21 de julho de 2011

Economia e Política Econômica
Os limites do crédito


   

 
Mais no exterior do que dentro do Brasil, há uma apreensão que cresceu muito nas últimas semanas de que o país convive com uma bolha de crédito. Isso estaria alimentando, por seu turno, um boom do consumo familiar que já estaria com seus dias contados. Os dados que apoiariam essa conclusão dizem respeito ao endividamento das famílias, que teria crescido exageradamente nos últimos anos, e em uma elevação do comprometimento da renda dos consumidores no pagamento de suas dívidas, que já estaria alcançando, ou mesmo já teria ultrapassado, um nível sustentável. Em suma, a bolha de crédito, alimentou uma bolha de consumo que já teria alcançado seu limite. Fatalmente, diante disso, não seria sustentável o boom da economia brasileira recente.

A tese, que pode ter falhas em sua concepção, tem no entanto o mérito de ressaltar os perigos do crédito farto. É patente que o crédito para as famílias cresceu extraordinariamente nos últimos anos. Nos financiamentos para as famílias, a evolução é, em média, de 18% nos últimos três anos em termos reais, de forma que em maio último alcançavam 15,4% do PIB (10.9% do PIB em maio de 2007). Mas, além do crescimento vigoroso, dois outros pontos caracterizam uma bolha de crédito, os quais não são preponderantes no ciclo atual do crédito no país.

Primeiro, uma típica bolha de crédito e de consumo faz do financiamento uma variável autônoma com relação à renda. Isso é fruto da concorrência bancária. Significa que na medida em que o crédito evolui e amplia o poder de compra da população, vai sendo perdida a referência à renda que lhe devia servir de base, de forma que passa a residir na própria disposição das instituições de financiamento de não interromperem a trajetória do crédito a condição de continuidade do processo. No caso brasileiro, uma evolução da massa real de rendimentos da população de 8%, como nos anos do pré e do pós crise, propiciou a ancoragem do aumento do crédito, de modo que a taxa de inadimplência tem sido na média do corrente ano a mais baixa jamais registrada no país, a despeito da vigorosa ampliação dos empréstimos bancários. Nossos cálculos indicam que o endividamento (dívida/renda anual) das pessoas físicas passou de 21,8% para 36,6% de dezembro de 2006 a maio de 2011, o que, no entanto, não foi acompanhado de correspondente maior comprometimento da renda mensal, que passou de 20,8% para 22,4% no mesmo período. Além do maior rendimento real das pessoas, os prazos de financiamento mais dilatados explicam a preservação da capacidade de honrar as dívidas.

Ademais, uma típica bolha de crédito está associada a hiper-valorizações de ativos a exemplo das bolhas imobiliárias e dos mercados acionários. O crédito abundante, nesse caso, impulsiona o valor dos ativos, o que renova e potencializa a capacidade de endividamento dos agentes, sustentando o aumento da sua riqueza e de sua capacidade de consumo. O crédito aqui também não pode parar porque sua sustentação – a valorização dos ativos – cairia junto. O Brasil assiste a um forte aumento dos preços dos imóveis, mas não há nem sombra de uma bolha já que o financiamento imobiliário é baixo – representa cerca de 4% do PIB – e nele tem grande preponderância o crédito dirigido da caderneta de poupança. Uma mega especulação imobiliária explica a valorização nesse setor.

O Brasil não vive uma bolha de consumo, embora seja intenso o desenvolvimento do crédito. Isto é uma fonte de amplificação da capacidade de crescimento da economia, mas também uma possível causa de problemas se os financiamentos perderem a referência à renda pessoal. Por isso, são importantes as medidas macroprudenciais na área do crédito.
 

 

 

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