5 de janeiro de 2011

Indústria
O nome correto é estagnação


  

 
Nos últimos oito meses não se assiste a uma trajetória de crescimento firme nem a uma trajetória declinante clara, mas a uma oscilação da produção industrial média brasileira em torno de um nível praticamente estagnado. Se a produção da indústria pende para um dos lados, é para o lado negativo, pois, em novembro, ela correspondeu a –1,7% do nível produzido em março de 2010. Trata-se de um período suficientemente longo (de março a novembro) para caracterizar uma “parada” – ou uma estagnação – deste que ainda é o setor motriz do crescimento econômico brasileiro: o setor industrial.

Como as vendas no varejo crescem a altas taxas e o investimento empresarial – além do investimento público – mantém-se em ritmo acelerado e, ademais, a exportação de manufaturados vem acusando evolução positiva, deduz-se que a produção industrial do País vem sendo deslocada pela produção de fora, vale dizer, pela produção que penetra no mercado interno brasileiro por meio das importações. Moeda valorizada em um contexto de grande crescimento da economia e do comércio mundial tem repercussões sobre a produção interna. Mas, a mesma valorização do Real em um contexto de fraca atividade dos principais mercados consumidores mundiais, que resulta em um grande excedente de produção manufatureira e consequente concorrência acirradíssima por mercados externos, tem repercussões muito mais profundas em afetar a produção local. Essa é a razão da “virada” de dinamismo que a indústria brasileira viveu nos últimos oito meses até novembro de 2010.

Falar que são necessárias medidas mais eficazes para reposicionar a taxa de câmbio e para assegurar maior competitividade extra-câmbio para o produto nacional já é lugar comum. Faltam agora as ações.

Para se ter uma idéia mais geral do movimento da produção industrial desde o agravamento da crise internacional ocorrida em setembro de 2008, pode-se tomar os seguintes períodos: (i) de outubro de 2008 a julho de 2009, período de retração e ajustes na produção industrial nacional em razão da crise internacional; (ii) de agosto de 2009 a março de 2010, período de recuperação e expansão da indústria; (iii) de abril a novembro de 2010, período de estagnação.

No primeiro período, a produção da indústria geral recuou 10,3%; no segundo, cresceu 11,7%, ou seja, praticamente “devolveu” a retração anterior; no terceiro período, como foi dito acima, a produção física da indústria brasileira caiu 1,7%. Ao se comparar com setembro de 2008, o nível de produção de novembro de 2010 é 1,5% inferior, ou ainda, após mais de dois anos, a indústria não conseguiu estabilizar seu nível de produção naquele patamar – e muito menos ir além dele (todas as taxas calculadas a partir da série com ajuste sazonal).

Essa análise pode ser feita para as diferentes categorias de uso:

  • Bens de capital - A despeito de os investimentos apresentarem expansão na economia brasileira, o quadro não é tão animador: no primeiro período, houve queda de 24,9% (a mais acentuada entre as demais categorias); no segundo, aumento de 24,0%; no terceiro, ligeiro crescimento de 1,5%. De ponta a ponta, ou seja, ao se comparar o nível de produção de bens de capital de novembro de 2010 com o de setembro de 2008, observa-se que ele está 5,5% abaixo.
     
  • Bens duráveis - O primeiro período foi de retração de 7,8%; o segundo, de aumento de 7,3%; no terceiro, houve queda de 1,6%. De ponta a ponta, a produção nesse caso é 2,6% menor.
     
  • Bens semiduráveis e não duráveis - Recuo de 4,9% no primeiro período; expansão de 8,1% no segundo; e retração de 3,1% no terceiro período correspondente a março a novembro de 2010 (a maior queda observada para esse período entre as diferentes categorias de uso). Em novembro de 2010 com relação a setembro de 2008, a produção de bens semiduráveis e não duráveis também apresenta patamar menor (–0,3%).
     
