3 de março de 2011

PIB
O preocupante quadro da indústria


   

 
Uma coisa é constatar, como todos os analistas já o fizeram, que o crescimento econômico em 2010 foi alto; outra coisa bem diferente é a análise que identifica nos meses finais do ano sintomas de problemas que podem contaminar a economia em 2011. O aumento de 7,5% do PIB em 2010 com relação a 2009 é, de fato, muito significativo. E muito mais expressiva foi a expansão dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF) no mesmo período, de 21,9%. No entanto, algumas observações devem ser consideradas.

Em primeiro lugar, o crescimento do PIB em 2010 tem como base o ano de 2009, ano em que houve retração de 0,6% da economia, ou seja, um patamar baixo de comparação. Segundo, a taxa média de investimento (ou a participação da FBCF no PIB) em 2010 (18,4%) é ainda inferior à essa mesma taxa registrada em 2008 (19,1%); portanto, passaram-se dois anos desde o início da crise e o Brasil não conseguiu recuperar o nível de investimentos de sua economia. Por esse critério, a crise mundial afetou a economia brasileira de forma não desprezível.

A evolução da atividade econômica trimestre após trimestre (utilizando-se a série do IBGE com ajuste sazonal) é a fonte das maiores preocupações, pois é nítida uma desaceleração do crescimento nos dois últimos períodos de 2010. O PIB, que cresceu 2,2% e 1,6%, respectivamente, no primeiro e no segundo trimestres de 2010, perdeu ritmo no final do ano com evolução de 0,4% e 0,7%, nessa ordem, no terceiro e quarto trimestres. Esse desempenho de final de ano, se reproduzido em quatro trimestres, corresponde a uma taxa tão baixa quanto cerca de 3,0%.

Em outras palavras, a economia começa 2011 acenando com crescimento anual muito modesto; algo que preocupa, haja vista que uma desaceleração muito forte do crescimento pode contaminar as decisões de investir. Aliás, os investimentos já apresentaram forte desaceleração no último trimestre de 2010: de variações de 4,0%, 3,9% e 3,1%, respectivamente, no primeiro, segundo e terceiro trimestres, passou-se para um aumento de apenas 0,6% no quarto trimestre (todas as taxas calculadas no trimestre contra trimestre imediatamente anterior a partir da série com ajuste sazonal). Portanto, as perspectivas muito propaladas de desaceleração da economia doméstica em 2011, juntamente com as dificuldades de nossas exportações criadas pela valorização do câmbio e a elevação das taxas de juros internas são fatores que podem inibir fortemente as intenções de investimentos do setor produtivo nacional em 2011.

Do ponto de vista da demanda, cabem ainda duas outras ponderações:

  • Apesar do extraordinário descompasso entre exportações e importações no ano 2010 como um todo (crescimentos de 11,5% e 36,2%, nessa ordem), a evolução das vendas externas brasileiras (3,6%) praticamente se equiparou à das compras de produtos importados (3,9%) no último trimestre do ano passado, o que é um alento para esta área que mostra sinais inequívocos de fragilidade, qual seja: o comércio exterior do País.
     
  • O crescimento de 2,5% do consumo das famílias no quarto trimestre de 2010 – o que representa uma forte aceleração com relação aos trimestres anteriores – pode ser atribuído a um efeito de antecipação de consumo devido às medidas iminentes de contenção de crédito (medidas macroprudenciais) e de aumento de juros que já eram levantadas desde o final do terceiro trimestre. Essa interpretação não permite uma extrapolação do crescimento do consumo das famílias em 2011 a partir do dado do último trimestre de 2010, pois ele está carregado de fatores episódicos.

Do ponto de vista da oferta, o crescimento de 10,1% do valor adicionado da indústria para o ano completo de 2010 foi puxado, sobretudo, pela indústria extrativa mineral (15,7%) e pela construção (11,6%). A indústria de transformação, embora ostentasse também expressiva expansão, cresceu menos (9,7%), tendo sido, no entanto, o segmento da indústria brasileira que apresentou maior retração em 2009 (–8,2%).

Nota-se também que a indústria em geral desacelerou bruscamente ao longo do ano de 2010. Após seu valor adicionado aumentar 1,7% e 3,6%, respectivamente, no primeiro e segundo trimestres, ele caiu 0,6% no terceiro trimestre, voltando a acusar taxa negativa de 0,3% no quarto período do ano (taxas de variação calculadas no trimestre com relação ao trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal). Portanto, mais do que desaceleração, houve um encolhimento das atividades produtivas da indústria no final de 2010, motivado pela penetração das importações no mercado interno brasileiro e pelas dificuldades de colocação do produto nacional nos mais estritos mercados internacionais.
   

