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Uma coisa é constatar, como todos os analistas já
o fizeram, que o crescimento econômico em 2010 foi alto;
outra coisa bem diferente é a análise que identifica
nos meses finais do ano sintomas de problemas que podem contaminar
a economia em 2011. O aumento de 7,5% do PIB em 2010 com relação
a 2009 é, de fato, muito significativo. E muito mais expressiva
foi a expansão dos investimentos (Formação
Bruta de Capital Fixo – FBCF) no mesmo período, de
21,9%. No entanto, algumas observações devem ser
consideradas.
Em primeiro
lugar, o crescimento do PIB em 2010 tem como base o ano de 2009,
ano em que houve retração de 0,6% da economia, ou
seja, um patamar baixo de comparação. Segundo, a
taxa média de investimento (ou a participação
da FBCF no PIB) em 2010 (18,4%) é ainda inferior à
essa mesma taxa registrada em 2008 (19,1%); portanto, passaram-se
dois anos desde o início da crise e o Brasil não
conseguiu recuperar o nível de investimentos de sua economia.
Por esse critério, a crise mundial afetou a economia brasileira
de forma não desprezível.
A evolução
da atividade econômica trimestre após trimestre (utilizando-se
a série do IBGE com ajuste sazonal) é a fonte das
maiores preocupações, pois é nítida
uma desaceleração do crescimento nos dois últimos
períodos de 2010. O PIB, que cresceu 2,2% e 1,6%, respectivamente,
no primeiro e no segundo trimestres de 2010, perdeu ritmo no final
do ano com evolução de 0,4% e 0,7%, nessa ordem,
no terceiro e quarto trimestres. Esse desempenho de final de ano,
se reproduzido em quatro trimestres, corresponde a uma taxa tão
baixa quanto cerca de 3,0%.
Em outras
palavras, a economia começa 2011 acenando com crescimento
anual muito modesto; algo que preocupa, haja vista que uma desaceleração
muito forte do crescimento pode contaminar as decisões
de investir. Aliás, os investimentos já apresentaram
forte desaceleração no último trimestre de
2010: de variações de 4,0%, 3,9% e 3,1%, respectivamente,
no primeiro, segundo e terceiro trimestres, passou-se para um
aumento de apenas 0,6% no quarto trimestre (todas as taxas calculadas
no trimestre contra trimestre imediatamente anterior a partir
da série com ajuste sazonal). Portanto, as perspectivas
muito propaladas de desaceleração da economia doméstica
em 2011, juntamente com as dificuldades de nossas exportações
criadas pela valorização do câmbio e a elevação
das taxas de juros internas são fatores que podem inibir
fortemente as intenções de investimentos do setor
produtivo nacional em 2011.
Do ponto de
vista da demanda, cabem ainda duas outras ponderações:
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Apesar do extraordinário descompasso entre exportações
e importações no ano 2010 como um todo (crescimentos
de 11,5% e 36,2%, nessa ordem), a evolução das
vendas externas brasileiras (3,6%) praticamente se equiparou
à das compras de produtos importados (3,9%) no último
trimestre do ano passado, o que é um alento para esta
área que mostra sinais inequívocos de fragilidade,
qual seja: o comércio exterior do País.
-
O crescimento de 2,5% do consumo das famílias no quarto
trimestre de 2010 – o que representa uma forte aceleração
com relação aos trimestres anteriores –
pode ser atribuído a um efeito de antecipação
de consumo devido às medidas iminentes de contenção
de crédito (medidas macroprudenciais) e de aumento de
juros que já eram levantadas desde o final do terceiro
trimestre. Essa interpretação não permite
uma extrapolação do crescimento do consumo das
famílias em 2011 a partir do dado do último trimestre
de 2010, pois ele está carregado de fatores episódicos.
Do ponto de
vista da oferta, o crescimento de 10,1% do valor adicionado da
indústria para o ano completo de 2010 foi puxado, sobretudo,
pela indústria extrativa mineral (15,7%) e pela construção
(11,6%). A indústria de transformação, embora
ostentasse também expressiva expansão, cresceu menos
(9,7%), tendo sido, no entanto, o segmento da indústria
brasileira que apresentou maior retração em 2009
(–8,2%).
Nota-se também
que a indústria em geral desacelerou bruscamente ao longo
do ano de 2010. Após seu valor adicionado aumentar 1,7%
e 3,6%, respectivamente, no primeiro e segundo trimestres, ele
caiu 0,6% no terceiro trimestre, voltando a acusar taxa negativa
de 0,3% no quarto período do ano (taxas de variação
calculadas no trimestre com relação ao trimestre
imediatamente anterior, com ajuste sazonal). Portanto, mais do
que desaceleração, houve um encolhimento das atividades
produtivas da indústria no final de 2010, motivado pela
penetração das importações no mercado
interno brasileiro e pelas dificuldades de colocação
do produto nacional nos mais estritos mercados internacionais.
Leia
aqui o texto completo desta Análise.
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