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Os dados divulgados hoje do PIB para o terceiro trimestre de 2010
provocam uma reflexão não somente sobre a atualidade
da economia brasileira, mas, sobretudo, acerca de seu futuro.
O que os dados do IBGE mostram é que, naquele trimestre,
o crescimento do PIB foi diminuto quando comparado com o segundo
trimestre deste ano, na série com ajuste sazonal. Chegou
a 0,5%, muito pouco, seja na comparação com a evolução
dos trimestres anteriores (2,1% no quarto trimestre de 2009 e
1,3% e 1,8%, respectivamente, no primeiro e no segundo trimestres
deste ano), seja no cotejo com o período pré-crise,
quando o PIB crescia entre 1,6% e 1,8%.
Digno de destaque
é o fato de que esse crescimento não decorreu do
esmorecimento da demanda doméstica. Pelo contrário,
o investimento aumentou 3,9%, em linha com as variações
registradas nos dois trimestres anteriores (4,0% e 4,3% no primeiro
e segundo trimestres deste ano, nessa ordem), e o consumo das
famílias, ao crescer 1,6%, voltou a acelerar, após
aumentos de 1,6% no primeiro trimestre de 2010 e de 0,9% no segundo
trimestre. Portanto, não faltou demanda para o crescimento
brasileiro, mas ela serviu para que outras economias se beneficiassem
do mercado intero do País, o que ampliou os horizontes
de crescimento dos seus respectivos PIB.
Assim, enquanto
nossas exportações cresciam 2,4%, as importações
aumentavam 7,4%, reproduzindo no terceiro trimestre de 2010 o
descompasso que já se fazia presente no trimestre anterior
(variações de 0,1% e 5,9%, respectivamente). O que
está em jogo – e é bom que este ponto seja
frisado – não é mais uma mera complementação
de oferta interna de bens e serviços propiciada pelas importações,
o que é, em si, normal em qualquer economia do mundo e
é útil para acomodar os ritmos de crescimento da
demanda e da oferta. Não é isso que vem ocorrendo.
Por trás da grande evolução das importações
há um deslocamento da produção doméstica
pela produção externa. Se o câmbio valorizado
nada tem a ver com isso, o que mais, a curto prazo, poderia deslocar
a demanda doméstica?
Evidentemente,
não se desloca a produção de serviços,
mas a de bens transacionáveis, e a indústria, particularmente,
está sendo penalizada nesse processo. No referido crescimento
do PIB no terceiro trimestre deste ano, a indústria teve
queda de 1,3%, interrompendo uma série de variações
positivas observadas em cinco trimestres. Dentre os setores da
economia, somente Serviços sustentou uma trajetória
de crescimento, evoluindo 1,0%. Se nada for feito, se a valorização
cambial não for revertida e/ou outros instrumentos de competitividade
(instrumentos creditícios, tributários, melhora
da infraestrutura etc.) não entrarem em cena rapidamente,
o futuro estará sendo construído, e os últimos
dados do PIB antecipam a orientação desse processo:
o Brasil caminhará para uma economia de serviços,
transferindo sua base industrial gradativamente para o exterior.
É isso
o que o País deseja para sua economia? Ela pode dispensar
a geração de empregos, tributos, tecnologia, exportação
de qualidade que a indústria é capaz de gerar? Outros
países somente em etapas muito posteriores de suas estratégias
de desenvolvimento admitiram abrir mão do dinamismo industrial
como motor de sua transformação na busca pelo desenvolvimento.
Uma economia de serviços é, em outras palavras,
uma consequência e não causa do desenvolvimento,
do qual ainda estamos muito longe.
De resto,
cabem algumas qualificações adicionais sobre os
resultados do PIB. Primeiro, o desempenho industrial só
não foi pior porque a indústria extrativa mineral
teve bom desempenho (1,9%). Como se sabe, o Brasil é e
será um grande produtor e exportador de commodities minerais,
às quais irão se somar a produção
e a exportação redobradas do petróleo do
Pré-sal. Segundo, não consideramos que seja uma
tendência a queda da agropecuária (–1,5%),
assim como a redução de 2,3% do valor agregado da
construção civil no terceiro trimestre de 2010.
Mas, pode, sim, constituir-se em uma tendência futura o
desempenho adverso da indústria de transformação,
que no terceiro trimestre foi de –1,6%.
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Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro
trimestre de 2010 atingiu os R$ 937,2 bilhões a preços de
mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou
um incremento de 0,5% frente ao segundo trimestre deste ano. Esse resultado,
apesar de positivo, mostra a desaceleração do ritmo de crescimento,
visto que foi a menor variação desde o primeiro trimestre
de 2009. Frente ao terceiro trimestre de 2009, o PIB brasileiro assinalou
alta de 6,7%, variação inferior aos dois trimestres anteriores
(1º trimestre de 2010 houve crescimento de 9,3% e no 2º trimestre,
de 9,0%). Até setembro de 2010, o PIB brasileiro acumulou um avanço
de 8,4%. Nos últimos quatro trimestres frente aos quatro trimestres
imediatamente anteriores, houve acréscimo de 7,5%, a terceira variação
positiva consecutiva nesta comparação.
