Agosto de 2011

Indústria
Maior resistência ao câmbio
da indústria de alta tecnologia


  

 
A indústria brasileira, como divulgou o IBGE teve novo revés em junho: caiu 1,6% na comparação com maio na série com ajuste sazonal e, com relação a junho do ano passado, teve expansão de somente 0,9%. No primeiro semestre evoluiu 1,7% com relação ao mesmo período de 2010, numa clara demonstração de que o crescimento em 2011 será fraco, inferior a 3%. A indústria não vive um bom momento, pois não consegue acompanhar o dinamismo do mercado consumidor do país. A razão disso está em uma crescente incapacidade do setor industrial em fazer frente à produção do exterior, seja em terceiros mercados, seja, cada vez mais, no próprio mercado interno, este último que se encontra em processo de desaceleração.

Isso vem gerando a aparentemente paradoxal situação, na qual a economia cresce, gera capacidade de compra para sua população, mas a produção capaz de agregar valor – vale dizer a produção da indústria – não acompanha. Sua produtividade poderia ser maior e sua atividade inovadora é deficiente, mas, sobretudo, sua capacidade de acompanhar o que ocorre em um mundo em que é muito maior a competição entre os produtores industriais, se vê seriamente limitada por moeda hiper-valorizada como é o real e por custos sistêmicos (tributos, custo de capital, etc) muito altos.

Pois bem, o que mostra uma classificação dos setores industriais que o IEDI adota é que o segmento de alta tecnologia está resistindo mais à má fase que atinge a indústria brasileira. Na verdade, o crescimento no primeiro semestre de 2011 por intensidade tecnológica mostra uma "escada" descendente de desempenhos, da alta para a baixa intensidade tecnológica. Assim, os segmentos de mais alta intensidade tiveram aumento de produção no semestre de 6,6%, os segmentos de média-alta tecnologia cresceram 2,5%, os de média-baixa tecnologia, 2,3%, e foi de -1,6% a evolução em baixa tecnologia, sempre lembrando que a indústria de transformação nesse mesmo período cresceu sua produção 1,6% e a indústria geral, 1,7%.

Certas características do momento econômico brasileiro explicam essa diversidade de performance. Há uma diferença com relação ao impacto da grande crise de 2008, que afetou de forma imediata e drástica os setores de maior intensidade tecnológica e poupou relativamente os setores de mais baixa tecnologia. Na atual conjuntura não se trata de uma crise, mas, sim, de uma desaceleração da economia, em particular da indústria, partindo de um patamar de crescimento de 10,5% em 2010.

Uma primeira causa dessa desaceleração tem dimensão interna e não é atinente apenas à indústria. Trata-se da promoção, pelo governo, de um esfriamento da economia para combater a inflação. O PIB brasileiro deve estar crescendo atualmente na casa de 4% ao ano, quase a metade do cresceu em 2010. Isso é resultado de uma evolução menor do emprego, do rendimento médio da população e do crédito, reflexo de medidas de contenção do gasto público, de controle do crédito e de aumento da taxa básica de juros.

O segundo fator é a concorrência muito intensa de importados, que estão substituindo a produção doméstica em vários setores. O impacto desse segundo fator é expressivo, mas como em alta tecnologia e em média-alta tecnologia o dinamismo interno é muito alto, foi possível compensar em parte o grande aumento dos importados, sem que nesse segmentos o crescimento da produção fosse muito rebaixado. O quadro é diferente no extremo oposto, ou seja, em baixa tecnologia, um segmento que na crise, devido às políticas executadas pelo governo, houve um crescimento expressivo.

Ainda no segmento de baixa tecnologia cabe mencionar os resultados ruins em setores onde a recém anunciada política industrial promoveu reduções dos encargos trabalhistas, caso dos setores têxtil/vestuário, calçados e madeira, todos eles muito afetados em sua produção pela penetração de bens importados. Em média-baixa tecnologia, um de seus setores (minerais não-metálicos) foi o líder de sua expansão, puxado pelo boom da construção civil; não fosse isso, teria tido uma expansão diminuta. Em média-alta tecnologia, tem destaque os ramos de veículos, com grande crescimento, devido ao dinamismo do mercado interno, mas também de máquinas e equipamentos e produtos químicos, com baixo crescimento, devido à concorrência das importações.

Por fim, em alta tecnologia, o dinamismo do mercado interno também acomodou o crescimento da produção doméstica e as importações, valendo-se ainda de uma grande evolução da produção de aviões, um setor que deixou para trás os efeitos da crise, que nesse caso haviam sido muito graves e prolongados; notar, no entanto, que um ramo deste segmento – material de escritório e informática – teve variação negativa, fruto das importações. Pode-se dizer que, de uma forma geral, segmentos de maior tecnologia são mais resistentes à concorrência em terceiros mercados, à concorrência de importados no mercado doméstico e são relativamente menos afetados em sua competitividade pelo fator taxa de câmbio.
 

 

 

 

 

 

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