3 de maio de 2011

Indústria
Excessiva concentração de resultados


  

 
Com o terceiro resultado positivo consecutivo, confirma-se a retomada da produção da indústria brasileira neste ano. De fato, de acordo com os dados divulgados hoje pelo IBGE, após crescer 0,3% e 2,0%, respectivamente, em janeiro e fevereiro, a produção industrial aumentou 0,5% em março – todas as taxas calculadas com relação ao mês imediatamente anterior a partir da série com ajuste sazonal. Este resultado de março foi “puxado” pelo desempenho da produção dos setores de bens de capital (3,4%) e de bens duráveis (4,1%), o que reflete a manutenção dos investimentos produtivos (no caso dos bens de capital) e o crédito favorável (no caso dos bens duráveis) no País.

O sinal positivo da produção industrial também é confirmado em outras comparações. Ao se tomar o primeiro trimestre deste ano e compará-lo com o trimestre imediatamente anterior ou com os três primeiros meses de 2010, observa-se que a produção aumentou 1,3% e 2,3%, nessa ordem. Vale destacar, nesta segunda comparação, a forte influência dos bens de capital e bens duráveis, cujas produções cresceram, respectivamente, 8,4% e 5,0%. Esses dados reforçam o argumento acima de que os investimentos e o crédito continuam fortes na economia brasileira neste início de ano.

No entanto, o comportamento da indústria neste ano merece algumas qualificações. Primeiro, deve-se considerar que a evolução da produção no período de janeiro a março sucedeu um momento muito ruim da indústria nacional: de abril a dezembro do ano passado (portanto, durante nove meses), a indústria apresentou crescimento acumulado diminuto, de apenas 0,8%. Ou ainda, no ano passado, a produção caiu 0,4% no terceiro trimestre e ficou estagnada no quarto trimestre (0,0%) – taxas calculadas a partir da série que compara trimestre com trimestre imediatamente anterior com ajuste sazonal. Assim, o crescimento de 1,3% no primeiro trimestre deste ano com relação ao quarto de 2010 se deve muito a um baixo nível de produção com o qual se está comparando.

Segundo, o resultado positivo da indústria em geral está refletindo o desempenho de alguns poucos segmentos da atividade industrial. Por exemplo, o crescimento de 2,3% no período janeiro-março deste ano frente ao mesmo período de 2010 se deve, em grande medida, aos aumentos da produção da indústria extrativa e, sobretudo, da produção de veículos automotores. Esses dois segmentos colaboraram com 0,75 ponto percentual e 1,06 p.p., respectivamente, na composição daquela taxa (2,3%).

Enfim, a análise dos dados do IBGE permite dizer que a indústria mudou seu comportamento neste início de ano. Mas isso não significa que sua trajetória é acelerada ou mesmo robusta. As condições que fizeram a indústria brasileira patinar a partir do segundo trimestre de 2010 ainda estão postas. Parece que houve uma “acomodação” da forte onda de bens importados vista no ano passado, o que abriu algum espaço para esse avanço da produção nacional neste início de ano. A dificuldade para se pensar qual será a trajetória da indústria nos próximos meses é que as novas apreciações do real podem levar a uma nova onda de importações, que virão não somente para complementar o que se produz domesticamente, mas em condições ainda mais favoráveis de substituir a produção nacional.
 

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial de março registrou variação positiva de 0,5% frente a fevereiro na série livre de influências sazonais, após ter apresentado avanço de 2,0% no mês anterior. Acumulou-se, assim, em três meses de expansão, ganho de 2,8%. Dessa forma, a indústria acumulou acréscimo de 2,3% no primeiro trimestre do ano em comparação ao mesmo período de 2010. O indicador acumulado dos últimos doze meses frente a igual período imediatamente anterior apresenta variação positiva (6,8%), menos intensa se comparado as variações dos oito meses anteriores.

No confronto frente a fevereiro, todas as categorias de uso, exceto bens intermediários (–0,2%) assinalaram taxas positivas de variação. Os bens de consumo duráveis (4,1%) e de capital (3,4%) registraram os maiores avanços dentre as categorias. A produção de bens semiduráveis e não duráveis apresentou avanço de 1,0%. Na comparação com março de 2010, a indústria registrou recuo de 2,1%, com queda em todas categorias de uso. Por ordem de magnitude, o recuo foi maior na produção de bens de consumo duráveis (–5,2%) e bens de consumo semi e não duráveis (–3,7%), enquanto bens intermediários (–0,4%) e bens de capital (–0,1%) assinalaram perdas menos intensas.

No acumulado do primeiro trimestre deste ano com relação a igual período de 2010, todas as categorias apresentaram alta. A liderança, nesta comparação, continua dos bens de capital, com um crescimento de 8,4% em 2011. As demais categorias apresentaram o seguinte desempenho: bens de consumo duráveis (5,0%), bens intermediários (1,6%) e bens semiduráveis e não-duráveis (0,3%). No acumulado dos últimos 12 meses, por sua vez, a tendência de maior avanço dos bens de capital mantém-se (16,5%). Os bens intermediários assinalaram crescimento de 7,2%, enquanto os bens de consumo duráveis e os semi e não duráveis registraram acréscimo de 5,5% e 3,2%, respectivamente.

 

 
Setorialmente, na passagem entre fevereiro e março do presente ano, foi observada alta da produção em treze das vinte e sete atividades pesquisadas pelo IBGE que têm séries sazonalmente ajustadas – o que resultou no acréscimo de 0,5% da produção geral. Colaboraram para esse resultado os desempenhos dos setores: material eletrônico e equipamentos de comunicações (10,1%), máquinas e equipamentos (1,8%), calçados e artigos de couro (9,2%), outros equipamentos de transporte (3,6%), produtos de metal (2,5%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,9%). As principais pressões negativas ficaram com alimentos (–3,9%), equipamentos médico-hospitalares, ópticos e outros (–9,2%), indústrias extrativas (–1,9%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (–6,0%) e bebidas (–2,8%).

No confronto com mesmo mês do ano anterior, o decréscimo de 2,1% deveu-se a variações negativas de dezessete ramos pesquisados. Os maiores impactos vieram de outros produtos químicos (–8,6%), edição e impressão (–12,9%), têxtil (–15,7%), bebidas (–9,7%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (–14,8%) e alimentos (–2,1%). Por outro lado, as maiores contribuições positivas vieram de: refino de petróleo e produção de álcool (13,8%), metalurgia básica (2,6%), equipamentos médico-hospitalares, ópticos e outros (14,0%) e outros equipamentos de transporte (5,7%).

No acumulado do primeiro trimestre de 2011, o crescimento de 2,3% na produção industrial total deveu-se, em grande parte, à contribuição dos setores de veículos automotores (10,0%), máquinas e equipamentos (4,5%), outros equipamentos de transporte (13,3%), refino de petróleo e produção de álcool (4,5%), equipamentos médico-hospitalares, ópticos e outros (23,2%), indústrias extrativas (3,3%) e minerais não metálicos (4,6%). Entre os nove ramos com queda na produção destacaram-se outros produtos químicos (–5,3%), têxtil (–10,4%) e edição e impressão (–4,8%).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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