9 de dezembro de 2010

PIB
Uma economia de serviços


   

 
Os dados divulgados hoje do PIB para o terceiro trimestre de 2010 provocam uma reflexão não somente sobre a atualidade da economia brasileira, mas, sobretudo, acerca de seu futuro. O que os dados do IBGE mostram é que, naquele trimestre, o crescimento do PIB foi diminuto quando comparado com o segundo trimestre deste ano, na série com ajuste sazonal. Chegou a 0,5%, muito pouco, seja na comparação com a evolução dos trimestres anteriores (2,1% no quarto trimestre de 2009 e 1,3% e 1,8%, respectivamente, no primeiro e no segundo trimestres deste ano), seja no cotejo com o período pré-crise, quando o PIB crescia entre 1,6% e 1,8%.

Digno de destaque é o fato de que esse crescimento não decorreu do esmorecimento da demanda doméstica. Pelo contrário, o investimento aumentou 3,9%, em linha com as variações registradas nos dois trimestres anteriores (4,0% e 4,3% no primeiro e segundo trimestres deste ano, nessa ordem), e o consumo das famílias, ao crescer 1,6%, voltou a acelerar, após aumentos de 1,6% no primeiro trimestre de 2010 e de 0,9% no segundo trimestre. Portanto, não faltou demanda para o crescimento brasileiro, mas ela serviu para que outras economias se beneficiassem do mercado intero do País, o que ampliou os horizontes de crescimento dos seus respectivos PIB.

Assim, enquanto nossas exportações cresciam 2,4%, as importações aumentavam 7,4%, reproduzindo no terceiro trimestre de 2010 o descompasso que já se fazia presente no trimestre anterior (variações de 0,1% e 5,9%, respectivamente). O que está em jogo – e é bom que este ponto seja frisado – não é mais uma mera complementação de oferta interna de bens e serviços propiciada pelas importações, o que é, em si, normal em qualquer economia do mundo e é útil para acomodar os ritmos de crescimento da demanda e da oferta. Não é isso que vem ocorrendo. Por trás da grande evolução das importações há um deslocamento da produção doméstica pela produção externa. Se o câmbio valorizado nada tem a ver com isso, o que mais, a curto prazo, poderia deslocar a demanda doméstica?

Evidentemente, não se desloca a produção de serviços, mas a de bens transacionáveis, e a indústria, particularmente, está sendo penalizada nesse processo. No referido crescimento do PIB no terceiro trimestre deste ano, a indústria teve queda de 1,3%, interrompendo uma série de variações positivas observadas em cinco trimestres. Dentre os setores da economia, somente Serviços sustentou uma trajetória de crescimento, evoluindo 1,0%. Se nada for feito, se a valorização cambial não for revertida e/ou outros instrumentos de competitividade (instrumentos creditícios, tributários, melhora da infraestrutura etc.) não entrarem em cena rapidamente, o futuro estará sendo construído, e os últimos dados do PIB antecipam a orientação desse processo: o Brasil caminhará para uma economia de serviços, transferindo sua base industrial gradativamente para o exterior.

É isso o que o País deseja para sua economia? Ela pode dispensar a geração de empregos, tributos, tecnologia, exportação de qualidade que a indústria é capaz de gerar? Outros países somente em etapas muito posteriores de suas estratégias de desenvolvimento admitiram abrir mão do dinamismo industrial como motor de sua transformação na busca pelo desenvolvimento. Uma economia de serviços é, em outras palavras, uma consequência e não causa do desenvolvimento, do qual ainda estamos muito longe.

De resto, cabem algumas qualificações adicionais sobre os resultados do PIB. Primeiro, o desempenho industrial só não foi pior porque a indústria extrativa mineral teve bom desempenho (1,9%). Como se sabe, o Brasil é e será um grande produtor e exportador de commodities minerais, às quais irão se somar a produção e a exportação redobradas do petróleo do Pré-sal. Segundo, não consideramos que seja uma tendência a queda da agropecuária (–1,5%), assim como a redução de 2,3% do valor agregado da construção civil no terceiro trimestre de 2010. Mas, pode, sim, constituir-se em uma tendência futura o desempenho adverso da indústria de transformação, que no terceiro trimestre foi de –1,6%.
   

 
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2010 atingiu os R$ 937,2 bilhões a preços de mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou um incremento de 0,5% frente ao segundo trimestre deste ano. Esse resultado, apesar de positivo, mostra a desaceleração do ritmo de crescimento, visto que foi a menor variação desde o primeiro trimestre de 2009. Frente ao terceiro trimestre de 2009, o PIB brasileiro assinalou alta de 6,7%, variação inferior aos dois trimestres anteriores (1º trimestre de 2010 houve crescimento de 9,3% e no 2º trimestre, de 9,0%). Até setembro de 2010, o PIB brasileiro acumulou um avanço de 8,4%. Nos últimos quatro trimestres frente aos quatro trimestres imediatamente anteriores, houve acréscimo de 7,5%, a terceira variação positiva consecutiva nesta comparação.