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2010 atingiu os R$ 3,675 trilhões a preços de mercado. No acumulado do ano de 2010, o PIB brasileiro avançou 7,5%. Já o índice trimestral com ajuste sazonal assinalou um incremento de 0,7% no quarto trimestre frente ao trimestre imediatamente anterior. Esse resultado, apesar de positivo, mostra a desaceleração do ritmo de crescimento, visto que foi a segunda menor variação desde o primeiro trimestre de 2009. Frente ao quarto trimestre de 2009, o PIB brasileiro assinalou alta de 5,0%, variação que também reflete desaceleração com relação aos três trimestres anteriores (no primeiro trimestre de 2010, houve crescimento de 9,3%, no segundo, de 9,2% e no terceiro, de 8,4%).

Ótica da Oferta. Na comparação do quarto com o terceiro trimestre de 2010. com dados livres dos efeitos da sazonalidade, os Serviços foram o grande destaque, com o aumento de 1,0%, após a elevação de 1,2% no trimestre anterior. A Agropecuária e a Indústria, por outro lado, revelaram quedas na mesma base de comparação. A Indústria caiu 0,3% e a agropecuária assinalou decréscimo de 0,8%.

No confronto do 4º trimestre de 2010 contra o mesmo trimestre de 2009, Serviços se destacou com um crescimento de 4,6%. Dentre seus subsetores, os destaques nessa comparação foram: Intermediação financeira (11,4%) e serviços de informação (4,8%). A Indústria desacelerou, passando para 4,3% (ante 8,3% no terceiro trimestre) – as maiores expansões ocorreram na Extrativa mineral (14,8%) e na Construção civil (6,2%), e em Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (5,1%), com o valor adicionado da Indústria de transformação apresentando variação de 2,4%. A Agropecuária registrou crescimento de 1,1%.

O setor industrial foi o que apresentou a maior taxa positiva no acumulado de 2010 (10,1%). Esse resultado deveu-se as elevações de: extrativa mineral (15,7%), construção civil (11,6%), indústria de transformação (9,7%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (7,8%). Nos serviços (5,4%), todas as atividades registraram elevações, com destaque para o comércio e a intermediação financeira e seguros, ambos com (10,4%), e transporte, armazenagem e correio (8,9%). A Agropecuária, por sua vez, acumulou crescimento de 6,5%.

 

 
Ótica da Demanda. Na passagem do 4º para o 3º trimestre de 2010, com dados dessazonalizados, contribuindo para o avanço de 0,7% do PIB, atuou, principalmente, a o consumo das famílias (2,5%). Formação Bruta de Capital Fixo também obteve crescimento, porém de menor vigor (0,6%), enquanto o Consumo do Governo ficou apresentou ligeira queda (–0,3%). No setor externo, as exportações assinalaram alta de 3,6% e as Importações, de 3,9%.

Na comparação do último trimestre de 2010 com mesmo período de 2009, o Consumo das Famílias cresceu 7,5%, movimento que se repete a 29 trimestres. O consumo do governo foi outro componente a exibir elevação (1,2%). A Formação Bruta de Capital Fixo, entretanto, foi o maior destaque da demanda interna: crescimento de 12,3%. Do lado externo, as exportações e importações apontaram acréscimos de 13,5% e 27,2%, respectivamente.

No acumulado de 2010, todos os componentes da demanda interna registraram taxas positivas de variação. A formação Bruta de capital Fixo atingiu crescimento expressivo de 21,9% (a quarta positiva consecutiva de dois dígitos). O consumo das famílias cresceu 7,0%, seguido do consumo do governo (3,3%). No setor externo, as Importações cresceram 36,2%, alta muito superior à das exportações (11,5%).

Participação no PIB. A participação da indústria no valor adicionado do País passou de 25,4% em 2009 para 26,8% em 2010, movimento que expressou o aumento elevado da participação da indústria extrativa (de 1,3% para 2,5%) e, em menor escala, da construção civil (4,9% para 5,3%) A participação da indústria de transformação manteve-se estável (em 15,8%), e a indústria ligada a produção de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana apresentou ligeira queda (de 3,4% para 3,3%). O setor agropecuário diminuiu sua participação no valor adicionado (de 6,1% em 2009 para 5,8% em 2010). Nos serviços, observa-se também um recuo: de 68,5% para 67,4%.

 

 

 

 

 

 

 

 

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