3 de janeiro de 2011

Comércio Exterior
2010: Um divisor de águas


  

 
Os dados hoje divulgados sobre a balança comercial em 2010 provocam inevitavelmente uma reflexão sobre o futuro do comércio exterior e da própria economia brasileira. Se nada for feito seja em termos do câmbio seja em termos da promoção da competitividade da economia nacional, o ano de 2010 representará um divisor de águas por simbolizar uma penetração ímpar das importações industriais capaz de deslocar a produção nacional e deprimir o potencial de crescimento da indústria e da economia como um todo.

O ano passado registrou superávit comercial brasileiro de US$ 20,3 bilhões (US$ 80,8 milhões de média diária), o pior resultado desde 2002, a despeito do recorde registrado nas exportações (de US$ 202 bilhões), já que as importações atingiram, igualmente, a maior cifra da história (US$ 181,6 bilhões). O ano de 2010 se notabilizou pelo espetacular crescimento das importações (de 41,6% frente a 2009 considerando as médias por dia útil), impulsionado pelo dinamismo do mercado interno e pelo patamar apreciado da moeda brasileira. As exportações avançaram, igualmente, numa velocidade considerável (31,4% pelo mesmo critério), mas não tão expressiva (uma diferença de 10,2 pontos percentuais em relação às importações).

Se o diferencial de crescimento das compras vis-à-vis as vendas externas persistir, não deve ser descartada a hipótese de que o comércio exterior venha a se tornar novamente deficitário em 2011, embora consideremos que isto não ocorrerá, sobretudo se os preços das commodities sustentarem a trajetória favorável dos últimos meses. Foi exatamente essa trajetória que possibilitou a aceleração da taxa de expansão das exportações no último trimestre de 2010, que atingiu 38,4%, superando aquela das importações (34,1%), ao contrário do observado no acumulado do ano (como destacado acima) e nos três primeiros trimestres, quando as importações expandiram num ritmo muito superior ao das exportações.

Em suma, a manutenção de um saldo positivo na balança comercial brasileira em 2011 dependerá de um fator que pode ser considerado conjuntural, a sustentação das cotações das commodities exportadas pelo Brasil em patamares elevados, que garantiu uma taxa de crescimento de 44,7% dos produtos básicos e de 37% dos semi-manufaturados em 2010. Um possível resultado negativo não deve ser descartado devido ao imenso déficit que a indústria de transformação vem acumulando desde a saída da crise, que tem como um dos seus determinantes a perda de dinamismo das exportações de bens manufaturados, cujo ritmo de crescimento foi de somente 17,7% em 2010.

Mesmo uma desvalorização expressiva do real pode não ser suficiente para reverter a forte perda de competitividade desse setor no contexto atual de recuperação frágil das economias avançadas e acirramento da concorrência no mercado mundial de produtos manufaturados (sob a liderança da China). Será necessário que o país enfrente as demais questões que restringem a capacidade da indústria concorrer nos mercados internacionais e se impor diante da concorrência dos bens importados no mercado interno. São questões conhecidas, mas que não custa relembrar: a má concepção tributária do país, as deficiências da infra-estrutura, o custo de capital elevado, o incentivo ainda insuficiente para a inovação.
 

 
O superávit comercial brasileiro somou US$ 20,3 bilhões (US$ 80,8 milhões de média diária) em 2010, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Esse foi o pior resultado desde 2002 (+US$ 13 bilhões), ou seja, o menor saldo dos oito anos de governo Lula (até então, o menor superávit tinha sido observado em 2003, de US$ 24,8 bilhões) – a despeito do recorde registrado nas exportações (de US$ 202 bilhões, equivalentes a US$ 804,4 milhões diários), já que as importações atingiram, igualmente, a maior cifra da história (US$ 181,6 bilhões ou US$ 723,7 milhões por dia útil). Na comparação com 2009 (superávit de US$ 25,3 bilhões), a queda do saldo foi de 20,1% pelo critério de média diária.

O ano de 2010 se notabilizou pelo espetacular crescimento das importações (de 41,6% frente a 2009 considerando as médias por dia útil), impulsionado pelo dinamismo do mercado interno e pelo patamar apreciado da moeda brasileira. As exportações avançaram, igualmente, numa velocidade considerável (31,4% pelo mesmo critério), mas não tão expressiva (uma diferença de 10,2 pontos percentuais em relação às importações). Se o diferencial de crescimento das compras vis-à-vis as vendas externas persistir, o comércio exterior brasileiro pode se tornar novamente deficitário em 2011, embora consideremos que a probabilidade desse cenário se concretizar ainda seja pequena, sobretudo se os preços das commodities sustentarem a trajetória favorável dos últimos meses.