  • Bens intermediários - Declínio de 9,9% no primeiro período, o qual foi seguido de uma recuperação de 11,4% no segundo período e de uma estagnação no terceiro (0,1%). Vale observar que esse é o único setor com nível de produção no mês de novembro de 2010 maior (0,4%) do que aquele registrado em setembro de 2008, e isso se deve muito à expansão da produção, observada no ano de 2010, de bens intermediários ligados a commodities para exportação (como, por exemplo, o ferro), decorrente do forte estímulo dado pela escalada de seus preços internacionais.
     

 
Segundo dados do IBGE, a produção da indústria geral assinalou variação negativa de 0,1% em novembro frente a outubro na série com dados dessazonalizados, após apontar taxas ligeiramente positivas em setembro (0,1%) e em outubro (0,3%). Frente a novembro do ano anterior, a produção industrial manteve (ao assinalar aumento de 5,3%) a seqüência de treze meses de resultados positivos, mas em nítida desaceleração. No ano, a indústria geral acumulou crescimento de 11,1%. No acumulado dos últimos 12 meses frente à igual período imediatamente anterior, houve expansão de 11,7%.

Em relação ao mês imediatamente anterior, com dados já livres dos efeitos sazonais, os setores produtores de bens de capital (3,2%) e de bens intermediários (1,0%) assinalaram taxas positivas, revertendo assim as perdas acumuladas nos últimos meses de, respectivamente, 2,6% e 1,5%. Os índices por categoria de uso apresentaram retração na produção dos segmentos de bens de consumo duráveis (–0,7%) e bens de consumo semi-duráveis (–0,5%).

Frente a novembro de 2009, todas as categorias de uso assinalaram resultados positivos, com destaque para o aumento da produção de bens de capital (9,0%), o qual se deveu ao desempenho dos subsetores de bens de capital para equipamentos de transporte (20,2%), bens de capital para construção (36,5%) e para fins industriais (6,6%). Acima da média do desempenho geral da indústria nessa comparação (5,3%), também aparecem os bens intermediários, com avanço de 5,8%. Os bens de consumo duráveis e semiduráveis e não duráveis ficaram abaixo da média da indústria geral, com resultados positivos de 4,6% e 3,1%, respectivamente. Na variação acumulada nos primeiros onze meses de 2010, mais uma vez o destaque positivo foi a categoria bens de capital (22,3%), seguida dos bens intermediários (12,2%), bens de consumo duráveis (10,6%) e semiduráveis e não duráveis (5,6%).

 

 
A partir dos dados dessazonalizados, observou-se, na passagem de outubro para novembro de 2010, dos 27 setores incluídos na pesquisa, doze ramos com queda na produção, quatorze com índices positivos e um com crescimento nulo. Os destaques por ordem de contribuição foram: máquinas para escritório e equipamentos de informática (9,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,2%), refino de petróleo e produção de álcool (3,0%), edição e impressão (2,7%), indústrias extrativas (1,6%). Já as principais influências negativas vieram de alimentos (–2,1%), farmacêutica (–2,0%), máquinas e equipamentos e outros produtos químicos ambos com (–1,1%) e veículos automotores (–0,5%).

No confronto de novembro de 2010 com novembro de 2009, o crescimento foi generalizado, atingindo 24 dos 27 ramos industriais, com destaque para: veículos automotores (14,2%), outros equipamentos de transporte (16,5%), produtos de metal (15,8%), indústria extrativa (11,5%), edição e impressão (7,1%) e máquinas e equipamentos (4,3%). Os impactos negativos mais relevantes, por sua vez, vieram de material eletrônico e equipamentos de comunicações (–11,4%), têxtil (–5,7%) e calçados e artigos em couro (–5,5%).

No acumulado entre janeiro e novembro de 2010, 25 das 27 atividades registraram crescimento na produção. Os destaques positivos foram: máquinas e equipamentos (26,2%), produtos de metal (25,8%), veículos automotores (25,4%), metalurgia básica (19,6%), borracha e plástico (13,8%), indústrias extrativas (13,7%), outros produtos químicos (10,9%). Por outro lado, os setores de produtos do fumo (–8,6%) e de outros equipamentos de transporte (–1,0%) apareceram como as duas únicas atividades que apontaram queda.

 

 

 

 

 

 

 

 

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