PIB em 2010 obteve seu menor nível desde 1999. Não custa observar que o preço relativo da FBCF seja em termos do consumo final, seja frente ao PIB crescera de 1999 a 2004-2005. Em suma, a própria crise internacional barateou a aquisição de bens capital, até por queda na demanda global por “bens para produzir outros bens”. Isto favoreceu, junto com a taxa de câmbio apreciado, o mencionado comportamento do preço relativo do investimento.

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