Foi exatamente essa trajetória que possibilitou a aceleração da taxa de expansão das exportações no último trimestre de 2010 (graças, principalmente, ao resultado muito favorável de dezembro), que atingiu 38,4%, superando aquela das importações (34,1%), ao contrário do observado no acumulado do ano (como destacado acima) e nos três primeiros trimestres, quando as importações expandiram num ritmo bem superior ao das exportações (36,3% contra 25,5% no primeiro trimestre; 51,8% contra 26,8% no segundo; 47% contra 33,1% no terceiro).

 

 
Em suma, a manutenção de um saldo positivo na balança comercial brasileira em 2011 depende de um fator conjuntural, a sustentação das cotações das commodities exportadas pelo Brasil em patamares elevados, que garantiu uma taxa de crescimento de 44,7% dos produtos básicos e de 37% dos semi-manufaturados em 2010. Um resultado negativo não deve ser descartado devido ao imenso déficit que a indústria de transformação vem acumulando desde a saída da crise. Um dos determinantes desse déficit é, exatamente, a perda de dinamismo das exportações de bens manufaturados, cujo ritmo de crescimento foi de somente 17,7% em 2010 (27 p.p. e 19,4 p.p, respectivamente, inferior ao registrado nos básicos e semi-manufaturados). Em contrapartida, as importações de bens de consumo duráveis avançaram 59,2%; as demais categorias de uso nas quais a participação de bens manufaturados é elevada (bens de capital e bens intermediários) também registraram taxas expressivas de crescimento (37,5% e 39,8%, respectivamente). Mesmo uma desvalorização expressiva do real pode não ser suficiente para reverter a forte perda de competitividade desse setor no contexto atual de recuperação frágil das economias avançadas e acirramento da concorrência no mercado mundial de produtos manufaturados (sob a liderança da China).

Resultados Gerais. Em 2010, o saldo comercial atingiu um superávit de US$ 20,3 bilhões (US$ 80,8 milhões de média diária), registrando o menor valor desde 2002, quando registrou total de US$ 13,2 bilhões. Em termos de média diária, houve uma queda de 20,1% frente ao mesmo período. Dos meses de 2010, é importante destacar que janeiro registrou déficit de US$ 177,0 milhões e dezembro obteve o maior superávit do ano (US$ 5,4 bilhões no total e US$ 233,4 milhões diários). Na comparação com novembro, por meio de dados dessazzonalizados pelo IEDI, o saldo diário de dezembro cresceu 40,0%. Frente a dezembro de 2009, quando o saldo acumulou US$ 2,2 bilhões (US$ 98,6 milhões por dia útil), houve alta da média diária de 136,6%.

Exportações. As exportações brasileiras atingiram US$ 20,9 bilhões em dezembro (representando uma média por dia útil de US$ 909,5 milhões). Ao longo das cinco semanas do último mês de 2010, as médias diárias foram de US$ 890,0 milhões, US$ 920,4 milhões, US$ 861,8 milhões, US$ 1.084,2 milhões e US$ 784,4 milhões. Em relação à média de US$ 657,4 milhões, registrada em dezembro de 2009 (US$ 14,5 bilhões no total), houve um avanço de 38,3%. No acumulado do ano, as exportações assinalaram acréscimo de 31,4% comparativamente ao valor observado no acumulado de 2009 (US$ 153,0 bilhões e US$ 612 milhões), totalizando US$ 201,9 bilhões (US$ 804,4 milhões diários).

Importações. A compra de produtos estrangeiros acumulou durante o 12º mês de 2010 US$ 15,5 bilhões, representando uma média por dia útil de US$ 676,1 milhões. Particularmente, os resultados da 2ª e 3ª semanas contribuíram para esse valor (US$ 3,7 bilhões e US$ 3,9 bilhões e médias diárias respectivas de US$ 747,2 milhões e US$ 795,8 milhões). Em comparação a dezembro de 2010 (média diária de US$ 558,8 milhões e US$ 12,3 bilhões em termos absolutos), a variação da média diária foi positiva em 21,0%. No acumulado dos 12 meses de 2010, as importações chegaram a US$ 181,6 bilhões (US$ 723,7 milhões por dia útil), valor diário esse que cresceu em 41,6% frente o resultado referente ao mesmo período do ano passado (média por dia útil de US$ 510,9 milhões e US$ 127,7 bilhões no total).

 

 

 

 

 

 

 

 

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