12 agosto de 2011

Indústria
A maior resistência ao câmbio
da indústria de alta tecnologia


  

 
A produção da indústria brasileira, como divulgou o IBGE, teve novo revés em junho: caiu 1,6% na comparação com maio na série com ajuste sazonal e, com relação a junho do ano passado, o aumento foi de somente 0,9%. No primeiro semestre evoluiu 1,7% com relação ao mesmo período de 2010, numa clara demonstração de que o crescimento em 2011 será fraco, inferior a 3%. A indústria não vive um bom momento, pois não consegue acompanhar o dinamismo do mercado consumidor do País, em razão de uma crescente incapacidade do setor industrial em fazer frente à produção do exterior, seja em mercados externos, seja, cada vez mais, no próprio mercado interno.

Isso vem gerando uma situação aparentemente paradoxal, na qual a economia cresce e gera capacidade de compra para sua população, mas a produção capaz de agregar valor – vale dizer a produção da indústria – não acompanha. É fato que a produtividade da indústria brasileira poderia ter uma evolução maior e sua atividade inovadora apresenta deficiências, mas sua condição de seguir um mundo em que é muito maior a competição entre os produtores industriais se vê seriamente limitada, sobretudo por uma moeda hiper-valorizada, como é o real, e por custos sistêmicos (tributos, custo de capital, custos de infraestrutura, etc) muito altos. A política industrial anunciada na semana passada procurou amenizar esse quadro adotando medidas de redução tributária e, nesse sentido, foi positiva.

Pois bem, o que mostra uma classificação dos setores industriais que o IEDI adota é que o segmento de alta tecnologia está resistindo mais à má fase que atinge a indústria brasileira. Em verdade, o crescimento no primeiro semestre de 2011 por intensidade tecnológica mostra uma "escada" descendente de desempenhos, da alta para a baixa intensidade tecnológica. Assim, os segmentos de mais alta intensidade tiveram aumento de produção de 6,6% no semestre, os segmentos de média-alta tecnologia cresceram 2,5%, os de média-baixa tecnologia, 2,3%, e foi de –1,6% a evolução em baixa tecnologia, sempre lembrando que a produção da indústria de transformação nesse mesmo período cresceu 1,6% e a indústria geral, 1,7%.

Certas características do momento econômico brasileiro explicam essa diversidade de performance. Há uma diferença com relação ao impacto da grande crise de 2008, que por causar um colapso na confiança e no crédito afetou de forma imediata e drástica os setores de maior intensidade tecnológica, os quais têm em geral valores unitários maiores, e poupou relativamente os setores de mais baixa tecnologia. Na atual conjuntura não se trata de uma crise, mas, sim, de uma desaceleração da economia, em particular da indústria, que vinha de patamar de crescimento muito alto, da ordem de 10,5%, em 2010.

Uma primeira causa dessa desaceleração tem dimensão interna e não é atinente apenas à indústria. Trata-se da promoção, pelo governo, de um esfriamento da economia para combater a inflação. O PIB brasileiro deve estar crescendo atualmente na casa de 4% ao ano, quase a metade do que cresceu em 2010 (7,5%). Isso é resultado de uma evolução menor do emprego, do rendimento médio da população e do crédito, reflexo de medidas de contenção do gasto público, de controle do crédito e de aumento da taxa básica de juros.

O segundo fator é a concorrência muito intensa de importados, que estão substituindo a produção doméstica em vários setores. O impacto desse segundo fator é expressivo, mas, como em alta tecnologia e em média-alta tecnologia o dinamismo do mercado interno é muito alto, foi possível compensar em parte o grande aumento dos importados, sem que nesses segmentos o crescimento da produção fosse muito rebaixado. O quadro é diferente no extremo oposto, ou seja, em baixa tecnologia, um segmento em que, na crise, devido às políticas executadas pelo governo, houve um crescimento expressivo. De fato as políticas de preservação de renda e do emprego sustentaram um crescimento muito intenso nas vendas e na produção de alimentos industrializados durante a crise, o que agora reduz o ímpeto de sua expansão.

No segmento de baixa tecnologia cabe ainda mencionar os resultados ruins em setores em que a recém anunciada política industrial promoveu reduções dos encargos trabalhistas, caso dos setores têxtil/vestuário, calçados e madeira, todos eles muito afetados em sua produção pela penetração de bens importados. Em média-baixa tecnologia, um de seus setores (minerais não-metálicos) foi o líder de sua expansão, puxado pelo boom da construção civil; não fosse isso, teria tido uma expansão diminuta. Em média-alta tecnologia, são destaques os ramos de veículos, com grande crescimento, devido ao dinamismo do mercado interno, mas também os setores de máquinas e equipamentos e produtos químicos, com baixo crescimento, devido à concorrência das importações.

Por fim, em alta tecnologia, o dinamismo do mercado interno também acomodou o crescimento das importações. Esse segmento valeu-se ainda de uma grande evolução da produção de aviões, um setor que deixou para trás os efeitos da crise, que nesse caso haviam sido muito graves e prolongados; notar, no entanto, que um ramo deste segmento – material de escritório e informática – teve variação negativa, fruto das importações. Por outro lado, o segmento de maior intensidade tecnológica talvez tenha sido o que mais se beneficiou dos preços baixos dos componentes importados, devido à valorização do real, o que, por baratear custos de produção, aumentou sua competitividade, preservando a participação no mercado interno.

A substituição de bens intermediários produzidos localmente por componentes trazidos de fora não reduz o volume de produção, mas deprime a agregação de valor do que é produzido internamente. Isto pode promover a desindustrialização de uma forma tão ou mais intensa do que a perda de mercados para a importação de produtos finais, um tema que a política industrial procurou abordar, mas de forma que nos pareceu tímida, exceto no que tange ao setor automobilístico. De qualquer forma, os segmentos de maior tecnologia aparecem como os mais resistentes à concorrência em terceiros mercados e às disputas no mercado doméstico, sendo relativamente menos afetados em sua competitividade pelo fator taxa de câmbio. O melhor desempenho em alta tecnologia ilustra como é relevante dispor de uma estrutura diversificada como ainda é a indústria brasileira.

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