Ótica
da Oferta. Na comparação do terceiro com o segundo
trimestre de 2010 com dados livres dos efeitos da sazonalidade, os Serviços
foram o grande destaque, com o aumento de 1,0%, após a elevação
de 1,2% no trimestre anterior. A Agropecuária e a Indústria,
por outro lado, revelaram quedas na mesma base de comparação.
A Indústria caiu 1,3%, após cinco trimestres consecutivos
de avanços, sendo que as pressões negativas foram observadas
na construção civil (–2,3%) e a indústria de
transformação (–1,6%), enquanto a indústria
extrativa mineral observou alta (1,9%). A Agropecuária, por sua
vez, assinalou decréscimo de 1,5%.
No confronto do 3º
trimestre de 2010 contra o mesmo trimestre de 2009, a Indústria
se destacou com um crescimento de 8,3%. Dentre seus subsetores, os destaques
nessa comparação foram: extrativa mineral (16,6%) e construção
civil (9,6%). A atividade de eletricidade e gás, água, esgoto
e limpeza urbana também registrou crescimento (8,0%), seguida pela
da indústria de transformação (7,1%). Os Serviços
tiveram aumento de 4,9%, com todas suas atividades também assinalando
avanço: intermediação financeira e seguros (11,4%),
comércio atacadista e varejista (9,0%), transporte, armazenagem
e correio (7,5%), serviços de informação (4,0%),
outros serviços (2,9%), administração, saúde
e educação pública (2,3%) e serviços imobiliários
e aluguel (1,5%). A Agropecuária registrou acréscimo de
7,0%, graças ao desempenho positivo de alguns produtos como café,
trigo, cana-de-açúcar e laranja.
O setor industrial
foi o que apresentou a maior taxa positiva no acumulado de 2010 (12,3%).
Esse resultado deveu-se às elevações de: extrativa
mineral (16,0%), construção civil (13,6%), indústria
de transformação (12,5%) e eletricidade e gás, água,
esgoto e limpeza urbana (8,8%). Nos serviços (5,7%), todas as atividades
registraram elevações, com destaque para o comércio
(12,0%), intermediação financeira e seguros (10,4%) e transporte,
armazenagem e correio (10,3%). A Agropecuária, por sua vez, acumulou
crescimento de 7,8%.
Ótica
da Demanda. Na passagem do 3º para o 2º trimestre de
2010, com dados dessazonalizados, contribuindo para o avanço de
0,5% do PIB, atuou, principalmente, a Formação Bruta de
Capital Fixo (3,9%). O consumo das famílias também obteve
crescimento, porém com menor vigor (1,6%), enquanto o Consumo do
Governo ficou estável nesta base de comparação. No
setor externo, as exportações assinalaram alta de 2,4% e
as Importações, de 7,4%, evidenciando o descompasso da balança
comercial.
Na comparação
com o período que englobou os meses de julho a setembro de 2009,
o Consumo das Famílias cresceu 5,9%, movimento que se repete a
28 trimestres. O consumo do governo foi outro componente a exibir elevação
(4,1%). A Formação Bruta de Capital Fixo, entretanto, foi
o maior destaque da demanda interna: crescimento de 21,2%. Do lado externo,
as exportações e importações apontaram decréscimo
de 11,3% e 40,9%, respectivamente.
No acumulado até
setembro de 2010, todos os componentes da demanda interna registraram
taxas positivas de variação. A formação Bruta
de capital Fixo atingiu crescimento expressivo de 25,6% (a terceira positiva
consecutiva de dois dígitos). O consumo das famílias cresceu
6,9%, seguido do consumo do governo (4,1%). No setor externo, as Importações
cresceram 39,8%, alta superior a das exportações (10,8%).
Participação
no PIB. Pela ótica da oferta, entre o segundo e o terceiro trimestres
de 2010, destaca-se o setor Industrial, que partiu de uma participação
de 23,0% e chegou a 23,9%. Todos os seus subsetores seguiram essa mesma
tendência, com destaque para Indústria extrativa, que partiu
de 1,4% no primeiro trimestre para 2,1% no segundo e 2,5% no terceiro.
O setor de serviços, o de maior peso no valor total do PIB, manteve-se
relativamente estável, obtendo participação de 56,5%.
A agropecuária, por sua vez, representou cerca de 5,0% do PIB,
comparativamente aos 5,9% registrado no trimestre anterior.
Já, na ótica
da demanda, o maior destaque no 3º trimestre é a Formação
Bruta de Capital, que obteve aumento de 1,2 p.p. na participação
do PIB frente ao 2º trimestre. O maior componente continua sendo
o Consumo das Famílias com 60,4% do PIB, seguido pelo Consumo do
Governo (19,7%). As Exportações apontaram no 3º trimestre
uma participação inferior (11,8%) à das importações
(13,1%).
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