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Nos últimos oito meses não se assiste a uma trajetória
de crescimento firme nem a uma trajetória declinante clara,
mas a uma oscilação da produção industrial
média brasileira em torno de um nível praticamente
estagnado. Se a produção da indústria pende
para um dos lados, é para o lado negativo, pois, em novembro,
ela correspondeu a –1,7% do nível produzido em março
de 2010. Trata-se de um período suficientemente longo (de
março a novembro) para caracterizar uma “parada”
– ou uma estagnação – deste que ainda
é o setor motriz do crescimento econômico brasileiro:
o setor industrial.
Como as vendas
no varejo crescem a altas taxas e o investimento empresarial –
além do investimento público – mantém-se
em ritmo acelerado e, ademais, a exportação de manufaturados
vem acusando evolução positiva, deduz-se que a produção
industrial do País vem sendo deslocada pela produção
de fora, vale dizer, pela produção que penetra no
mercado interno brasileiro por meio das importações.
Moeda valorizada em um contexto de grande crescimento da economia
e do comércio mundial tem repercussões sobre a produção
interna. Mas, a mesma valorização do Real em um
contexto de fraca atividade dos principais mercados consumidores
mundiais, que resulta em um grande excedente de produção
manufatureira e consequente concorrência acirradíssima
por mercados externos, tem repercussões muito mais profundas
em afetar a produção local. Essa é a razão
da “virada” de dinamismo que a indústria brasileira
viveu nos últimos oito meses até novembro de 2010.
Falar que
são necessárias medidas mais eficazes para reposicionar
a taxa de câmbio e para assegurar maior competitividade
extra-câmbio para o produto nacional já é
lugar comum. Faltam agora as ações.
Para se ter
uma idéia mais geral do movimento da produção
industrial desde o agravamento da crise internacional ocorrida
em setembro de 2008, pode-se tomar os seguintes períodos:
(i) de outubro de 2008 a julho de 2009, período de retração
e ajustes na produção industrial nacional em razão
da crise internacional; (ii) de agosto de 2009 a março
de 2010, período de recuperação e expansão
da indústria; (iii) de abril a novembro de 2010, período
de estagnação.
No primeiro
período, a produção da indústria geral
recuou 10,3%; no segundo, cresceu 11,7%, ou seja, praticamente
“devolveu” a retração anterior; no terceiro
período, como foi dito acima, a produção
física da indústria brasileira caiu 1,7%. Ao se
comparar com setembro de 2008, o nível de produção
de novembro de 2010 é 1,5% inferior, ou ainda, após
mais de dois anos, a indústria não conseguiu estabilizar
seu nível de produção naquele patamar –
e muito menos ir além dele (todas as taxas calculadas a
partir da série com ajuste sazonal).
Essa análise
pode ser feita para as diferentes categorias de uso:
-
Bens de capital - A despeito de os investimentos apresentarem
expansão na economia brasileira, o quadro não
é tão animador: no primeiro período, houve
queda de 24,9% (a mais acentuada entre as demais categorias);
no segundo, aumento de 24,0%; no terceiro, ligeiro crescimento
de 1,5%. De ponta a ponta, ou seja, ao se comparar o nível
de produção de bens de capital de novembro de
2010 com o de setembro de 2008, observa-se que ele está
5,5% abaixo.
- Bens duráveis
- O primeiro período foi de retração de 7,8%;
o segundo, de aumento de 7,3%; no terceiro, houve queda de 1,6%.
De ponta a ponta, a produção nesse caso é
2,6% menor.
- Bens semiduráveis
e não duráveis - Recuo de 4,9% no primeiro período;
expansão de 8,1% no segundo; e retração de
3,1% no terceiro período correspondente a março
a novembro de 2010 (a maior queda observada para esse período
entre as diferentes categorias de uso). Em novembro de 2010 com
relação a setembro de 2008, a produção
de bens semiduráveis e não duráveis também
apresenta patamar menor (–0,3%).
