O Plano Brasil Maior (PBM) tem o mérito de adotar medidas
de redução do custo tributário da indústria
em um momento de dificuldades do setor. Traz ainda contribuições
pioneiras, como a desoneração da folha e a instituição
de um ressarcimento de até 3% das exportações
por tributos não recuperados pelos exportadores. Além
disso, completou a remoção de tributos federais
sobre o investimento. Ficou de fora a retirada dos indevidos incentivos
fiscais que certos estados dão às importações.
Não
devemos perder de vista que, mesmo com as novas medidas, o Brasil
ainda não facilita o investimento, a inovação
e a exportação como fazem outros países.
A nosso ver, uma política industrial pode prever incentivos
mais amplos, desde que reservados para premiar os esforços
de investir e inovar não só da indústria,
mas de todos os setores da economia, e para promover o florescimento
das atividades industriais que nos conduzirão ao futuro.
Áreas de sustentabilidade e de novas tecnologias estão
entre as atividades para as quais o incentivo fiscal pode ser
fundamental.
Talvez o maior
mérito do PBM seja o reconhecimento de que a indústria
é um vetor fundamental do desenvolvimento e que a política
industrial é uma construção permanente, como
salientou a Presidenta Dilma Roussef. Nesse sentido, três
lacunas do Plano são extremamente graves e precisariam
ser rapidamente sanadas sob pena de reduzir em muito o impacto
das medidas.
Primeiramente,
o PBM confere um horizonte muito curto, defensivo e limitado à
política industrial brasileira. Em se tratando da indústria
em um país como o Brasil, onde o peso desse setor na economia
e sua diversificação são relevantes, os objetivos
de longo prazo devem ser ousados. Desafio é a visão
de futuro que se quer e é possível alcançar
para a indústria. A política industrial serve de
“ponte” entre o presente e essa antecipação
do futuro. A ela cabe articular os mecanismos e dedicar energias,
instrumentos, incentivos e recursos para que o objetivo seja confirmado.
Nesse sentido, o PBM é pobre, mas pode evoluir muito como
fruto de debates sobre, especialmente, sua maior lacuna, que é
a ausência de uma visão de futuro da indústria.
Desafios compatíveis
com o momento não faltam. Seria muito relevante a definição
de setores, cadeias ou atividades dentro da preocupação
de desenvolver desde já as bases da transformação
industrial que sustentará o dinamismo de longo prazo da
indústria. Economia do petróleo, manufatura de base
agroalimentar, produção de bens, serviços
e equipamentos referenciados à sustentabilidade, à
nanotecnologia, à saúde e educação,
além de outros temas que o debate com a sociedade venham
a identificar, poderiam ser alvo de desafios mais ambiciosos e
para eles deveriam ser direcionados os incentivos.
Um segundo
ponto diz respeito à governança da política
industrial, que avançou com o PBM, mas é ainda deficiente.
Prestigiar o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial como
instância superior de aconselhamento à política
é o ponto forte introduzido no PBM. No entanto, é
necessário zelar para que este Conselho não se transforme
em um fórum de debates de temas meramente setoriais e de
alcance delimitado e de curto prazo. Sua pauta principal deve
ser a definição dos rumos da indústria brasileira
para que sua contribuição ao desenvolvimento do
país seja maior.
Finalmente,
a questão da produtividade. Para o Plano Brasil Maior o
foco da nova política industrial está no estímulo
à inovação para alavancar a competitividade
da indústria. O Plano acerta em alçar a inovação
a uma condição tão elevada. Mas, mesmo no
caso de países líderes industriais, as empresas
não são permanentemente inovadores, o que significa
dizer que a indústria depende de outros fatores na definição
de sua capacidade de competir com o produto produzido no exterior.
Para conquistar maior competitividade, as economias que mais se
destacam têm, além de grande atividade inovadora,
primorosa produtividade e “competitividade sistêmica”
de primeira linha. Reside aí uma lacuna no PBM. Não
há no Plano uma única palavra sobre produtividade.
Desde que
estabeleçamos corretamente o perfil e a estrutura da indústria
que se deseja para o Brasil, melhoremos a governança do
PBM e concedamos prioridade ao avanço da produtividade
industrial, a indústria brasileira responderá à
altura os desafios que a necessidade de um maior desenvolvimento
econômico e social coloca para todos os setores econômicos
do país.
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