17 de fevereiro de 2011 |
Indústria |
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A taxa de crescimento da produtividade em 2010 foi igual à observada em 2004. Porém, diferentemente do contexto de 2010, quando a indústria completou o movimento de recuperação da queda de produção provocada pela crise financeira internacional de 2008, em 2004 a indústria se recuperava de um período de estagnação, devido à crise de confiança provocada pela eleição presidencial no final de 2002. Mesmo assim, em ambos os momentos, observou-se que a recuperação na produção industrial antecipou a das horas pagas e do emprego, um movimento típico de retomadas de crescimento. A remuneração média do trabalho na indústria em 2010 cresceu 3,3% em termos reais. Comparando com o aumento da produtividade, isso representou uma queda acumulada no custo da mão de obra para a indústria de 2,7%. O movimento ao longo do ano, no entanto, mostrou que a partir do segundo semestre as taxas de aumento dos salários em relação ao ano anterior se situaram acima da produtividade, sinalizando uma possível pressão de custos para a indústria a partir de então. O movimento das taxas de crescimento da produção industrial e da produtividade ao longo do ano, na comparação mês em relação a igual mês do ano anterior da Indústria geral, mostrou que o ritmo de expansão se reduziu já a partir do segundo trimestre de 2010, quando as taxas de crescimento passaram a ser menores. Em outubro, mês em que a produção industrial registrou expansão de apenas 1,9% em relação a outubro de 2009, a produtividade registrou contração de 2,0%. As horas pagas e o emprego apresentaram taxas positivas e crescentes a partir de fevereiro até o final do primeiro semestre, quando também reduziram o ritmo de expansão. Mesmo com menor ritmo de crescimento da produção industrial, o emprego se manteve positivo, assim como as horas pagas. Esse resultado sinaliza que a produção industrial deverá continuar a se expandir em 2011, porém em menor ritmo que em 2010, dado que a fase de recuperação em relação a 2009 já teria se completado, e pressões de aumento de custo da mão de obra já se fizeram presentes em 2010. Desagregando-se a evolução da produtividade da Indústria geral entre as Indústrias Extrativas e de Transformação, observa-se que o movimento das taxas seguiu padrão semelhante ao longo dos últimos dois anos, com as taxas das Indústrias Extrativas situando-se em níveis inferiores às da Indústria de Transformação na maior parte do tempo. A situação se inverteu a partir de agosto de 2010, quando ocorreu uma desaceleração no ritmo de crescimento acumulado da produtividade da Indústria de Transformação, que alcançou em dezembro de 2010 taxa de 6,0%, contra 9,0% das Indústrias Extrativas. Observa-se também que existe uma elevada correlação entre a taxa de crescimento da produtividade da indústria e a taxa de crescimento da formação bruta de capital fixo. Ambas as taxas evoluem de forma pró-cíclica, sinalizando que o crescimento da produtividade industrial depende, em grande parte, da expansão do investimento na economia. Em tese, isso ocorre por pelo menos dois motivos. A expansão do investimento deve se reverter em parte em demanda por produtos produzidos pela indústria de transformação, ampliando as possibilidades de exploração das economias de escala no setor e, portanto, contribuindo para o aumento da produtividade agregada da indústria. A demanda por investimento também deve se refletir em demanda para o setor produtor de máquinas e equipamentos, que por sua natureza incorpora progresso técnico, na medida em que máquinas novas e mais modernas são mais produtivas. Assim, a expansão do setor doméstico produtor de bens de capital, estimulado pelo aumento no investimento, é um importante indutor e disseminador do progresso técnico, e portanto do aumento da produtividade tanto na indústria como nos demais setores da economia. Na medida em que esses dois fatores se verifiquem, maior será o impacto positivo do investimento produtivo sobre a produtividade industrial. Em termos da indústria no contexto recente, pode-se argumentar que o desempenho da produtividade industrial deverá passar a depender mais da introdução de melhorias e inovações no processo de produção no futuro próximo, fruto de uma maior taxa de investimento na produção. A maior dependência do aumento da produtividade de taxas de investimento mais elevadas pode ser justificada por dois fatores. De um lado, a produção e o emprego industrial apontaram em 2010 para uma recuperação em relação aos níveis pré-crise financeira internacional, que atingiu a economia brasileira mais fortemente a partir do último trimestre de 2008. Dessa forma, ganhos de produtividade oriundos da ocupação de capacidade ociosa gerada pela crise devem ser cada vez menores daqui para frente. De outro, as medidas de política econômica anti-cíclicas adotadas em 2009 já começaram a ser retiradas em 2010, sinalizando que esse estímulo ao crescimento da demanda agregada está tendo seus efeitos multiplicadores dissipados, reforçando a importância da retomada do investimento produtivo para o crescimento da produtividade industrial. Vale observar que a tendência à apreciação cambial que se observa da moeda nacional, e que deve persistir dada a elevada liquidez internacional, ajuda na renovação do parque industrial, por um lado, porém vem exercendo efeito perverso na competitividade dos bens industrializados, com consequencias negativas sobre a estrutura produtiva da indústria. Em suma, se a retomada do ciclo expansivo do investimento que se iniciou em 2004 e foi abruptamente interrompido pela crise financeira internacional no final de 2008 for mantida, deve-se esperar um bom desempenho da produtividade industrial em 2011, ainda que inferior ao registrado em 2010. Contudo, a sustentação da retomada do investimento irá depender do conjunto de estímulos internos e externos à expansão da demanda agregada. O desempenho da produtividade deverá aliviar também pressões advindas do maior custo da mão de obra, fruto da aceleração do crescimento industrial em 2010. |
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