Ótica da Oferta. Na comparação do terceiro com o segundo trimestre de 2010 com dados livres dos efeitos da sazonalidade, os Serviços foram o grande destaque, com o aumento de 1,0%, após a elevação de 1,2% no trimestre anterior. A Agropecuária e a Indústria, por outro lado, revelaram quedas na mesma base de comparação. A Indústria caiu 1,3%, após cinco trimestres consecutivos de avanços, sendo que as pressões negativas foram observadas na construção civil (–2,3%) e a indústria de transformação (–1,6%), enquanto a indústria extrativa mineral observou alta (1,9%). A Agropecuária, por sua vez, assinalou decréscimo de 1,5%.

No confronto do 3º trimestre de 2010 contra o mesmo trimestre de 2009, a Indústria se destacou com um crescimento de 8,3%. Dentre seus subsetores, os destaques nessa comparação foram: extrativa mineral (16,6%) e construção civil (9,6%). A atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana também registrou crescimento (8,0%), seguida pela da indústria de transformação (7,1%). Os Serviços tiveram aumento de 4,9%, com todas suas atividades também assinalando avanço: intermediação financeira e seguros (11,4%), comércio atacadista e varejista (9,0%), transporte, armazenagem e correio (7,5%), serviços de informação (4,0%), outros serviços (2,9%), administração, saúde e educação pública (2,3%) e serviços imobiliários e aluguel (1,5%). A Agropecuária registrou acréscimo de 7,0%, graças ao desempenho positivo de alguns produtos como café, trigo, cana-de-açúcar e laranja.

O setor industrial foi o que apresentou a maior taxa positiva no acumulado de 2010 (12,3%). Esse resultado deveu-se às elevações de: extrativa mineral (16,0%), construção civil (13,6%), indústria de transformação (12,5%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (8,8%). Nos serviços (5,7%), todas as atividades registraram elevações, com destaque para o comércio (12,0%), intermediação financeira e seguros (10,4%) e transporte, armazenagem e correio (10,3%). A Agropecuária, por sua vez, acumulou crescimento de 7,8%.

 

 
Ótica da Demanda. Na passagem do 3º para o 2º trimestre de 2010, com dados dessazonalizados, contribuindo para o avanço de 0,5% do PIB, atuou, principalmente, a Formação Bruta de Capital Fixo (3,9%). O consumo das famílias também obteve crescimento, porém com menor vigor (1,6%), enquanto o Consumo do Governo ficou estável nesta base de comparação. No setor externo, as exportações assinalaram alta de 2,4% e as Importações, de 7,4%, evidenciando o descompasso da balança comercial.

Na comparação com o período que englobou os meses de julho a setembro de 2009, o Consumo das Famílias cresceu 5,9%, movimento que se repete a 28 trimestres. O consumo do governo foi outro componente a exibir elevação (4,1%). A Formação Bruta de Capital Fixo, entretanto, foi o maior destaque da demanda interna: crescimento de 21,2%. Do lado externo, as exportações e importações apontaram decréscimo de 11,3% e 40,9%, respectivamente.

No acumulado até setembro de 2010, todos os componentes da demanda interna registraram taxas positivas de variação. A formação Bruta de capital Fixo atingiu crescimento expressivo de 25,6% (a terceira positiva consecutiva de dois dígitos). O consumo das famílias cresceu 6,9%, seguido do consumo do governo (4,1%). No setor externo, as Importações cresceram 39,8%, alta superior a das exportações (10,8%).

Participação no PIB. Pela ótica da oferta, entre o segundo e o terceiro trimestres de 2010, destaca-se o setor Industrial, que partiu de uma participação de 23,0% e chegou a 23,9%. Todos os seus subsetores seguiram essa mesma tendência, com destaque para Indústria extrativa, que partiu de 1,4% no primeiro trimestre para 2,1% no segundo e 2,5% no terceiro. O setor de serviços, o de maior peso no valor total do PIB, manteve-se relativamente estável, obtendo participação de 56,5%. A agropecuária, por sua vez, representou cerca de 5,0% do PIB, comparativamente aos 5,9% registrado no trimestre anterior.

Já, na ótica da demanda, o maior destaque no 3º trimestre é a Formação Bruta de Capital, que obteve aumento de 1,2 p.p. na participação do PIB frente ao 2º trimestre. O maior componente continua sendo o Consumo das Famílias com 60,4% do PIB, seguido pelo Consumo do Governo (19,7%). As Exportações apontaram no 3º trimestre uma participação inferior (11,8%) à das importações (13,1%).


 

 

 

 

 

 

 

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