Para quem ainda desconhece os efeitos negativos que uma excessiva
valorização cambial (dentre outros fatores) é
capaz de gerar em uma economia, os últimos dados do IBGE
para o emprego industrial dão indicações
ilustrativas. Câmbio e outros fatores que restringem a competitividade
da indústria já restringem também o aumento
do emprego na indústria, o que é ruim porque a ocupação
industrial tem, em média, qualidade superior e é
mais bem remunerada.
Segundo a
pesquisa de emprego industrial divulgada hoje, os sinais são
inequívocos: o emprego industrial passou a refletir o que
vinha ocorrendo com antecedência na produção
física da indústria nacional. Assim, se a produção
apresentou resultados fracos ou mesmo negativos de abril a novembro
de 2010, acumulando no período uma retração
de 1,7%, agora é a vez do emprego. De fato, nos meses de
agosto, setembro, outubro e novembro de 2010, o número
de ocupados na indústria ficou estagnado. O leitor poderá
constatar o contraste dos últimos quatro meses quando o
emprego aumentou a cada mês 0%, 0,1%, 0% e 0,1%, respectivamente
em agosto, setembro, outubro e novembro, com os quatro meses anteriores,
quando evoluía 0,4%, 0,4%, 0,5% e 0,3%, respectivamente
em abril, maio, junho e julho.
Ou seja, o
mercado de trabalho sente os efeitos do mau momento pelo qual
a indústria brasileira vem passando em decorrência
da perda de competitividade do produto doméstico frente
ao importado – o Real valorizado e as antigas questões
relativas a uma infraestrutura inadequada e uma tributação
imprópria estão na base desse processo.
Mesmo ao se
considerar a série que compara o nível de emprego
de um mês com relação ao mesmo mês do
ano anterior, o desempenho do emprego industrial não é
favorável. De fato, na comparação com novembro
de 2009, o contingente de trabalhadores no setor industrial atingiu
crescimento de 3,0%, décima taxa positiva, porém
a de menor magnitude dos últimos nove meses. Já,
no acumulado entre janeiro e novembro de 2010 frente a igual período
de 2009, o emprego fabril registrou alta de 3,4%, e, no acumulado
nos últimos doze meses em relação a período
imediatamente anterior, o emprego obteve acréscimo de 2,9%.
No entanto, essas taxas de variação do emprego acumulados
em 2010 devem ser tomadas com cautela, pois os períodos
de comparação (do ano de 2009) apresentavam níveis
baixos de emprego – em consequência dos efeitos da
crise internacional.
Regionalmente,
no confronto entre novembro de 2010 e novembro de 2009, o emprego
industrial ampliou-se em todas as quatorze regiões pesquisadas
pelo IBGE. São Paulo (2,1%) exerceu o maior impacto positivo
na taxa global, seguido pela região Nordeste (3,8%), Rio
de Janeiro (7,0%) e Minas Gerais (3,6%). As outras localidades
tiveram o seguinte desempenho: Bahia (7,8%), Espírito Santo
(5,8%), Pernambuco (4,2%), Santa Catarina (3,5%), Ceará
(3,1%), Sudeste (3,0%), Sul (2,9%), Rio Grande do Sul (2,8%),
Norte e Centro-Oeste (2,7%) e Paraná (2,4%).
Em termos
setoriais, na comparação com mesmo mês do
ano anterior, houve aumento do emprego em doze dos dezoito ramos
pesquisados. Os segmentos que representaram as maiores contribuições
positivas foram: máquinas e equipamentos (9,8%), meios
de transporte (9,1%), produtos de metal (9,3%), borracha e plástico
(9,0%) e máquinas, aparelhos eletroeletrônicos e
de comunicações (8,7%). Por outro lado, papel e
gráfica (–7,5%), refino de petróleo e produção
de álcool (–11,5%) e vestuário (–3,2%)
foram os principais impactos negativos.
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