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Sem abrangência e sem firmeza, o crescimento de 0,4% da
indústria brasileira em outubro de 2010 com relação
a setembro com ajuste sazonal é uma mera ilusão
de ótica. Mais ilusórios são os aumentos
de 11,8% da produção industrial registrados tanto
no acumulado dos dez primeiros meses deste ano como nos últimos
doze meses encerrados em outubro (neste caso, um recorde histórico),
os quais refletem nada mais do que o início de ano de 2010
pujante vivido pela indústria e uma base de comparação
baixa devido à crise, como foi o ano de 2009. Ainda que
esse aparentemente formidável desempenho seja real, ele
somente aparece quando olhado pelo retrovisor.
Muito mais
relevante para configurar a força ou a fraqueza do processo
industrial brasileiro na atualidade é a comparação
da produção com uma base mais avantajada, como foi
a de outubro do ano passado. Nesse confronto, o crescimento de
apenas 2,1% da produção é indicativo da fragilidade
de um curso industrial que se vê abatido por uma série
de fatores relativos à competitividade sistêmica
e cambial.
O que mais
chama a atenção nos resultados divulgados hoje pelo
IBGE é que a já referida evolução
de 0,4% em outubro só foi possível devido ao crescimento
da produção de bens duráveis, a qual foi
puxada por segmentos que vêm apresentando marcantes oscilações
em suas recentes performances, como é o caso de automóveis
(segundo dados do IBGE, o segmento de veículos automotores
teve a seguinte evolução de abril a outubro deste
ano: –1,8%, 1,5%, –0,9%, 3,7%, 1,3%, –0,8% e
1,6%, nessa ordem). Em todos os demais grandes setores da indústria,
a produção caiu.
Dos resultados
negativos, destacam-se dois setores que merecem toda atenção
e preocupação. O primeiro é o de bens intermediários,
no qual reside a maior penetração das importações
e que, prosseguindo a tendência atual, tornará cada
vez mais oca a estrutura industrial brasileira. Não é
necessário avançar muito na análise dos dados
desse setor para perceber que, devido às importações,
ele vem encolhendo. No período de maio a outubro, a variação
da produção de bens intermediários apresentou
a seguinte trajetória: 0,0%, –0,6%, 0,7%, –1,4%,
–0,2%, –0,1%, nessa ordem (variação
mês contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal).
O segundo
é o setor de bens de capital, sobre o qual a ilusão
de ótica acima referida paira de forma mais flagrante.
Nesse caso, o crescimento acumulado nos dez primeiros meses de
2010 alcança nada menos do que 24,0%. Mas, basta olhar
os últimos meses para que a suspeita de mudança
radical de dinamismo desse setor não deixe de ser seriamente
considerada: 0,1%, –2,1%, 0,1%, 0,0%, –2,6%, –0,2%,
respectivamente, de maio a outubro (variação mês
contra mês imediatamente anterior com ajuste sazonal).
Como não
há evidência alguma de estancamento do ímpeto
com que evolui o investimento no País e como as importações
de bens de capital seguem crescendo vigorosamente, aqui também
não há como escapar da interpretação
de que as importações vão tomando lugar da
produção doméstica de bens de investimento.
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A produção industrial brasileira registrou alta de 0,4%
em outubro frente a setembro na série livre de efeitos sazonais,
após ter registrado estabilidade nos dois meses anteriores (em
agosto, a variação foi de –0,1% e em setembro, de
+0,1%). Frente ao mesmo mês de 2009, o setor ainda galga variações
positivas (2,1%), porém foi o menor avanço nesta comparação
desde outubro de 2009. No acumulado entre janeiro e outubro, a indústria
obteve acréscimo de 11,8%, mesma variação dos últimos
12 meses.
A produção
recuou em todas as categorias de uso no mês de outubro frente a
setembro na série com ajuste sazonal, exceto em bens de consumo
duráveis, cujo produto aumentou 2,8%. Na comparação
com mesmo mês do ano anterior, entretanto, os bens duráveis
foram a única categoria a registrar queda (–4,9%), pressionados
pela menor produção em automóveis e eletrodomésticos.
No acumulado do ano até outubro, os bens duráveis assinalaram
crescimento de 11,3% e, nos últimos 12 meses, a expansão
foi de 15,4%, a maior dentre as categorias de uso.
O setor de Bens de
Capital registrou queda de 0,2% na comparação mês/
mês anterior na série livre de efeitos sazonais. Em relação
a outubro de 2009, porém, o setor assinalou uma alta de 6,0%, a
maior variação entre as categorias de uso. Esse resultado
positivo deveu-se a bens de capital para transporte (15,8%), para uso
industrial (25,3%), para construção (29,0%) e agrícola
(19,4%). Nas comparações acumuladas, as variações
foram iguais a 24,0% no ano e 21,1% nos últimos 12 meses.
A categoria de Bens
Intermediários registrou relativa estabilidade do nível
de produção na passagem setembro/ outubro, descontados os
efeitos sazonais, ao assinalar decréscimo de 0,1%. Na comparação
mensal (outubro de 2010 contra outubro de 2009), a categoria registrou
crescimento de 3,2%, a menor alta desde outubro de 2009, quando assinalou
queda de 2,4%. No acumulado do ano, houve crescimento de 12,9% e no acumulado
dos últimos doze meses, a variação foi de 12,8%.
Os Bens de Consumo Semiduráveis e Não-Duráveis obtiveram
pequeno recuo de 0,1% na série dessazonalizada, comparativamente
a estabilidade observada no mês anterior. Na comparação
com mesmo mês do ano anterior, o segmento assinalou avanço
de produção de 1,5%. Entre os meses de janeiro e outubro
de 2010, a produção de bens desta categoria cresceu 5,9%
e no acumulado dos últimos doze meses, 5,6%.
Entre os meses de
setembro e outubro, na série com ajustamento sazonal, das 27 atividades
pesquisadas pelo IBGE, 12 apresentaram expansão no nível
de atividade industrial. As maiores pressões positivas estiveram
nos ramos de farmacêutica (4,9%), outros produtos químicos
(2,9%), veículos automotores (1,6%), produtos de metal (5,3%),
metalurgia básica (2,7%) e outros equipamentos de transporte (6,0%).
Por outro lado, as principais influências negativas vieram de edição
e impressão (–12,2%), alimentos (–2,1%), indústrias
extrativas (–2,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos
(–3,7%) e têxtil (–3,1%).
Na comparação
entre outubro de 2010 e outubro de 2009, dentre os 17 segmentos que obtiveram
acréscimo, destacam-se veículos automotores (7,4%), máquinas
e equipamentos (9,0%), indústrias extrativas (8,6%), produtos de
metal (12,7%), outros produtos químicos (4,4%), equipamentos médico-hospitalares,
ópticos e outros (22,1%) e minerais não metálicos
(4,9%). Por outro lado, os impactos negativos mais relevantes vieram de
material eletrônico e equipamentos de comunicações
(–20,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos
(–10,6%), alimentos (–1,8%) e têxtil (–6,9%).
No acumulado entre
janeiro e outubro do presente ano contra os mesmos dez meses de 2009,
foi verificado a expansão da produção industrial
em 25 atividades. As maiores contribuições foram obtidas
em veículos automotores (26,7%), máquinas e equipamentos
(29,2%), metalurgia básica (21,5%), outros produtos químicos
(11,4%), produtos de metal (26,8%) e indústrias extrativas (13,9%).
As duas influências negativas vieram dos setores de produtos do
fumo (–9,3%) e de outros equipamentos de transporte (–2,7%).
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