2 de fevereiro de 2011

Indústria
A confirmação do mau momento


  

 
O crescimento de 10,5% da indústria em 2010 com relação a 2009 – este último ano marcado pela crise – mostra que o setor logrou recuperar-se dos efeitos da situação internacional, que, como sabemos, atingiu em cheio o setor manufatureiro do País – como de resto atingiu o setor industrial mundo afora. Portanto, o resultado deve ser louvado, mas está longe de refletir a dinâmica da indústria brasileira ao longo do ano de 2010.

Em verdade, o desempenho registrado em 2010 pode ser considerado favorável na média do ano, mas o que também fica evidenciado nos últimos dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados hoje pelo IBGE, é que, no decorrer do ano passado, a situação da produção foi se deteriorando. O crescimento da produção industrial foi pujante de meados de 2009 até março de 2010, mas, a partir daí, passou a oscilar mensalmente – apresentando predominantemente variações negativas –, culminando em dezembro último com uma queda de 0,7% com relação a novembro, variação que se seguiu a uma retração de 0,2% no mês imediatamente anterior.

De abril a dezembro de 2010, a indústria acumula redução de 2,7%, o que mostra que as importações não apenas vieram para complementar a produção industrial, dado o dinâmico crescimento da demanda doméstica, mas que elas estão também substituindo a produção local.

De fato, como o mercado interno vem preservando um crescimento elevado desde que a economia superou a crise, não se justifica o declínio da produção industrial no período em foco exceto pelo canal das importações. É importante destacar novamente que as compras no exterior contribuem efetivamente para complementar a oferta doméstica, mas que na situação presente elas já extrapolaram essa dimensão e passaram a restringir a produção nacional.

Há uma flagrante perda de competitividade de se produzir no País, sendo importante destacar que a produtividade na produção brasileira de bens e serviços poderia avançar mais rapidamente, assim como é importante também avançar mais nos esforços para dotar a empresa brasileira de uma maior capacidade inovadora. No entanto, é ainda mais contundente o diferencial de custos de produção e financiamento no Brasil em relação a outros países, sobretudo aqueles mais aguerridos em suas estratégias de desenvolvimento industrial, como a China.

Está muito caro produzir no Brasil, mais caro ainda é produzir para exportar. Não há um fator único, mas um conjunto deles que determinam o estágio atual do problema. O núcleo comum é a tolerância com que a Política Econômica lida com as elevadíssimas taxas de juros dos empréstimos domésticos para capital de giro, com a ausência de fontes voluntárias de longo prazo para investimentos, com os tributos que o exportador nacional ainda carrega nas vendas externas, com os encargos trabalhistas elevadíssimos, com a infraestrutura cara e insuficiente e, por fim, com juros e câmbio absolutamente fora do lugar.

A análise dos segmentos por categoria de uso reforça o diagnóstico de que a indústria vive um momento que está longe de acompanhar o dinamismo do mercado interno consumidor. Todos os segmentos tiveram resultados adversos em dezembro na comparação com novembro, incluindo o setor que vinha apresentando alguma resistência à queda da produção corrente, qual seja, o de bens de capital. Neste setor, o recuo foi de 0,5%; no de bens intermediários, a variação foi nula; e nos segmentos de bens de consumo duráveis e de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis, a produção caiu 0,6% e 0,4%, respectivamente.

No período abril-dezembro de 2010, esses segmentos acumularam as seguintes variações: 1,1% em bens de capital; –0,3% em bens intermediários; –2,0% em bens de consumo duráveis; e –3,4% em bens de consumo semiduráveis e não-duráveis.

Leia aqui o texto completo desta Análise.