- Bens intermediários
- Declínio de 9,9% no primeiro período, o qual foi
seguido de uma recuperação de 11,4% no segundo período
e de uma estagnação no terceiro (0,1%). Vale observar
que esse é o único setor com nível de produção
no mês de novembro de 2010 maior (0,4%) do que aquele registrado
em setembro de 2008, e isso se deve muito à expansão
da produção, observada no ano de 2010, de bens intermediários
ligados a commodities para exportação (como, por
exemplo, o ferro), decorrente do forte estímulo dado pela
escalada de seus preços internacionais.
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Segundo dados do IBGE, a produção da indústria geral
assinalou variação negativa de 0,1% em novembro frente a
outubro na série com dados dessazonalizados, após apontar
taxas ligeiramente positivas em setembro (0,1%) e em outubro (0,3%). Frente
a novembro do ano anterior, a produção industrial manteve
(ao assinalar aumento de 5,3%) a seqüência de treze meses de
resultados positivos, mas em nítida desaceleração.
No ano, a indústria geral acumulou crescimento de 11,1%. No acumulado
dos últimos 12 meses frente à igual período imediatamente
anterior, houve expansão de 11,7%.
Em relação
ao mês imediatamente anterior, com dados já livres dos efeitos
sazonais, os setores produtores de bens de capital (3,2%) e de bens intermediários
(1,0%) assinalaram taxas positivas, revertendo assim as perdas acumuladas
nos últimos meses de, respectivamente, 2,6% e 1,5%. Os índices
por categoria de uso apresentaram retração na produção
dos segmentos de bens de consumo duráveis (–0,7%) e bens
de consumo semi-duráveis (–0,5%).
Frente a novembro
de 2009, todas as categorias de uso assinalaram resultados positivos,
com destaque para o aumento da produção de bens de capital
(9,0%), o qual se deveu ao desempenho dos subsetores de bens de capital
para equipamentos de transporte (20,2%), bens de capital para construção
(36,5%) e para fins industriais (6,6%). Acima da média do desempenho
geral da indústria nessa comparação (5,3%), também
aparecem os bens intermediários, com avanço de 5,8%. Os
bens de consumo duráveis e semiduráveis e não duráveis
ficaram abaixo da média da indústria geral, com resultados
positivos de 4,6% e 3,1%, respectivamente. Na variação acumulada
nos primeiros onze meses de 2010, mais uma vez o destaque positivo foi
a categoria bens de capital (22,3%), seguida dos bens intermediários
(12,2%), bens de consumo duráveis (10,6%) e semiduráveis
e não duráveis (5,6%).
A partir dos dados
dessazonalizados, observou-se, na passagem de outubro para novembro de
2010, dos 27 setores incluídos na pesquisa, doze ramos com queda
na produção, quatorze com índices positivos e um
com crescimento nulo. Os destaques por ordem de contribuição
foram: máquinas para escritório e equipamentos de informática
(9,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,2%),
refino de petróleo e produção de álcool (3,0%),
edição e impressão (2,7%), indústrias extrativas
(1,6%). Já as principais influências negativas vieram de
alimentos (–2,1%), farmacêutica (–2,0%), máquinas
e equipamentos e outros produtos químicos ambos com (–1,1%)
e veículos automotores (–0,5%).
No confronto de novembro
de 2010 com novembro de 2009, o crescimento foi generalizado, atingindo
24 dos 27 ramos industriais, com destaque para: veículos automotores
(14,2%), outros equipamentos de transporte (16,5%), produtos de metal
(15,8%), indústria extrativa (11,5%), edição e impressão
(7,1%) e máquinas e equipamentos (4,3%). Os impactos negativos
mais relevantes, por sua vez, vieram de material eletrônico e equipamentos
de comunicações (–11,4%), têxtil (–5,7%)
e calçados e artigos em couro (–5,5%).
No acumulado entre
janeiro e novembro de 2010, 25 das 27 atividades registraram crescimento
na produção. Os destaques positivos foram: máquinas
e equipamentos (26,2%), produtos de metal (25,8%), veículos automotores
(25,4%), metalurgia básica (19,6%), borracha e plástico
(13,8%), indústrias extrativas (13,7%), outros produtos químicos
(10,9%). Por outro lado, os setores de produtos do fumo (–8,6%)
e de outros equipamentos de transporte (–1,0%) apareceram como as
duas únicas atividades que apontaram queda.
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