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Um dos desafios da economia brasileira tem sido ampliar sua taxa
de investimento. Para tanto, um menor custo de investir é
crucial. É visando tal intuito que se deve atentar para
o preço relativo do investimento em máquinas e equipamentos
e em construção no País, pois quem imobiliza
sua riqueza em construções, maquinaria e instalações
espera aumentar seu poder de compra no futuro. Qual empreendedor
investirá em capacidade produtiva se o custo de investir
crescer mais do que o preço dos bens e serviços
que ele almeja ter?
O preço
relativo do investimento fixo vinha sendo favorecido desde 2006,
já que o deflator implícito do investimento fixo
crescia menos do que os deflatores implícitos dos bens
de consumo final e do PIB, indicando barateamento relativo das
inversões. Após uma interrupção no
ano de 2008, nos dois últimos anos esta tendência
foi renovada: em 2009, o deflator implícito do investimento
fixo aumentou 3,8%, enquanto o de bens de consumo crescia 6,5%
e o deflator implícito do PIB aumentava 5,7%; em 2010,
tais variações foram de, respectivamente, 3,1%,
6,4% e 7,3%. Nesse processo, houve barateamento relativo especialmente
dos investimentos em máquinas e equipamentos.
Esta recente
melhora no preço relativo do investimento fixo - o que
significa barateamento relativo dos investimentos - concorreu
para a maior taxa de inversão fixa. Muito pouco dessa redução
relativa dos preços dos bens de inversão derivou,
segundo nosso ponto de vista, de melhoras no plano interno, ou
seja, em redução de preços domésticos
dos bens de investimento. Estes continuam sofrendo o impacto negativo
de graves distorções que vêm se avolumando
na economia brasileira: o elevado custo do insumo industrial,
da tributação, da energia, da logística e
do capital. Nosso setor produtor de bens de investimento poderia
se beneficiar também de uma maior produtividade.
O menor preço
relativo da formação bruta de capital fixo (FBCF)
está claramente associado à apreciação
cambial, o que facilitou e barateou a compra de máquinas
e equipamentos importados. Neste sentido, a forte desvalorização
do real ocorrida no último mês e uma possível
oscilação mais pronunciada da taxa de câmbio
podem mudar o quadro. É um equívoco achar que o
investimento deva depender do real valorizado. Reduzir o custo
de investir frente ao preço dos bens e serviços
finais pressupõe esforços para baixar custos de
matérias-primas e custos sistêmicos e, também,
por esforços de caráter estratégico, a saber:
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Melhor dotar o Brasil de recursos aptos a consubstanciar uma
produção competitiva de bens de capital e materiais
e serviços de construção, mediante mão-de-obra
qualificada, como engenheiros e técnicos; oferta de estrutura
e criação de expertise em medição
e calibragem de equipamentos e de reparos; além de recursos
típicos de P&D.
-
Incrementar a produtividade na fabricação de máquinas
e equipamentos, na construção e na oferta de outros
itens de relevo na formação bruta de capital fixo
– plantio de florestas, erguimento de instalações
etc.
Uma maior
abundância dos fatores baratearia seus respectivos custos,
estimulando a construção e a produção
fabril de máquinas e equipamentos em bases competitivas.
A maior produtividade também. Assim, o preço relativo
da FBCF poderia declinar com consistência, não a
mercê de aumento de preços nas commodities ou da
apreciação do real por conta do diferencial internacional
de taxa de juros.
Novas incertezas
emergem no cenário externo, o que pode afetar a taxa de
investimento na economia. Como cabe lembrar, os anos de 2007 e
2008 foram promissores para o investimento, mas em 2009, a taxa
de inversão fixa como um todo e a de investimento em máquinas
e equipamentos recuaram. Em 2010, a proporção da
FBCF no PIB voltou a aumentar e atingiu 18,8% igualando o nível
recorde até então de 1989, sinalizando retorno à
trajetória interrompida em 2009. Os desdobramentos da crise
internacional no presente ano assevera a premência de estímulo
ao investimento em máquinas, equipamentos, instalações
e em construção. Para esse objetivo é relevante
reduzir o custo dos investimentos.
Para finalizar,
cabe destacar que o preço relativo da FBCF em termos do
consumo final registrou queda quase ininterrupta desde 2006. Em
2010 logrou seu patamar mais baixo desde 2000, para o qual contribuiu
o recuo do deflator de máquinas e equipamentos. O preço
relativo da FBCF em termos do PIB em 2010 obteve seu menor nível
desde 1999. Não custa observar que o preço relativo
da FBCF seja em termos do consumo final, seja frente ao PIB crescera
de 1999 a 2004-2005. Em suma, a própria crise internacional
barateou a aquisição de bens capital, até
por queda na demanda global por “bens para produzir outros
bens”. Isto favoreceu, junto com a taxa de câmbio
apreciado, o mencionado comportamento do preço relativo
do investimento.
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