Os dados hoje divulgados sobre a balança comercial em 2010
provocam inevitavelmente uma reflexão sobre o futuro do
comércio exterior e da própria economia brasileira.
Se nada for feito seja em termos do câmbio seja em termos
da promoção da competitividade da economia nacional,
o ano de 2010 representará um divisor de águas por
simbolizar uma penetração ímpar das importações
industriais capaz de deslocar a produção nacional
e deprimir o potencial de crescimento da indústria e da
economia como um todo.
O ano passado
registrou superávit comercial brasileiro de US$ 20,3 bilhões
(US$ 80,8 milhões de média diária), o pior
resultado desde 2002, a despeito do recorde registrado nas exportações
(de US$ 202 bilhões), já que as importações
atingiram, igualmente, a maior cifra da história (US$ 181,6
bilhões). O ano de 2010 se notabilizou pelo espetacular
crescimento das importações (de 41,6% frente a 2009
considerando as médias por dia útil), impulsionado
pelo dinamismo do mercado interno e pelo patamar apreciado da
moeda brasileira. As exportações avançaram,
igualmente, numa velocidade considerável (31,4% pelo mesmo
critério), mas não tão expressiva (uma diferença
de 10,2 pontos percentuais em relação às
importações).
Se o diferencial
de crescimento das compras vis-à-vis as vendas
externas persistir, não deve ser descartada a hipótese
de que o comércio exterior venha a se tornar novamente
deficitário em 2011, embora consideremos que isto não
ocorrerá, sobretudo se os preços das commodities
sustentarem a trajetória favorável dos últimos
meses. Foi exatamente essa trajetória que possibilitou
a aceleração da taxa de expansão das exportações
no último trimestre de 2010, que atingiu 38,4%, superando
aquela das importações (34,1%), ao contrário
do observado no acumulado do ano (como destacado acima) e nos
três primeiros trimestres, quando as importações
expandiram num ritmo muito superior ao das exportações.
Em suma,
a manutenção de um saldo positivo na balança
comercial brasileira em 2011 dependerá de um fator que
pode ser considerado conjuntural, a sustentação
das cotações das commodities exportadas pelo Brasil
em patamares elevados, que garantiu uma taxa de crescimento de
44,7% dos produtos básicos e de 37% dos semi-manufaturados
em 2010. Um possível resultado negativo não deve
ser descartado devido ao imenso déficit que a indústria
de transformação vem acumulando desde a saída
da crise, que tem como um dos seus determinantes a perda de dinamismo
das exportações de bens manufaturados, cujo ritmo
de crescimento foi de somente 17,7% em 2010.
Mesmo uma
desvalorização expressiva do real pode não
ser suficiente para reverter a forte perda de competitividade
desse setor no contexto atual de recuperação frágil
das economias avançadas e acirramento da concorrência
no mercado mundial de produtos manufaturados (sob a liderança
da China). Será necessário que o país enfrente
as demais questões que restringem a capacidade da indústria
concorrer nos mercados internacionais e se impor diante da concorrência
dos bens importados no mercado interno. São questões
conhecidas, mas que não custa relembrar: a má concepção
tributária do país, as deficiências da infra-estrutura,
o custo de capital elevado, o incentivo ainda insuficiente para
a inovação.
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