2 de dezembro de 2010

Indústria
Sem abrangência e sem firmeza


  

 
Sem abrangência e sem firmeza, o crescimento de 0,4% da indústria brasileira em outubro de 2010 com relação a setembro com ajuste sazonal é uma mera ilusão de ótica. Mais ilusórios são os aumentos de 11,8% da produção industrial registrados tanto no acumulado dos dez primeiros meses deste ano como nos últimos doze meses encerrados em outubro (neste caso, um recorde histórico), os quais refletem nada mais do que o início de ano de 2010 pujante vivido pela indústria e uma base de comparação baixa devido à crise, como foi o ano de 2009. Ainda que esse aparentemente formidável desempenho seja real, ele somente aparece quando olhado pelo retrovisor.

Muito mais relevante para configurar a força ou a fraqueza do processo industrial brasileiro na atualidade é a comparação da produção com uma base mais avantajada, como foi a de outubro do ano passado. Nesse confronto, o crescimento de apenas 2,1% da produção é indicativo da fragilidade de um curso industrial que se vê abatido por uma série de fatores relativos à competitividade sistêmica e cambial.

O que mais chama a atenção nos resultados divulgados hoje pelo IBGE é que a já referida evolução de 0,4% em outubro só foi possível devido ao crescimento da produção de bens duráveis, a qual foi puxada por segmentos que vêm apresentando marcantes oscilações em suas recentes performances, como é o caso de automóveis (segundo dados do IBGE, o segmento de veículos automotores teve a seguinte evolução de abril a outubro deste ano: –1,8%, 1,5%, –0,9%, 3,7%, 1,3%, –0,8% e 1,6%, nessa ordem). Em todos os demais grandes setores da indústria, a produção caiu.

Dos resultados negativos, destacam-se dois setores que merecem toda atenção e preocupação. O primeiro é o de bens intermediários, no qual reside a maior penetração das importações e que, prosseguindo a tendência atual, tornará cada vez mais oca a estrutura industrial brasileira. Não é necessário avançar muito na análise dos dados desse setor para perceber que, devido às importações, ele vem encolhendo. No período de maio a outubro, a variação da produção de bens intermediários apresentou a seguinte trajetória: 0,0%, –0,6%, 0,7%, –1,4%, –0,2%, –0,1%, nessa ordem (variação mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal).

O segundo é o setor de bens de capital, sobre o qual a ilusão de ótica acima referida paira de forma mais flagrante. Nesse caso, o crescimento acumulado nos dez primeiros meses de 2010 alcança nada menos do que 24,0%. Mas, basta olhar os últimos meses para que a suspeita de mudança radical de dinamismo desse setor não deixe de ser seriamente considerada: 0,1%, –2,1%, 0,1%, 0,0%, –2,6%, –0,2%, respectivamente, de maio a outubro (variação mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal).

Como não há evidência alguma de estancamento do ímpeto com que evolui o investimento no País e como as importações de bens de capital seguem crescendo vigorosamente, aqui também não há como escapar da interpretação de que as importações vão tomando lugar da produção doméstica de bens de investimento.
 

 
A produção industrial brasileira registrou alta de 0,4% em outubro frente a setembro na série livre de efeitos sazonais, após ter registrado estabilidade nos dois meses anteriores (em agosto, a variação foi de –0,1% e em setembro, de +0,1%). Frente ao mesmo mês de 2009, o setor ainda galga variações positivas (2,1%), porém foi o menor avanço nesta comparação desde outubro de 2009. No acumulado entre janeiro e outubro, a indústria obteve acréscimo de 11,8%, mesma variação dos últimos 12 meses.

A produção recuou em todas as categorias de uso no mês de outubro frente a setembro na série com ajuste sazonal, exceto em bens de consumo duráveis, cujo produto aumentou 2,8%. Na comparação com mesmo mês do ano anterior, entretanto, os bens duráveis foram a única categoria a registrar queda (–4,9%), pressionados pela menor produção em automóveis e eletrodomésticos. No acumulado do ano até outubro, os bens duráveis assinalaram crescimento de 11,3% e, nos últimos 12 meses, a expansão foi de 15,4%, a maior dentre as categorias de uso.

O setor de Bens de Capital registrou queda de 0,2% na comparação mês/ mês anterior na série livre de efeitos sazonais. Em relação a outubro de 2009, porém, o setor assinalou uma alta de 6,0%, a maior variação entre as categorias de uso. Esse resultado positivo deveu-se a bens de capital para transporte (15,8%), para uso industrial (25,3%), para construção (29,0%) e agrícola (19,4%). Nas comparações acumuladas, as variações foram iguais a 24,0% no ano e 21,1% nos últimos 12 meses.

 

 
A categoria de Bens Intermediários registrou relativa estabilidade do nível de produção na passagem setembro/ outubro, descontados os efeitos sazonais, ao assinalar decréscimo de 0,1%. Na comparação mensal (outubro de 2010 contra outubro de 2009), a categoria registrou crescimento de 3,2%, a menor alta desde outubro de 2009, quando assinalou queda de 2,4%. No acumulado do ano, houve crescimento de 12,9% e no acumulado dos últimos doze meses, a variação foi de 12,8%.

Os Bens de Consumo Semiduráveis e Não-Duráveis obtiveram pequeno recuo de 0,1% na série dessazonalizada, comparativamente a estabilidade observada no mês anterior. Na comparação com mesmo mês do ano anterior, o segmento assinalou avanço de produção de 1,5%. Entre os meses de janeiro e outubro de 2010, a produção de bens desta categoria cresceu 5,9% e no acumulado dos últimos doze meses, 5,6%.

Entre os meses de setembro e outubro, na série com ajustamento sazonal, das 27 atividades pesquisadas pelo IBGE, 12 apresentaram expansão no nível de atividade industrial. As maiores pressões positivas estiveram nos ramos de farmacêutica (4,9%), outros produtos químicos (2,9%), veículos automotores (1,6%), produtos de metal (5,3%), metalurgia básica (2,7%) e outros equipamentos de transporte (6,0%). Por outro lado, as principais influências negativas vieram de edição e impressão (–12,2%), alimentos (–2,1%), indústrias extrativas (–2,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–3,7%) e têxtil (–3,1%).

Na comparação entre outubro de 2010 e outubro de 2009, dentre os 17 segmentos que obtiveram acréscimo, destacam-se veículos automotores (7,4%), máquinas e equipamentos (9,0%), indústrias extrativas (8,6%), produtos de metal (12,7%), outros produtos químicos (4,4%), equipamentos médico-hospitalares, ópticos e outros (22,1%) e minerais não metálicos (4,9%). Por outro lado, os impactos negativos mais relevantes vieram de material eletrônico e equipamentos de comunicações (–20,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (–10,6%), alimentos (–1,8%) e têxtil (–6,9%).

No acumulado entre janeiro e outubro do presente ano contra os mesmos dez meses de 2009, foi verificado a expansão da produção industrial em 25 atividades. As maiores contribuições foram obtidas em veículos automotores (26,7%), máquinas e equipamentos (29,2%), metalurgia básica (21,5%), outros produtos químicos (11,4%), produtos de metal (26,8%) e indústrias extrativas (13,9%). As duas influências negativas vieram dos setores de produtos do fumo (–9,3%) e de outros equipamentos de transporte (–2,7%).

 

 

 

 

 

 

 

 

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