Texto preparado por Frederico Fleury Curado - Vice-Presidente
do IEDI e Presidente da Embraer e publicado no OESP em 9/7/2011.
O posicionamento competitivo de uma nação é,
em grande medida, um reflexo da competitividade de sua indústria.
Essa competitividade é determinada, cada vez mais, por
sua capacidade de geração de riqueza via inovação
e desenvolvimento tecnológico, tanto pelos produtos e serviços
que revolucionam mercados consumidores quanto pela influência
positiva que geram em outros setores da economia.
Como
resultado, os países fomentam o surgimento e desenvolvimento
de empresas que tenham real capacidade de inovar. O Brasil, apesar
de não ter tradição em inovação
ou vanguarda tecnológica, conta com alguns exemplos históricos
de sucesso, onde uma visão de Estado, seguida de investimentos
consistentes, conseguiu criar liderança mundial em tecnologias
e mercados específicos. Alguns desses exemplos são
a exploração de petróleo em águas
profundas, a viabilidade de produção agrícola
em condições adversas e o desenvolvimento e construção
de aeronaves avançadas, liderados por Petrobrás,
Embrapa e Embraer, respectivamente.
No
caso da indústria aeroespacial, a decisão de investir
numa escola de engenharia aeronáutica (ITA) e num centro
de pesquisas (CTA) se originou da visão, logo ao final
da 2.ª Guerra Mundial, de que o País deveria adquirir
capacitação em ciências aeronáuticas,
dada a sua alta intensidade tecnológica e importância
para a autonomia e soberania nacionais. Os resultados são
emblemáticos. O Brasil, juntamente com EUA, União
Europeia (mais especificamente os países do consórcio
Airbus - Alemanha, França e Espanha) e Canadá, integra
o seletíssimo grupo de nações com plena capacidade
de especificação, projeto e fabricação
de aeronaves comerciais. Além disso, a Força Aérea
Brasileira, com quase 75% de sua frota sendo composta por aeronaves
fabricadas ou aperfeiçoadas pela Embraer, conta com nível
de autonomia e independência só existente em alguns
países desenvolvidos.
Recentemente,
entretanto, China, Japão e Rússia vêm se apresentando
como fortes pretendentes a ingressar no mercado de aviação
comercial global, aportando apoios significativos às suas
indústrias para esse fim.
O
que se observa no exemplo da tecnologia aeronáutica também
se aplica a inúmeras outras cadeias produtivas. O momento
atual, em que a indústria brasileira está diante
de um extraordinário desafio de competitividade e sobrevivência,
convida-nos a uma reflexão sobre o papel indutor do Estado
no fomento e na defesa de suas empresas industriais, em particular
as inovadoras e de base tecnológica.
Por
um lado, é fundamental o incansável combate aos
subsídios e mecanismos de incentivo que criam distorções
no mercado. Para tal se deve reforçar o papel regulador
de organizações multilaterais como a Organização
Mundial do Comércio (OMC) e a Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), assegurando-se o necessário equilíbrio entre
as diferentes políticas dos diferentes países. Por
outro, é no contexto da inovação e da pesquisa
e desenvolvimento tecnológico que o incentivo e a participação
do Estado se fazem mais necessários e legítimos.
Nesse
aspecto, a indústria brasileira está em clara desvantagem
em relação aos países desenvolvidos e mesmo
a alguns emergentes, como China, Coreia do Sul e México.
Esse panorama torna imperativo um esforço inédito
de incentivo à inovação e ao desenvolvimento
tecnológico no Brasil, de modo a permitir que as poucas
ilhas de excelência existentes no País continuem
investindo e se mantendo competitivas internacionalmente, além
de vermos o surgimento de novas indústrias e novos setores
de competência que expandam a intensidade tecnológica
da economia brasileira, diversifiquem sua base de produção
e exportação e elevem a qualidade média do
emprego nacional.
A
última Pesquisa de Inovação Tecnológica
(Pintec), divulgada ao final de 2010, revela que a intensidade
tecnológica média da indústria brasileira
é de 0,6, bastante baixa se comparada à realidade
de setores que fazem investimentos mais intensos em pesquisa e
desenvolvimento (P&D), como, por exemplo, o aeronáutico
(4,0).
Reverter
esse quadro e causar uma inflexão positiva requer o esforço
conjunto da iniciativa privada e do Estado. Ao nos aproximarmos
do 4.º Congresso Brasileiro de Inovação na
Indústria, e diante da perspectiva da necessidade urgente
de edição de uma nova política industrial
para o País, é mister que haja uma convergência
de ideias, mecanismos e políticas concretas que acelerem,
de forma efetiva e perene, nosso processo de inovação
e de P&D.
Evidentemente
não há política industrial que, por si só,
consiga assegurar a competitividade estrutural de uma economia.
Sem a superação das diversas deficiências
crônicas que insistentemente nos afetam - que vão
de uma infraestrutura ineficiente a uma carga tributária
que pune a produção e o investimento; de um sistema
educacional ainda frágil a uma crescente insegurança
jurídica - não seremos uma nação plenamente
desenvolvida. É, contudo, necessário começar.
A oportunidade da inserção central dos temas de
inovação e desenvolvimento tecnológico na
nova política industrial do País é real e
seria um importante primeiro passo.
Sem
inovação o Brasil não será competitivo.
Sem competitividade não haverá sustentação
do nosso crescimento. Sem crescimento não se poderá
avançar na melhoria das condições sociais,
educacionais e de infraestrutura de nosso povo.
A
inovação e o desenvolvimento tecnológico
podem efetivamente ajudar o Brasil a acelerar seu processo de
desenvolvimento econômico e social, devendo, portanto, ser
entendidos e tratados como prioridade nacional, tanto pelo Estado
quanto por empresas, academia e sociedade em geral.
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aqui o texto completo desta Análise.