2 de setembro de 2011

PIB
Indústria: na fronteira entre o desaquecimento e a retração


   

 
O principal destaque dos indicadores das Contas Nacionais Trimestrais divulgados hoje pelo IBGE é o desempenho da Indústria de Transformação. No segundo trimestre com relação ao primeiro, o valor agregado da Indústria de Transformação não cresceu, ficou estagnado. Esse dado é, por si só, preocupante, pois confirma que o principal setor da indústria brasileira (composta ainda pela extrativa, construção e distribuição de eletricidade, gás e água) está sendo fortemente afetado pelo menor ritmo da economia brasileira e pelo avanço das importações de manufaturados. Além disso, esse resultado da Indústria de Transformação também é preocupante na medida em que ele pode começar a afetar o desempenho dos demais setores da economia brasileira de modo mais significativo. É bom lembrar que a Indústria de Transformação é um grande demandante de bens da agropecuária e também do setor de serviços. Provavelmente, o Banco Central considerou, nas suas projeções, esse comportamento da Indústria de Transformação ao decidir ontem baixar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual.

Outro destaque diz respeito à evolução dos investimentos. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, observa-se que a Formação Bruta de Capital Fixo vem nitidamente perdendo fôlego (21,1%, 12,3%, 8,8% e 5,9%, respectivamente, do terceiro trimestre de 2010 até o segundo trimestre deste ano). E se, na comparação trimestre contra trimestre imediatamente anterior com ajuste sazonal, o investimento cresceu a uma taxa de variação maior no segundo trimestre (1,7%) do que no primeiro (1,0%), o resultado pode ser considerado muito modesto, com implicações desfavoráveis para o desempenho futuro da economia do País. De fato, como consequência dessa evolução, a participação dos investimentos no PIB ficou em somente 17,8% no segundo trimestre, não avançando em relação à participação registrada no primeiro trimestre (18,0%), o que passou a dificultar ainda mais o percurso para se atingir, em 2014, a taxa de 24% a 25% do PIB que se projeta como necessária para que a economia brasileira cresça de forma sustentável nos próximos anos.

Em linhas gerais, os dados do IBGE confirmam o que já era esperado: a economia brasileira segue num ritmo mais lento, em nítida desaceleração. Em qualquer base de comparação, é possível observar que o PIB brasileiro vem crescendo a taxas decrescentes. Por exemplo, após o aumento de 1,2% no primeiro trimestre deste ano, o PIB cresceu 0,8% no segundo – taxas de variação calculadas com relação ao trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal. Ao se tomar a série que compara trimestre com o mesmo trimestre do ano anterior, a evolução do PIB também vai ficando mais moderada: 9,2%, 6,7% 5,0%, 4,2% e 3,1%, nessa ordem, do segundo trimestre de 2010 até o segundo trimestre deste ano. O agravante dessa desaceleração, como se pode deduzir do exposto acima, fica por conta da Indústria de Transformação, a qual, vale acrescentar, começou o segundo semestre deste ano apresentando dados de produção e expectativas empresariais nada favoráveis. Se novas projeções para a economia brasileira aparecerem, elas caminharão, pelo que tudo indica, num mesmo sentido: para baixo.
 

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2011 atingiu os R$1,02 trilhão a preços de mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal assinalou um incremento de 0,8% no segundo trimestre frente ao trimestre imediatamente anterior. Frente ao segundo trimestre de 2010, o PIB brasileiro apresentou alta de 3,1%, variação inferior aos seis trimestres anteriores (no segundo trimestre de 2010, houve crescimento de 9,2%; no terceiro, de 6,7%; no quarto trimestre, de 5,0%; no primeiro deste ano, de 4,2%). Até junho de 2011, o PIB brasileiro acumulou um avanço de 6,8%.

Ótica da Oferta. Na comparação com o segundo trimestre de 2010 com dados livres dos efeitos da sazonalidade, Serviços foi o grande destaque, com o aumento de 3,4%, após a alta de 4,0% no trimestre anterior. A Indústria apresentou crescimento de 1,7%. Já a Agropecuária, não registrou variação.

Em relação ao segundo trimestre de 2010, Serviços se destacou com um crescimento de 3,4%. Dentre seus subsetores, os destaques nessa comparação foram: Serviços de informação (5,5%), Comércios (4,9%), Intermediação financeira (4,5%), Transporte, armazenagem de correio (3,5%). A Indústria desacelerou, passando para 1,7%, as maiores expansões se deram na eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (3,4%) e na extrativa mineral (2,7%). A construção civil, por sua vez, após ter crescido 5,2% no primeiro trimestre, teve expansão de 2,1% no segundo trimestre de 2011. Houve um aumento de 1,2% no volume do valor adicionado da Indústria de transformação. Ainda na mesma comparação, a Agropecuária registrou variação nula, após crescimento 3,1% no primeiro trimestre.

 

 
Ótica da Demanda. Na passagem do 1º trimestre de 2011 para o 2º trimestre de 2011, com dados dessazonalizados, contribuindo para o avanço de 0,8% do PIB, atuou, principalmente, na Formação Bruta de Capital (1,7%). Consumo de governo e o Consumo de famílias também obtiveram crescimento: 1,2% e 1,0%, respectivamente. No setor externo, as exportações assinalaram alta de 1,3%, enquanto que as Importações aumentaram 6,1%, evidenciando o descompasso da balança comercial.

Em relação ao segundo trimestre de 2010, o Consumo das Famílias cresceu 5,5%. O consumo do governo foi outro componente a exibir elevação (2,5%) nessa comparação. A Formação Bruta de Capital Fixo aumentou 5,9%. Do lado da demanda externa, as exportações e importações apontaram decréscimo de 6,0% e 14,6%, respectivamente.

Participação no PIB. Pela ótica da oferta, entre o primeiro trimestre de 2011 e o segundo trimestre de 2011, o setor Industrial, que partiu de uma participação de 22,2%, chegou a 22,6%. O setor de serviços, o de maior peso no valor total do PIB manteve-se relativamente estável, obtendo participação de 56,8%. A agropecuária, por sua vez, representou 6,1% do PIB, comparativamente aos 4,9% registrado no trimestre anterior.

Já na ótica da demanda, o maior destaque no segundo trimestre é o Consumo de famílias que obteve recuo de 3,3 p.p. em relação ao PIB frente ao primeiro trimestre. Ainda assim, segundo essa ótica, o maior componente continua sendo o Consumo das Famílias, com 60,0% do PIB, seguido pelo Consumo do Governo (20,3%). As Exportações apontaram no primeiro trimestre uma participação inferior (11,9%) à das importações (12,3%).

 

 

 

 

 

 

 

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