2 de março de 2011

Indústria
Uma pequena recessão


  

 
O aumento de 0,2% da produção industrial em janeiro com relação a dezembro de 2010 – taxa de variação calculada a partir da série com ajuste sazonal do IBGE – não nos permite dizer que o momento desfavorável pelo qual a indústria nacional vem passando foi revertido. Em primeiro lugar, tal aumento é muito modesto diante da série de resultados negativos da produção industrial observados desde abril do ano passado. Em janeiro, o nível de produção da indústria é 2,6% inferior ao de março de 2010, o que deixa claro que a indústria acumula queda significativa nos últimos dez meses terminados em janeiro deste ano.

Em segundo lugar, a elevação de 0,2% refletiu, em boa medida, o crescimento episódico de 6,0% de bens de consumo duráveis. Episódico porque decorreu da retomada, em janeiro deste ano, da produção do segmento de material eletrônico e equipamentos de comunicações (basicamente, celulares), após a paralisação das suas atividades em dezembro de 2010 devido a férias coletivas. Na passagem do último mês do ano passado para janeiro, a produção de material eletrônico e equipamentos de comunicações aumentou 35,5%. Se não fosse o resultado desse segmento, o crescimento de bens duráveis (6,0%) seria, certamente, bem inferior – possivelmente negativo –, já que a produção de veículos automotores recuou, em janeiro, 3,2% e a de eletrodomésticos vem registrando forte desaceleração nos últimos meses (desde o quarto trimestre de 2010).

Os dados divulgados hoje pelo IBGE reforçam a análise de que a indústria não está se beneficiando do bom desempenho da economia brasileira; pelo contrário, ela está perdendo grandes oportunidades. Essa retração presente nos seus registros de produção não significa, entretanto, que a indústria entrou num processo mais profundo de recessão e de desarticulação de suas atividades. As destacadas características da indústria nacional (estrutura complexa, diversificada e dinâmica) lhe garantem condições de reação, mas, o que tudo indica, é que ela não está apresentando forças para tal no momento – os “porquês” já foram muitas vezes destacados por esta Análise.

O aumento de 1,8% da produção de bens de capital em janeiro frente a dezembro é um sinal de que a decisões de investir das empresas vêm se mantendo firme. Esse indicador é importantíssimo não somente para o desempenho da indústria, mas também para a economia brasileira em geral, já que, se as decisões de investir na indústria forem afetadas, também serão afetadas as decisões de investimentos nos outros setores da economia. E se o bom sinal nos dados do IBGE vem de bens de capital, a queda de 0,4% na produção de bens intermediários é preocupante, pois confirma uma sequência de resultados negativos ou fracos do setor há muitos meses. Como se sabe, esse setor é o de maior peso na estrutura da indústria e pode ser considerado o seu “termômetro”. Aqui, a temperatura está baixa (retração de 0,8% de abril de 2010 a janeiro deste ano), e o motivo é, sem dúvida, a substituição do bem produzido domesticamente pelo bem importado.
 

 
Segundo dados do IBGE, a indústria brasileira registrou elevação de 0,2% em janeiro comparativamente ao mês anterior, na série com dados dessazonalizados, após dois recuos consecutivos (–0,1% em novembro e –0,8% em dezembro). Na comparação com janeiro de 2010, houve uma alta da produção industrial de 2,5%. No acumulado dos últimos 12 meses frente a igual período imediatamente anterior, a produção industrial apresentou um avanço de 9,4%, registrando uma clara desaceleração, visto que em dezembro, essa variação foi de +10,4%.

Dentre as categorias de uso, a de bens de consumo duráveis apresentou, frente a dezembro de 2010 na série livre de efeitos sazonais, a maior alta na produção industrial: crescimento de 6,0% – elevação bastante superior à média da indústria geral (0,2%). Importante destacar também a evolução da produção de bens de capital, que registrou expansão 1,8%. Os bens semi e não duráveis também registraram acréscimo, porém de menor magnitude (0,3%). A categoria bens intermediários, por sua vez, registrou recuo de 0,4%.

Na comparação mensal (mês/mesmo mês do ano anterior), todas as categorias de uso obtiveram um desempenho positivo em janeiro. Nessa comparação, a categoria de maior variação foi bens de capital, que assinalou crescimento de 9,1%. Na seqüência, aparecem bens de consumo duráveis (6,1%), bens intermediários (0,9%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (0,8%).

 

 
No acumulado nos últimos 12 meses, as taxas positivas continuam a persistir, porém em menor intensidade que os meses anteriores. Dessa forma, o segmento bens de capital apresentou o melhor resultado dentre as categorias, com alta de 20,4%, comparativamente ao crescimento de 20,8% de dezembro. Nessa mesma comparação, as demais categorias de uso tiveram os seguintes resultados: bens intermediários (de 11,4% em novembro para 9,9% em dezembro), bens duráveis (de 10,3% para 8,5%) e bens de consumo semi e não duráveis (de 5,2% para 4,8%).

Em comparação a dezembro de 2010, com dados dessazonalizados, foi verificado aumento no nível de produção em 15 dos 27 ramos produtivos contemplados na pesquisa. Os maiores destaques foram: Material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (35,5%), farmacêutica (5,4%), metalurgia básica (5,3%), diversos (4,4%) e vestuário e acessórios (3,4%). Entre as atividades que reduziram a produção na passagem de dezembro para janeiro, os destaques foram: Equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros (–5,8%), fumo (–3,7%) e veículos automotores (–3,2%)

Na variação observada no confronto entre janeiro de 2011 e janeiro de 2010, a indústria geral acusou aumento no nível de produção de 2,5%. Nessa comparação, em 15 dos 27 setores pesquisados foi verificado avanço da produção industrial. Das atividades que registraram avanço de produção destacaram-se: veículos automotores (8,2%), máquinas e equipamentos (7,0%), indústrias extrativas (5,5%), outros equipamentos de transporte (11,8%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (14,8%) e farmacêutica (7,4%). Entre os oito ramos que apontaram queda, as principais pressões vieram de têxtil (–11,6%), bebidas (–4,5%), produtos de metal (–5,1%) e refino de petróleo e produção de álcool (–2,3%).

 

 

 

 

 

 

 

 

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